Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos.
As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
No aeroporto o menino perguntou: – E se o avião
tropicar num passarinho? O pai ficou torto e não respondeu. O menino perguntou
de novo: – E se o avião tropicar num passarinho triste? A mãe teve ternuras e
pensou: será que os despropósitos não são mais carregados de poesia do que o
bom senso? Ao sair do sufoco o pai refletiu: – Com certeza, a liberdade e a
poesia a gente aprende com as crianças. E ficou sendo (Barros, 1999, p. 469).
Brincadeiras
Manoel de Barros
No quintal a gente gostava de brincar com as
palavras
mais do que de bicicleta.
Principalmente porque ninguém possuía bicicleta.
A gente brincava de palavras descomparadas. Tipo assim: O céu tem três letras
O sol tem três letras
O inseto é maior.
O que parecia um despropósito
para nós não era despropósito.
Porque o inseto tem seis letras e o sol só tem três
logo o inseto é maior. (Aqui entrava a lógica?)
Meu irmão que era estudado falou quê lógica quê nada
Isso é um sofisma. A gente boiou no sofisma.
Ele disse que sofisma é risco n'água. Entendemos tudo.
Depois Cipriano falou:
Mais alto do que eu só Deus e os passarinhos.
A dúvida era saber se Deus também avoava
Ou se Ele está em toda parte como a mãe ensinava.
Cipriano era um indiozinho guató que aparecia no
quintal, nosso amigo. Ele obedecia a desordem.
Nisso apareceu meu avô.
Ele estava diferente e até jovial.
Contou-nos que tinha trocado o Ocaso dele por duas andorinhas.
A gente ficou admirado daquela troca.
Mas não chegamos a ver as andorinhas.
Outro dia a gente destampamos a cabeça do Cipriano.
Lá dentro só tinha árvore árvore árvore
Nenhuma idéia sequer.
Falaram que ele tinha predominâncias vegetais do que platônicas.
Isso era.
MANOEL DE BARROS, EM MEMÓRIAS INVENTADAS: A
INFÂNCIA
“ (...) verifica-se que o texto literário não se
limita a descrever o mundo ao qual se refere. A ficção elaborada por Manoel de
Barros, ao afastar-se das normas tradicionais da linguagem, parece criar uma
realidade que ganha existência e diz o mundo. Em outras palavras, reconhece-se
que o poeta opera com recursos inusitados da linguagem, imprimindo-lhe
contornos literários e filosóficos por meio da transgressão em relação aos
padrões convencionais da narrativa. Isto posto, trata-se, com Manoel de Barros,
de acompanhar uma narrativa híbrida, entre prosa e poesia, que força a
linguagem a se voltar para um movimento sobre si mesma, a transgredir. (...)”
Brincadeiras
No quintal a gente gostava de brincar com palavras
mais do que de bicicleta. Principalmente porque ninguém possuía bicicleta. A
gente brincava de palavras descomparadas. Tipo assim: O céu tem três letras, o
sol tem três letras, o inseto é maior. O que parecia um despropósito. Para nós
não era despropósito. Porque o inseto tem seis letras e o sol só tem três. Logo
o inseto é maior. (Aqui entrava a lógica?). Meu irmão que era estudado falou
quê lógica quê nada. Isso é um sofisma. A gente boiou no sofisma. Ele disse que
sofisma é risco n’água. Entendemos tudo (Barros, 2003, s.p.).
Infância:
entre história e “despropósitos”
Um livro, uma página de livro apenas, por menos
ainda, uma simples gravura em um exemplar antigo, herdado talvez da mãe ou da
avó, poderá fertilizar o terreno no qual a primeira e delicada raiz desse
impulso começa a se desenvolver (Benjamin, 1984, p. 48).
“(...) a realidade deve ser lida nos mínimos
detalhes, nos pequenos gestos, pois o fragmento o todo contém, sendo a
possibilidade de sua apreensão o instante de um relâmpago. Considerando uma
bela imagem escrita pelo filósofo, lembro que: (...)”
Quem pretende se aproximar do próprio passado deve
agir como um homem que escava. Antes de tudo, não deve temer voltar sempre ao
mesmo fato, espalhá-lo como se espalha a terra, revolvê-lo como se revolve o
solo. Os fatos nada são além de camadas que apenas à exploração mais cuidadosa
entregam aquilo que recompensa a escavação. E se ilude, privando-se do melhor,
quem só faz o inventário dos achados e não sabe assimilar no terreno de hoje o
lugar no qual é conservado o velho (Benjamin, 1987, p. 239).
Literatura
e infância: entre filosofia, história e “despropósitos” Márcia Cabral da Silva1
A literatura pode ser definida como exercício
criativo que ocorre por intermédio da palavra. Trata-se da possibilidade de
transfiguração do real em matéria fictícia. Nesta chave, retoma-se a esfera
criativa que dialoga com o estranhamento, com a indagação e, por assim dizer,
com a dimensão filosófica da linguagem.
Benjamin (1984, 1987) já tratava em seus ensaios dos
livros infantis e questionava a função instrumental que adquiriram nas
sociedades industrializadas. Tecia severa crítica em relação à utilidade dos
livros ficcionais infantis, ao empobrecimento das ilustrações, de um lado. De
outro, apontava a inexorável aproximação dos livros infantis das gramáticas
orientadas pelos pedagogos. Todavia, os seus escritos convidariam, por outro
viés, à indagação: como reencontrar o caráter artesanal de um objeto que
passara a responder ao pragmatismo, à utilidade de todas as coisas, tal como os
demais objetos que deveriam atender em primeiro lugar a uma lógica da produção
no desenvolvimento das sociedades capitalistas? Nesse sentido, o caráter
artístico e o convite à imaginação criadora haviam sido transferidos a um
segundo plano?
Em uma chave semelhante, Vygotsky (1987) apontava
para a importância da imaginação e da arte no período que se convencionou
denominar infância. Segundo o autor, fantasia e realidade consistiriam em
dimensões complementares, e não polos excludentes, como se costuma indicar na
educação das crianças. Ademais, segundo essa linha de consideração, na vida
diária, seria possível exercitar plenamente a imaginação criadora.
Neste artigo, retomam-se algumas dessas reflexões no
âmbito da relação entre literatura e infância. Se a experiência e a história
são derivadas da fratura entre a infância do homem e a emergência da linguagem,
na perspectiva filosófica indicada por Agamben (2005), como essa fratura
ocorreria na literatura? Em que condições a linguagem literária permitiria
ascender à história e à experiência? Essas são algumas questões gerais sobre as
quais se busca refletir neste estudo. Trata-se de pensar sobre a dimensão
filosófica da linguagem em diálogo com obras literárias contemporâneas que
trazem ao primeiro plano a infância. De um lado, desenvolve-se uma reflexão
sobre a relação ficção e infância, com especial acento na produção
protagonizada por personagens crianças. De outro, ressalta-se a análise de
estratégias literárias capazes de causar estranhamento em relação ao caráter
descritivo e comunicativo da linguagem cotidiana. Com vistas a desenvolver o
estudo, privilegiam-se as seguintes obras: Exercícios de ser criança (1999) e
Memórias inventadas: a infância (2003), de Manoel de Barros.
1 Doutora em
teoria e história literária e professora da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: marciacs@ism.com.br
Guató
Jovem
Guató, atravessando de canoa a baía Uberaba. Foto: Suki Ozaki, 2006
Os Guató, considerados o povo do Pantanal por
excelência, ocupavam praticamente toda a região sudoeste do Mato Grosso,
abarcando terras que hoje pertencem àquele estado, ao estado de Mato Grosso do
Sul e à Bolívia. Podiam ser encontrados nas ilhas e ao longo das margens do rio
Paraguai, desde as proximidades de Cáceres até a região do Caracará, passando
pelas lagoas Gaíba e Uberaba e, na direção leste, às margens do rio São
Lourenço. No interior deste vasto território sua presença foi registrada desde
o século XVI por viajantes e cronistas.
MARTINS,
Maria Helena. O que é leitura.
Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense,
2003.
Já no início, a autora busca ampliar o conceito de
leitura que está muito limitado à decodificação de palavras, pois o leitor, no
seu sentido mais amplo, surge muito antes de aprender a decodificar as palavras
escritas, uma vez que as coisas que nos rodeiam podem ser lidas, como por
exemplo: os gestos, os sons, alguns objetos em diferentes contextos, etc. Para
fazer essas leituras não há necessidade de a pessoa estar ou ser alfabetizada,
basta interpretar e dar algum sentido ou significado ao que a cerca. Rita de
Cássia Garcia Silva COELHO
Aécio Neves vira réu no STF por corrupção e
obstrução da Lava Jato
Agora
sou a prova viva de que nada nessa vida
É pra sempre até que prove o contrário
Paula
Fernandes
Poder
instrutório do juiz: a busca da verdade real no novo CPC
Mote velho em discussão sob a égide do novo CPC.
Publicado por Éverton Raphael Motta Reduit
No Direito Processual brasileiro, o juiz deve buscar
a verdade real, isto é, procurar conhecer os fatos tão como, efetivamente,
ocorreram, a fim de, assim, dizer o direito à questão posta em causa. Visa-se,
em verdade, a prestação de uma tutela jurisdicional adequada, a resposta
jurisdicional à demanda de forma efetiva e qualificada, não podendo o juiz ser
mero espectador durante o trâmite da ação judicial, podendo-se valer dos
poderes instrutórios concedidos pela legislação, de modo que possam ser
aclarados os fatos controvertidos e, desse modo, de forma qualificada e
equânime, ser dito o Direito.
Consoante Marinoni, Arenhart e Mitidiero, na obra “O
Novo Processo Civil”, publicado pela Revista dos Tribunais, São Paulo-SP, 2015,
“o juiz tem o poder – de acordo com o sistema do Código
de Processo Civil brasileiro –, quando os fatos não lhe
parecerem esclarecidos, de determinar a prova de ofício, independentemente de
requerimento da parte ou de quem quer que seja que participe do processo, ou
ainda quando estes outros sujeitos já não têm mais a oportunidade processual
para formular esse requerimento.” (pag. 269). Asseveram, outrossim, que
“se o processo existe para a tutela dos direitos, deve-se conceder ao
magistrado amplos poderes probatórios para que possa cumprir sua tarefa” (pags.
269/270).
Por sua vez, Trícia Navarro Xavier, no artigo “O
‘Ativismo’ do Juiz em Tema de Prova”, publicado pela Revista do Processo, vol.
159/2008, da Revista dos Tribunais, deixa claro que o poder instrutório do juiz
não viola a imparcialidade, pois, ao determinar a produção da prova, o
magistrado não conhece o seu resultado, logo, não tem ciência, a priori,
de quem a prova beneficiária. Ressalta que, sendo necessária a prova, não a
determinando, prejudicando, assim, uma das partes, poder-se-á falar em
parcialidade, porém, valer-se do seu poder instrutório não perfectibiliza
qualquer violação à imparcialidade que deve pautar o julgador.
Por conseguinte, forte no princípio da verdade real,
bem como com a finalidade precípua do Poder Judiciário de exercer o seu múnus
público – dizer o direito de forma qualificada –, quando julgar necessário
esclarecer os fatos para o julgamento da demanda, o juiz poderá determinar a
realização de provas no processo ex officio.
Verifica-se que os poderes instrutórios do juiz são
subsidiários. Primeiramente, as partes, na fase postulatória, indicam as provas
que serão produzidas para provarem os fatos que sustentam e já apresentam a
prova documental – pelo autor em anexo à exordial e pelo réu em anexo à
contestação – e, após encerrada a fase postulatória, o juiz oportuniza às
partes a formulação do pedido de provas de provas – pericial, inspeção
judicial, depoimento pessoal da parte adversa, oitiva de testemunha, entre
outras. Realizadas e produzidas as provas postuladas pelas partes – que sejam
úteis e não sejam protelatórias –, (i) não sendo suficientes para esclarecer os
fatos discutidos na demanda, ou (ii) não postulada pelas partes provas
necessárias ao deslinde do feito, o juiz ex officio pode determinar
as provas que são necessárias para julgar o caso, podendo, por exemplo, ouvir
testemunha não arrolada, realizar inspeção judicial, determinar prova pericial,
etc.
Nesse diapasão, o juiz não é apenas mais o
destinatário da prova, mas também tem papel ativo no que tange à produção
probatória, podendo, quando julgar necessário, determinar, de oficio, a
produção de provas.
Nesse contexto, inclusive, o juiz pode ouvir
testemunhas arroladas mesmo que intempestivamente pela parte interessada. Sendo
necessária a oitiva de testemunha arrolada de forma intempestiva, deverão ser
ouvidas pelo juiz, sob pena de cerceamento de defesa e de ser exarada sentença
nula. Somente se a oitiva da testemunha for desnecessária para a solução do
litígio, poderá ser indeferida pelo i. Julgador, de forma fundamentada, mas não
pela intempestividade do arrolamento do rol de testemunhas. Interessante citar,
inclusive, Marinoni, Arenhart e Mitidiero, in verbis:
Caso tenha sido determinada a produção de prova
testemunhal, o juiz fixará prazo comum não superior a quinze dias para que as
partes apresentem rol de testemunhas (art. 357, § 4.º). Tendo havido designação
de audiência para organização do processo, as partes têm de nela consignar o
rol de testemunhas (art. 357, § 5.º). Contudo, haja vista a necessidade de
abrir o processo para o maior acervo probatório possível, com o que se
incrementa a busca pela verdade das alegações de fato e a possibilidade de
produzir uma decisão justa, dificilmente pode se entender que a ausência de
apresentação de rol em audiência gera preclusão do direito de produzir prova
testemunhal.[1]
De outra banda, os princípios processuais sempre
incidem e devem ser harmonizados aos casos postos em causa. Diante do caso
concreto, pode ser necessário harmonizar princípios aplicáveis ao Processo
Civil, preponderando um princípio naquele caso, mas com certa limitação pelos
demais princípios incidentes. Como destaca Norberto Bobbio, diferentemente das
regras processuais, em que uma exclui a aplicação da outra ao caso posto em
causa, os princípios não se excluem, sendo ponderáveis e harmonizados,
preponderando, no caso concreto, um princípio mais que outro, um princípio com
certas limitações impostas pelos demais. Nessa toada, o juiz têm poderes
instrutórios, no entanto, devem estes ser compatibilizados com outras normas
processuais, sob pena de ser perfectibilizado error in procedendo, como
destaca Trícia Navarro Xavir, e serem proferidas sentenças nulas, na obra acima
referida – “O ‘Ativismo’ do Juiz em tema de prova”.
Nessa senda, o princípio da demanda, a paridade de
armas, o princípio do contraditório e da ampla defesa, a delimitação do objeto
litigioso, o princípio da carga dinâmica das provas, entre outros, devem ser
observados pelo julgador, quando da sua utilização do poder instrutório.
O juiz considerando necessário esclarecer um fato
controvertido relevante ao deslinde do feito, por exemplo, deve observar o
princípio da igualdade de armas, isto é, que às partes é assegurada a igualdade
de tratamento no processo e de mecanismos processuais para tutelarem suas pretensões
forte na isonomia processual, sendo vedadas as decisões surpresas – art. 9º do CPC/2015 –,
bem como determinações pelo juiz que violem a igualdade processual dos
litigantes.
De outra banda, o juiz ao determinar a realização de
provas, deve observar as regras esculpidas no art. 373 do CPC/2015,
bem como, em caso de inversão do ônus da prova, deve observar os requisitos
exigidos para tanto – art. 373, §§ 1ºe 2º, do CPC/15 –,
não podendo, por exemplo, a decisão que inverteu o ônus da prova ser destituída
de fundamentação e estabelecer prova diabólica – impossível da parte se
desincumbir da sua produção.
Outro princípio relevante a ser observado pelo
julgador diz respeito ao princípio da demanda. Com efeito, a regra geral é de
que o processo é iniciado por iniciativa das partes e desenvolve-se por impulso
processual. Logo, uma vez que o processo se desenvolve por impulso processual e
deve o juiz dizer o direito ao caso concreto, prestando a tutela jurisdicional
de forma qualificada, os poderes instrutórios pelo juiz não acarretam violação
ao princípio da demanda, pois não enseja que o juiz, de ofício, deflagre o
processo (inércia da jurisdição), bem como, por óbvio, as provas determinadas
pelo julgador devem observar os contornos da demanda estabelecido pelas partes,
sendo vedado ao juiz julgar questões não suscitadas pelas partes, a cujo
respeito a lei exija iniciativa dos litigantes, sob pena de nulidade da
decisão extra, ultra ou citra pretita, forte no art. 140 do CPC/15.
Com efeito, deflagrada a lide por iniciativa da
parte e delimitada a demanda na fase postulatória, o objeto litigioso, o juiz
poderá determinar as provas necessárias para esclarecer os fatos relevantes
para julgar o mérito nos limites propostos pelas partes. Portanto, sob pena de
incorrer em error in procedendo e, também, de exarar decisão nula, o
juiz não determinará provas de fatos que não guardem relação com a demanda,
assim como não julgará questões não compreendidas dentro dos limites fixados
pelas partes, nem se valerá de circunstâncias e fatos não constantes nos autos
– “o que não está nos autos não está no mundo”.
Em suma, o poder instrutório do juiz, assim como
qualquer ato do magistrado, deve observar o princípio da paridade de armas e o
princípio da demanda, não constituindo a possibilidade do juiz determinar
provas no processo em si uma violação à paridade de armas e ao art. 2º e art. 140, ambos do Código
de Processo Civil.
[1] [1] Marinoni, Luiz Guilherme; Arenhart,
Sérgio Gruz; Mitidiero, Daniel; O Novo Processo Civil. Revista dos Tribunais:
São Paulo, 2015, pág. 254.
Pós-verdade
e política
Charles Feitosa
19 de julho de 2017
Onde não há fatos, nada é verdade – O que Trump
tem a ver com Nietzsche, Foucault ou Derrida? A resposta para o título desse
texto é simples e cristalina como água que jorra da fonte: nada, mas nada
mesmo. Mesmo assim ocorre no noticiário político e na internet volta e meia a
associação, completamente indevida por sinal, entre as estratégias midiáticas
de desinformação de Trump e os esforços de desconstrução das grandes narrativas
da verdade pelos filósofos ditos “pós-modernos”.
Por exemplo, a famosa afirmação de Nietzsche, em um
fragmento de 1887, de que “não existem fatos, apenas interpretações”, costuma
ser escutada na filosofia como um alerta crítico de que a verdade não é única,
nem definitiva, nem imutável, mas precisa ser continuamente discutida e
tematizada. No contexto político atual a frase está sendo relida, ao contrário,
como se fosse a legitimação para os estados de “tanto faz” ou de “liberou
geral” reinantes, pois onde não há fatos, nada é verdade.
Um sinal sutil dessa tendência é o uso da palavra
“pós-verdade” como se fosse o ponto de interseção entre política e filosofia na
contemporaneidade. O termo “pós-verdade” é conhecido pelo menos desde os anos
90, mas se tornou especialmente popular em 2016, tendo sido escolhida a palavra
do ano pela equipe do Oxford Dictionaries.
A pós-verdade costuma ser definida brevemente como
uma estratégia de desvalorização dos fatos em prol de interesses pessoais.
Também chamada de fake news (notícias falsas), várias amostras da
pós-verdade na política costumam ser citadas, tais como as estatísticas
fictícias divulgadas na campanha do Brexit em 2016 sobre os altíssimos
custos para permanecer na comunidade europeia ou os rumores conspiratórios
sobre a origem muçulmana extremista do ex-presidente dos EUA, Barack Obama.
No Brasil, são também inúmeros e infindáveis os
exemplos: os boatos em torno de uma suposta encenação da morte de Marisa
Letícia, esposa do ex-presidente Lula ou mais recentemente, a afirmação do
atual prefeito de São Paulo de que os manifestantes da greve geral de 28.04.17
estariam recebendo dinheiro para irem às ruas.
Mas o grande garoto-propaganda da pós-verdade
continua sendo Donald Trump. Em episódio emblemático, seus assessores, ao serem
questionados sobre o número exato de pessoas que assistiram a posse
presidencial em janeiro de 2017, alegaram que não estavam mentindo quando
insistiam, a despeito de indícios contrários, que tinha mais gente na posse de
Trump do que na de Obama em 2009, mas sim apenas apresentando “fatos
alternativos”.
Onde não há fatos, não existe verdade
única – Por que chamar essas formas midiáticas de manipulação de
textos ou imagens como pós-verdade? A escolha do termo não é neutra, trata-se
de uma interpretação que é ao mesmo tempo uma acusação. Tudo se passa como se a
“pós-verdade” fosse a verdade típica dos tempos “pós-modernos”.
A própria expressão “pós-moderno” tornou-se muito
frequente nos últimos trinta anos, tanto na imprensa, como na vida
cotidiana. Falou-se muito e indistintamente de sociedade pós-moderna, de amor
pós-moderno ou ainda de doenças pós-modernas. Trata-se de um conceito
guarda-chuva, cujo uso inflacionário oculta a falta de clareza acerca de seu
significado.
Etimologicamente o prefixo “pós” indica uma
determinada fase histórica: não vivemos mais na modernidade, mas sim “depois”.
Entretanto, o significado desse “depois” ainda é estritamente ambíguo e
polêmico, podendo indicar tanto um “extra-“, um “anti-”, ou ainda como um
“ultra-moderno”. É preciso, antes de tudo, ter o cuidado de distinguir
uma condição “pós-moderna” de um pensamento pós-moderno. Por condição
pós-moderna entende-se, quer a celebremos ou a lamentemos, nossa situação
histórica de viver e morrer na virada do século 20 ao 21.
Por pensamento pós-moderno, entretanto, entenda-se
estritamente uma estratégia específica de lidar com essa condição, consolidada
com a publicação em 1979 do livro La condition postmoderne de autoria
do filósofo francês Jean-François Lyotard (1924-1998). Para Lyotard, o projeto
dos modernos de liberar a humanidade da ignorância e da miséria produziu, ao
contrário, sociedades que permitem o imperialismo, a guerra, o desemprego, a
tirania da mídia e o desrespeito à vida humana em geral.
Contra a lógica da razão e do mercado seria preciso
inventar outras lógicas, norteadas pelo reconhecimento do dissenso (a
irredutível diversidade dos jogos de linguagem nas culturas) e por uma
revalorização da dimensão estética. Em um tempo em que não é possível mais um
discurso único e definitivo sobre o que é bom, justo ou verdadeiro, Lyotard
propõe a emergência do pensamento pós-moderno, cuja característica fundamental
é a afirmação das diferenças e do pluralismo.
Dentro desse contexto seria muito mais pertinente
reconquistar o sentido mais original e positivo do termo “pós-verdade”,
enquanto um esforço anti-dogmático de promover a pluralização e diversificação
dos saberes. Então aqui cabem as seguintes perguntas: Isso a que se hoje se
nomeia “pós-verdade”, não seria apenas uma nova fachada para um fenômeno bem
antigo, a saber, a mentira na política? Não foi sempre assim, na história dos
gestores políticos, manipular informações para se manter no poder? Ou será que
há alguma diferença fundamental entre as mentiras tradicionais dos homens de
estado e a onda contemporânea de desvalorização da verdade?
De fato, já desde Platão sabemos que a mentira não é
apenas um incidente ocasional na vida política, mas é ela mesma um dos recursos
disponíveis aos governantes na difícil e inglória tarefa da administração das
cidades. Na descrição da sua utopia, a despeito do compromisso de cada cidadão
de sempre buscar e defender a verdade, Platão argumentava que seus dirigentes,
somente eles, teriam a permissão de mentir, pois a mentira, se usada adequadamente,
pode contribuir para a realização do bem-estar comum.
Onde não há fatos, tudo é verdade – Desde então
a ideia da mentira na política como um remédio amargo, mas necessário, se
consolidou no nosso imaginário. Há exatamente 50 anos atrás, em 25 de fevereiro
de 1967 na The New Yorker, a genial filósofa judia de origem alemã Hannah
Arendt publicou um texto paradigmático sobre o tema, intitulado Verdade e
Política (em relação ao qual o título do meu presente texto faz referência
e reverência).
Arendt começa chamando de “lugar comum” a crença na
incompatibilidade insuperável entre verdade e política, mas ao mesmo tempo ela
extrai desse lugar comum uma pergunta incômoda, que nos obriga a pensar:
Será da própria essência da verdade ser impotente e da própria essência do
poder enganar? A resposta de Arendt é complexa, pois se de um lado ela defende
uma certa potência inerente à verdade de incomodar e questionar as tiranias,
por outro lado ela também admite um certo uso tirânico das verdades absolutas,
pois geralmente é em nome delas que se instalam discursos e práticas
totalitárias.
Mas o mais importante é que Arendt defende que a
natureza da verdade é essencialmente política, ou seja, “é sempre relativa a
várias pessoas: ela diz respeito a acontecimentos e circunstâncias nos quais
muitos estiveram implicados; é estabelecida por testemunhas e repousa em
testemunhos; existe apenas na medida em que se fala dela, mesmo que se passe em
privado”. Se a verdade é essencialmente política ela pode ser ameaçada pelas mentiras
estratégicas dos poderosos e precisa continuamente ser defendida e conquistada
com o máximo de questionamentos e debates públicos.
O que mais me interessa no texto de Arendt é sua
tese de que, mesmo reconhecendo uma tensão estrutural entre verdade e política,
existe uma mudança no modo clássico e contemporâneo do uso da mentira na
disputa pelo poder. A mentira clássica era dirigida estrategicamente para
este ou aquele grupo de inimigos e por isso poderia ser facilmente detectada
pelos historiadores como uma espécie de buraco ou de falha na rede dos
acontecimentos.
O problema é que segundo Arendt a contemporaneidade
é marcada por uma forma de “mentira organizada”, uma aliança entre os meios de
comunicação e os regimes totalitários, onde toda a matriz da realidade pode ser
falsificada através das estratégias midiáticas de manipulação em massa. O
resultado não é mais apenas a substituição da verdade pela mentira, mas a paulatina
destruição na crença em qualquer sentido que nos oriente pelo mundo. Em outras
palavras, a mentira organizada contemporânea conduz a um cinismo niilista, uma
recusa em acreditar na verdade de qualquer coisa. A descrença é a desistência
da tarefa de fazer qualquer avaliação. Algo parecido acontece quando, no Brasil
de hoje, se diz que todos os políticos são corruptos, como se não houvessem aí
distinções mais finas ainda a serem feitas.
Onde não há fatos, há verdades em demasia
– Talvez não possamos mais chamar de mentira essa versão sistêmica e
explícita, onde todos estão sendo enganados ao mesmo tempo. Mas ao meu ver,
“pós-verdade” também não é o nome mais adequado. Talvez o mais correto seria
falar de hiper ou ultra-verdade, pois vivemos em uma época em que todos se
sentem no direito de dizer qualquer coisa, seja nos discursos políticos ou nas
redes sociais, embasados em dados fictícios ou não, mas garantidos pela crença
tácita de que “tudo vale” e pela recepção acrítica da maioria dos
tele-expectadores e internautas.
Quando há verdades em demasia o perigo não é mais
apenas, como diz Arendt, a descrença generalizada na realidade, mas a sua
contrapartida, a revalorização reativa, nostálgica e muitas vezes enceguecida
dos fatos, como se eles existissem em algum lugar objetiva e efetivamente e
pudessem funcionar como uma pedra de toque nas nossas falas.
Um sintoma dessa súbita revalorização dos fatos em
si é a prática cada vez mais difundida de facts checking dos
discursos políticos na internet. Embora seja muito saudável desvelar as falsas
estatísticas citadas pelo MBL ou por Trump, é sempre bom lembrar aquela
frase do Nietzsche citada do início desse texto, para não cair na armadilha
inversa de achar que alguém tem o poder definitivo e inquestionável de dizer o
que são os fatos.
Existem divergências de interpretações até mesmo
entre os diferentes fact-checkers. Não podemos nunca deixar de nos
perguntar criticamente quem são e como o fazem, estes que assumiram para si a
tarefa de controlar a veracidade dos discursos dos outros. Avaliar
continuamente não só os discursos, mas também os avaliadores e os próprios
instrumentos de avaliação, é a tarefa política constante daqueles que ainda tem
respeito pela liberdade e pelo pensamento. Isso inclui também o exercício da
autoavaliação, pois a pós-verdade, entendida aqui não como a “não-verdade”, mas
como a “verdade pluralizada e sob constante tematização”, exige sempre e de
cada vez mais e melhores interpretações. Em suma, abaixo Trump e viva
Nietzsche!
Charles Feitosa é Doutor em Filosofia pela
Universidade de Freiburg i.B./Alemanha; professor e pesquisador do Programa de
Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC) da UNIRIO
Míriam
Leitão: Mentiras convenientes na era da pós-verdade
Na era da pós-verdade, é bom o retorno a algumas
realidades: a ex-presidente Dilma provocou surto inflacionário, recessão e
desrespeitou as leis fiscais. Mereceu o impeachment que sofreu. Seu vice foi
escolhido por quem formou a chapa e votou nela. Dilma e Temer são frutos da
mesma escolha partidária e eleitoral. Criticar um não é apoiar o outro, e
vice-versa.
O ex-presidente Lula, que escolheu Dilma sem ouvir o
partido, usando seu poder majestático, diz agora que o povo se sentiu traído quando
ela fez o ajuste fiscal e quando aprovou as desonerações para as empresas. Está
querendo se descolar da ex-presidente, que deixou o governo com baixo nível de
popularidade. Como a aprovação do presidente Temer é ainda mais baixa, muita
gente esqueceu que ela chegou a ter apenas 10% de ótimo e bom.
Lula conhece esses números e estava esperando um bom
momento e lugar para fazer essa separação de corpos entre ele e a sua
sucessora. Escolheu um jornal estrangeiro, para ter menos contestações às suas
invenções. Escolheu criticar dois pontos que acha que são antipáticos: o ajuste
fiscal e a transferência de dinheiro para empresários. Ajuste, como as dietas,
ninguém gosta de fazer. É apenas necessário quando há um descontrole como o
criado pela Dilma. Ela recebeu o país com 3,5% do PIB de superávit primário,
entregou com 2,4% de déficit e colocou a dívida pública numa rampa na qual ela
continua subindo.
Parte desse desarranjo foi consequência das
desonerações e subsídios para os empresários. Lula agora diz que foi um erro.
Mas foi ele que começou a política junto com o seu ministro Guido Mantega.
Dilma manteve o ministro e aprofundou as medidas. Foi no governo Lula que
começaram as transferências para o BNDES, a ideia de recriar os campeões
nacionais, os subsídios, o uso dos bancos públicos e tudo aquilo que favoreceu
empresários em geral, e alguns em particular, como Joesley Batista, Eike
Batista e Marcelo Odebrecht.
Temer conspirou abertamente contra Dilma, mas foi
ela que criou o ambiente que desestabilizou seu governo, quando provocou um
choque inflacionário e uma queda livre do PIB. É difícil um governo sobreviver
a essa dupla. Foi eleita mentindo sobre a situação da economia, com a ajuda dos
magos em efeitos especiais João Santana e Monica Moura, que montaram um país
cenográfico. Quando a verdade apareceu, sua aprovação despencou e sua base se
esfarinhou. Foi nesse ambiente que a conspiração de Temer teve espaço. E
ocorreu dentro do grupo que estava no poder. A ex-presidente detestava o
ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, mas deu a ele acesso direto ao dinheiro
do trabalhador, no FI-FGTS.
Geddel Vieira Lima e seus 51 milhões de “dinheiros”
não traiu ninguém. Serviu a vários senhores. Esteve sempre perto dos governos,
é íntimo do presidente Temer, mas teve cargos poderosos nos governos Dilma e
Lula. Foi ministro de Lula e teve uma vice-presidência da Caixa no governo
Dilma. As malas e caixas de Geddel apareceram mais de três anos depois de
iniciada a mais ampla operação de combate à corrupção. É por isso que o juiz
Sérgio Moro diz que não está julgando o problema da altura da saia, mas sim a
corrupção. É com criminosos seriais que o país está lidando.
Vários deputados petistas votaram contra Temer
afirmando estar fazendo isso porque são contra a reforma da Previdência. O
ex-presidente Lula também fez uma reforma da Previdência, que levou inclusive
um grupo a sair do partido e formar o PSOL. A ex-presidente Dilma prometeu
fazer uma reforma e aprovou mudanças no pagamento das pensões das viúvas
jovens. Qualquer um que governar o Brasil terá que enfrentar esse
desequilíbrio. O relatório da CPI da Previdência dizendo que o déficit não
existe é tão verdadeiro quanto uma nota de três reais.
Muitos dos deputados que foram ao microfone gritar
contra a corrupção de Temer sustentam que as acusações feitas ao ex-presidente
Lula e outros petistas são falsas e fruto da perseguição que eles sofrem do
juiz Sérgio Moro e dos procuradores. A mentira e a manipulação passaram a ser a
ordem do dia. São a pós-verdade dos tempos atuais ou a velha mentira
conveniente.
(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)
Significado
de Verdade
O que é Verdade:
Verdade significa aquilo que está intimamente
ligado a tudo que é sincero, que é verdadeiro, é a ausência da
mentira.
Verdade
Citações
Saramago , José
O
tempo das verdades plurais acabou. Vivemos no tempo da mentira universal. Nunca
se mentiu tanto. Vivemos na mentira, todos os dias.
Tabu/Sol (2008)
Sábato , Ernesto
Creio
que a verdade é perfeita para a matemática, a química, a filosofia, mas não
para a vida. Na vida contam mais a ilusão, a imaginação, o desejo, a esperança.
Alexandra
Orwell , George
Num
tempo de engano universal, dizer a verdade é um acto revolucionário.
Aécio
Neves vira réu no STF por corrupção e obstrução da Lava Jato
Ministros da 1ª Turma divergiram sobre o alcance das
implicações feitas na denúncia pela PGR
Luiz Orlando Carneiro
Matheus Teixeira
17/04/2018 – 16:00
1ª Turma do Supremo Tribunal Federal recebeu, nesta
terça-feira (17/4), denúncia contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o tornou
em réu por corrupção passiva – ao solicitar R$ 2 milhões ao empresário Joesley
Batista, oferecendo como contrapartida atuação parlamentar em favor do Grupo
J&F, – e também por tentativa de obstrução de investigações da Operação
Lava Jato.
Além do tucano, tornaram-se réus por corrupção
passiva a irmã do senador, Andréa Neves, seu primo Frederico Pacheco de
Medeiros e Mendherson Souza Lima, ex-assessor parlamentar do senador Zezé
Perrella. Aécio é o 12º congressista réu no Supremo em casos da Lava Jato ou em
desdobramentos da operação.
A situação do senador ficou complicada logo no início
do julgamento, quando teve rejeitadas as questões processuais levantadas por
sua defesa para tentar derrubar as acusações ainda nas preliminares. Foram
enfrentadas questões como a nulidade do processo devido à participação de
Marcelo Miller, ex-porucador que teria feito jogo duplo na negociação da
delação da JBS; a contaminação da colaboração da JBS diante da rescisão do
acordo pela PGR; a alegação de que o caso deveria ser julgado pelo plenário
porque a matéria envolve nulidades devido às gravações envolvendo presidente da
República; e a violação ao princípio do juízo natural por os fatos não terem
conexão com a Lava Jato e Fachin ter determinado as diligências iniciais do
caso.
As preliminares e a imputação pelo crime de
corrupção passiva contaram com a unanimidade do colegiado e não suscitaram
maiores debates. A denúncia por obstrução à Justiça, contudo, causou
divergência entre os magistrados. Esse trecho da denúncia foi recebido na
íntegra pela maioria formada pelos ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e
Luiz Fux, mas os ministros Marco Aurélio (relator) e Alexandre de Moraes
divergiram sobre o alcance das imputações.
Moraes afirmou que não havia elementos para abertura
de ação penal em relação a este ponto, enquanto Marco Aurélio disse que a
investigação por embaraço às apurações deveria ocorrer apenas sobre as
articulação para troca dos delegados da Polícia Federal responsáveis pela Lava
Jato, desconhecendo a necessidade de investigar as negociações para aprovação
do projeto de anistia ao caixa 2 no Congresso.
Em um voto breve (clique aqui para ler a íntegra), o relator
sustentou que estavam presentes os requisitos exigidos pelo CPP para abrir a
ação penal. “A denúncia atende às exigências do artigo 41 do Código de Processo
Penal: contém descrição do cometimento, em tese, de crime e das circunstâncias,
estando individualizadas as condutas imputadas a cada um dos acusados”,
sustentou.
O ministro afirmou, também, que Aécio contou com o
auxílio dos outros três denunciados e que, por isso, eles também deveriam se
tornarem réus no Supremo. Além disso, o magistrado disse que o argumento da defesa
de que não há no processo a indicação do ato de ofício que comprova o crime de
corrupção “diz respeito ao mérito e será examinadas após a instrução do
processo-crime”.
Barroso foi mais enfático em defender a necessidade
de receber a denúncia. Para o magistrado, as condições do pagamento de R$ 2
milhões não deixam dúvidas sobre a ilicitude do processo: “No mundo de
negócios legais, empréstimos se fazem por transferência bancária ou no máximo
por cheque. Nos dias de hoje, ninguém sai por aí transportando pela estrada
malas de dinheiro”, afirmou.
Assim como fez o procurador Carlos Alberto Coelho,
que representou a PGR, Barroso também lembrou do trecho da conversa entre
Aécio e Joesley em que o parlamentar afirma ao empresário que deveria receber
os valores negociados “alguém que a gente mate antes de fazer delação”, no
caso, o primo dele, Frederico, que também se tornou réu neste processo.
Em outra parte do julgamento, uma crítica do
ministro ao STF causou um mal-estar entre ele e o colega Alexandre de Moraes. Barroso
lembrou do julgamento da 1ª Turma que determinou o afastamento de Aécio do
mandato de senador e disse que o fato de o plenário ter reformado a decisão e
definido que o Congresso tem a palavra final nesses casos “entrará para a
antologia de barbaridades jurídicas”. Moraes, por sua vez, rebateu e ressaltou
que esse foi o entendimento da maioria e que “absurdo é decretar prisão fora da
Constituição”.
Luiz Fux foi outro que não demorou em dar seu voto.
O ministro observou que, embora possa se provar o contrário no curso da ação
penal, inicialmente a narrativa do MP demonstra maior verossimilhança do que
aquela apresentada pelos advogados.
Moraes, por fim, destacou que existe “dúvida
razoável com indícios fortes sobre prática corrupção passiva, que levam ao
recebimento da denúncia”. Rechaçou, no entanto, a denúncia por obstrução à
Justiça. “Por mais absurda que tenham sido as gravações, algumas frases
demonstram intenção, outras meras bravatas de poder, falso poder. Sejam
bravatas ou intenções, ficaram aqui no mundo das intenções”, disse.
Após o julgamento, o ex-procurador-geral da
República Rodrigo Janot comemorou em uma rede social a validação das provas do
acordo de delação dos ex-executivos da JBS. “Provas obtidas por ação
controlada validadas. Reconhecimento de que ex-procurador agiu por conta
própria. Reconhecida a validade das gravações feitas de conversas nada
republicanas com autoridades da República. O discurso vazio que tentava
invalidar tudo isso virou sal na água”, escreveu Janot no Twitter.
A colaboração premiada da JBS leva Aécio, que
responde a nove inquérito no STF, a se tornar réu pela primeira vez. Além de
atingir o presidente Michel Temer, gravado por Joesley em uma conversa no
Palácio do Jaburu, a delação dos executivos do frigorífico também enterrou a
pretensão política de Aécio Neves de se candidatar novamente à presidência da
República. Gravado pedindo R$ 2 milhões ao dono da empresa — o que, segundo a
defesa era um empréstimo, mas de acordo com o MPF, propina –, ele foi afastado da
presidência do PSDB após a divulgação das conversas com Joesley.
Inicialmente, o ministro Edson Fachin o afastou do
mandato, mas rejeitou o pedido de prisão contra ele feito pela
Procuradoria-Geral da República. Após a redistribuição do feito, Marco Aurélio
tornou-se relator da matéria e permitiu Aécio a reassumir o mandato. A 1ª
Turma, ao apreciar a liminar de Marco Aurélio, no entanto, determinou o
afastamento dele mais uma vez. O plenário, contudo, reformou a decisão e
prevaleceu o entendimento do relator, de que ele poderia voltar às atividades
legislativas.
Os próximos passos após a decisão:
A abertura da ação penal é o caminho para o Supremo
decidir se condena ou absolve o réu.
Depois do recebimento da denúncia, o Supremo começa
a fase de instrução processual, com a apresentação de testemunhas de defesa e
acusação.
Na sequência, uma nova etapa de coletas de provas e
questionamentos dos elementos do processo. O réu também será interrogado e,
depois, o Ministério Público e fará suas alegações finais, repassando o caso
para o ministro Edson Fachin, nos casos ligados ao esquema de corrupção na
Petrobras, fechar seu voto. Decano, Celso de Mello é o encarregado de revisar o
processo liberando o caso para votação.
Não há prazo para um desfecho. Nos casos de Gleisi
Hoffmann e Nelson Meurer, o ministro está na fase de revisão das ações penais
há mais de dois meses.
Há expectativa de que Celso de Mello libere, nos
próximos dias, a ação penal de Nelson Meurer para julgamento final. O caso será
analisado pela 2ª Turma da Corte, formada ainda por Dias Toffoli, Gilmar Mendes
e Ricardo Lewandowski. Na sequência, deve ser analisada a ação penal de Gleisi,
presidente do PT. Essas são as duas apurações mais avançadas.
O caso de Aécio foi parar na 1ª Turma porque não
tem conexão direta com o suposto esquema na Petrobras. Julgam Aécio os
ministros Marco Aurélio (relator), Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Rosa Weber e
Luís Roberto Barroso.
Na denúncia do tucano, a PGR afirma que partiu de
Andréa Neves ( irmã de Aécio) o pedido da ajuda financeira ao empresário da
JBS. Em 18 de fevereiro de 2017, Andréa procurou Joesley e fez a solicitação do
dinheiro “a pretexto de pagar honorários advocatícios”. Pouco mais de um mês
depois, em 24 de março, o empresário e o senador se encontraram em um hotel em
São Paulo, quando Joesley gravou a conversa, que, posteriormente foi entregue à
PGR como parte do acordo de colaboração.
A Procuradoria entregou ao Supremo relatório com
análise sobre acerto dos detalhes para a entrega do dinheiro em espécie, na
articulação para esconder a operação, e a suposta contrapartida oferecida
pelo senador.
Na conversa, os dois falam sobre como Aécio poderia
usar a sua influência para assegurar a indicação de pessoas para cargos
públicos de interesse do Grupo J&F.
Outro lado
Em rápido pronunciamento a jornalistas no Senado,
Aécio afirmou ter recebido com tranquilidade o acolhimento da denúncia pela 1ª
Turma do STF, “até porque era esperado”. O tucano disse que uma vez considerado
réu pela Justiça poderá se defender de forma adequada e atirou sobre os membros
do Ministério Público e donos da JBS envolvidos na gravação que resultou na
denúncia hoje acolhida.
“Estou sendo acusado de ter recebido recursos
privados para pagar advogados. Não houve dinheiro público, o que houve é que
esses agentes associados a membros do MP tentam dar uma sensação de ilegalidade
a essa operação privada para dar impressão de legalidade a inúmeros crimes que
cometeram.Temos que estar atentos aos crimes cometidos por esses agentes”.
O acolhimento da denúncia contra Aécio não tem
efeitos sobre seu mandato. Para ser determinada uma eventual cassação, é
preciso a análise de um pedido formal feito por um partido ou por um cidadão no
Conselho de Ética e no plenário da Casa Revisora. Mesmo se eventualmente
condenado, e na sentença o STF determinasse a perda de mandato, o entendimento
das duas Casas Legislativas é de que o processo de cassação é necessário para
determinação da cassação e seus efeitos legais. (Direitos Reservados/Reprodução
Proibida)
Eu me perdi, perdi você
Perdi a voz, o teu querer
Agora sou somente um,
Longe de nós, um ser comum
Agora sou um vento só a escuridão
Eu virei pó, fotografia, sou lembrança do passado
Agora sou a prova viva de que nada nessa vida
É pra sempre até que prove o contrário
Estar assim, sentir assim
Um turbilhão de sensações dentro de mim
Eu amanheço eu estremeço eu enlouqueço
Eu te cavalgo embaixo do cair
Da chuva eu reconheço
Que estar assim, sentir assim
Um turbilhão de sensações dentro de mim
Eu me aqueço, eu endureço, eu me derreto
Eu evaporo e caio em forma de chuva, eu reconheço
Eu me transformo
Agora sou um vento só a escuridão
Eu virei pó, fotografia, sou lembrança do passado
Agora sou a prova viva de que nada nessa vida
É pra sempre até que prove o contrário
Estar assim, sentir assim
Um turbilhão de sensações dentro de mim
Eu amanheço eu estremeço eu enlouqueço
Eu te cavalgo embaixo do cair
Da chuva eu reconheço
Que estar assim, sentir assim
Eu me aqueço, eu endureço, eu me derreto
Eu evaporo e caio em forma de chuva
Agora sou um vento só a escuridão
Eu virei pó, fotografia, sou lembrança do passado
Dona Ivone Lara acompanha por Ratinho no cavaquinho e
Freddy na percussão
Dona
Ivone Lara canta "Tiê" - 1976
Programa
Ensaio D Ivone Lara
Programa Ensaio com D. Ivone Lara com acompanhamento
do Grupo Quinteto em Branco e Preto.
Sambista
Ivone Lara morre aos 97 anos no Rio de Janeiro
Do UOL, em São Paulo 17/04/2018 00h31
A sambista Ivone Lara, popularmente conhecida como
Dona Ivone Lara, morreu aos 97 anos vítima de uma parada cardiorrespiratória,
no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (16). A informação foi confirmada
pelo UOL junto a familiares....
tie sangue cantando Tiê segue cantando...
Dona
Ivone Lara - Serra dos meus sonhos dourados / Não me perguntes (1991)
A
importância de Nise da Silveira – Ocupação Dona Ivone Lara (2015)
Além de seus muitos anos de dedicação à música, Dona
Ivone Lara – formada em serviço social –trabalhou no Instituto de Psiquiatria
do Engenho de Dentro durante 30 anos, até se aposentar. Especializada em
terapia ocupacional, foi assistente de Nise da Silveira, médica que
revolucionou o tratamento psiquiátrico no Brasil. No vídeo Gladys Schincariol,
coordenadora de projetos do Museu de Imagens do Inconsciente, e Luiz Carlos
Mello, diretor do Museu de Imagens do Inconsciente, falam da importância e do
pioneirismo do trabalho da psiquiatra Nise da Silveira. Por fim, Abel Machado,
músico e coordenador musical do bloco carnavalesco Loucura Suburbana, comenta a
participação de Dona Ivone Lara como enfermeira e assistente social em sua
equipe. Depoimentos gravados para a Ocupação Dona Ivone Lara, em abril de 2015,
no Rio de Janeiro/RJ. Parceria do Itaú Cultural com a Musickeria, a Ocupação
Dona Ivone Lara fica em cartaz entre 16 de maio e 21 de junho de 2015, na sede
do Itaú Cultural em São Paulo/SP. Créditos Gerente do Núcleo de Comunicação e
Relacionamento: Ana de Fátima Sousa Coordenadores do Núcleo de Comunicação e
Relacionamento: Carlos Costa e Jader Rosa Entrevista: Fernanda Castello Branco
Captação: André Seiti Gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura: Claudiney
Ferreira Coordenadora de conteúdo audiovisual: Kety Fernandes Produção
audiovisual: Jahitza de Balaniuk Captação e edição: Luiza Fagá Produção de som:
Ana Paula Fiorotto Saiba mais sobre o evento no site do Itaú Cultural: http://novo.itaucultural.org.br/progr....
Visite o hotsite da Ocupação Dona Ivone Lara: http://www.itaucultural.org.br/ocupacao.
A Um gênio no jogo de damas de Leningrado chamado
Sokov;
Levando a Um Sábio e "Malandro" no jogo de
damas da Ucrânia chamado Bakumenko;
Passando pelo gênio das pernas tortas de Pau Grande apelidado
Garrincha.
Conformando...
Gênios dos tabuleiros da vida... Nas Quebradas do Mundaréu de Plínio Marcos.
Ricardo
Noblat: Meu personagem inesquecível
- Blog do Noblat | Veja
Que magnífica biografia, a de Lula. De preso
político a político preso
Lula virou, mexeu, mas não saiu do lugar. Sérgio
Moro, o mais exímio enxadrista da sua geração de juízes, aplicou-lhe um xeque e
40 horas depois, Lula continua em xeque. Ganhou tempo para pensar se o xeque o
deixou sem saída ou se há alguma. Não parece haver.
Na prática, Lula está preso desde que se refugiou na
sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo na noite da última
quinta-feira. Com a diferença de que ali sua cela é mais ampla do que será a de
Curitiba. E visitas são permitidas a qualquer hora.
Ter que dormir numa cama improvisada, sem frigobar
por perto, sem a tv de 50 polegadas e de alta definição a qual estava
acostumado, sem poder levantar de madrugada e desfilar nu pela casa, enfim sem
o conforto de estar em um lugar que é seu, é um tremendo incômodo.
E ter que ouvir o ex-senador Eduardo Suplicy a
dissertar sobre as vantagens do programa de renda mínima? E a ter que ouvir
amiúde a vozinha irritante da senadora Gleisy Hoffman, presidente do PT? E à
algaravia infernal de conselheiros, admiradores e até desconhecidos?
Em uma de suas primeiras reuniões com ministros no
Palácio do Planalto, em 2003, Lula comentou irritado depois de ouvir uma
sugestão estúpida: “Toda vez que segui os conselhos da esquerda, me dei mal”.
Não disse que se dera mal. Usou um dos seus palavrões preferidos. Mas deixemos
assim.
Nas primícias do PT, a esquerda imaginou cavalgar
Lula para com ele arrombar as portas do poder. Arrombou de fato na quarta
tentativa. Mas como Lula nunca foi de esquerda e nem quis ser, foi ele que a
cavalgou. Cavalga até hoje. Faz o que quer com ela. Continuará a fazer, por
ora.
Lula sempre foi primeiro ele, segundo ele, terceiro,
quarto, e suas circunstâncias. Uma vez, deram-lhe uma apostilha com uma espécie
de Raio-X da esquerda. Para que ele a entendesse melhor. Páginas da apostilha
que Lula jamais leu forraram o chão da casa do cachorro dele.
O líder das gigantescas greves do ABC paulista no
início dos anos 80 foi também, e na mesma época, o analista informal da
Odebrecht para assuntos sindicais. Está no depoimento a Moro do ex-presidente
da construtora, Emílio Odebrecht. Já gostava de viver de obséquios.
O retirante da seca nordestina, que diz ter passado
fome em São Paulo, transformou-se em sócio da Odebrecht ao se eleger presidente
da República. Enriqueceu-a ainda mais, e enriqueceu, porque afinal ninguém é de
ferro, nem mesmo ele, o filho de dona Lindu, nascida analfabeta.
De Garanhuns para o mundo, de acanhado língua presa
para “este é o cara” como o saudou certa vez o presidente Barack Obama, Lula
está a caminho de Curitiba. Questão de horas. Ou de um dia a mais, quem sabe
mais um. E somente os fados impedirão que isso aconteça.
Enfim, de preso político nos idos de 80 do século
passado, que driblava greve de fome chupando balinhas, a político preso,
condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, à espera do julgamento de mais
oito processos. É o epílogo notável de uma biografia igualmente notável.
Ricardo
Noblat: O enxadrista de Curitiba
- Blog do Noblat | Veja
Cheque mate
O juiz Sérgio Moro joga xadrez. A maioria dos seus
adversários, damas.
A decisão de Moro de mandar prender Lula, decorrida
apenas 17 horas do fim da sessão de ontem do Supremo Tribunal Federal, foi mais
um lance de jogador de xadrez.
Meia hora antes, um dos advogados de Lula, o sempre
bem engomado Cristiano Zanin Martins, havia dito inexistir risco de “prisão
iminente” do seu ilustre cliente. Zanin Martins joga damas.
Até Lula, hábil enxadrista, às vezes joga damas.
Jamais imaginou que poderia ser preso antes do final da próxima semana.
Ao agir com rapidez, uma vez autorizado pelo
tribunal de Porto Alegre, Moro encurtou o tempo da defesa de Lula para mantê-lo
solto.
Não foi a primeira, nem a segunda, nem a terceira
vez que Moro pôs Lula e seus advogados em xeque.
Há dois anos, na véspera de Lula assumir a chefia da
Casa Civil da presidência da República para assim ganhar foro especial
escapando de ser preso, Moro divulgou uma gravação que fulminou a manobra.
Foi aquela onde Dilma, presidente, avisava a Lula que
um emissário lhe entregaria uma cópia do ato de sua nomeação para ministro.
Caso Moro tentasse prendê-lo, bastava mostrá-la para não ser.
O novo lance do enxadrista de Curitiba detonou
também uma manifestação de solidariedade a Lula marcada pelo PT para esta
tarde.
Às pressas, o partido antecipou-a para ontem à
noite. Só reuniu cinco mil pessoas, segundo as contas infladas dos
organizadores.
Se simplesmente tivesse mandado prender Lula, Moro
poderia ter desatado a fúria dos seus devotos e – quem sabe? – conflitos
violentos.
Preferiu intimá-lo a se entregar em Curitiba. Ainda
economizou com o avião que buscaria Lula em São Paulo. Lula que vá às próprias
custas.
Luiz
Carlos Azedo: Lula no xadrez
- Correio Braziliense
A notícia foi uma bomba. Embora o Supremo houvesse
rejeitado habeas corpus da defesa, a ficha de que a prisão o ex-presidente da
República havia sido decretada não havia caído
O juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de
Curitiba, cumprindo determinação do Tribunal Regional Federal da 4ª Região
(TRF-4), deu prazo até as 17h de hoje para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva se apresentar à Polícia Federal em Curitiba para cumprir pena de 12 anos
e 1 mês de prisão em regime fechado. Proibiu o uso de algemas, em qualquer
hipótese. “Relativamente ao condenado e ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, concedo-lhe, em atenção à dignidade do cargo que ocupou, a oportunidade
de apresentar-se voluntariamente”, diz o mandado. Moro deu um xeque-mate na
defesa de Lula.
A notícia caiu como uma bomba. Embora o Supremo
Tribunal Federal (STF), por 6 na 5, em polêmico julgamento, houvesse rejeitado
o pedido de habeas corpus da defesa de Lula, a ficha de que o ex-presidente da
República poderia ser preso a qualquer momento ainda não havia caído — nem para
seus aliados nem para seus adversários. As atenções ainda estavam voltadas para
o STF, onde os advogados criminalistas Antônio Carlos de Almeida Castro, o
Kakay, Cláudio Pereira de Souza Neto e Ademar Borges de Sousa Filho ingressaram
ontem com um pedido de liminar para que a Corte somente permita a prisão após
condenação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), terceira instância do
Judiciário.
Relator da ação, o ministro Marco Aurélio disse
ontem que pode levar o caso para decisão dos 11 ministros “em mesa”, isto é,
sem necessidade de que a presidente da Corte, Cármen Lúcia, marque uma data
previamente. “De início, eu sou avesso à atuação individual”, disse. A decisão
de Moro, porém, também pegou de surpresa o ministro e os advogados de Lula, que
estavam trabalhando com o prazo de 10 de abril para apresentar um “embargo dos
embargos” no TRF-4 e protelar a prisão. O advogado de Lula, Cristiano Zanin
Martins, em nota, disse que a “expedição de mandado de prisão nesta data
contraria decisão proferida pelo próprio TRF-4 no dia 24/01, que condicionou a
providência — incompatível com a garantia da presunção da inocência — ao
exaurimento dos recursos possíveis de serem apresentados para aquele tribunal,
o que ainda não ocorreu”.
Ontem, porém, o TRF-4 encaminhou ofício a Moro
autorizando a execução da pena. A defesa de Lula ainda pode apresentar um
último recurso ao TRF-4, que Moro desconsiderou. “Hipotéticos embargos de
declaração de embargos de declaração constituem apenas uma patologia
protelatória e que deveria ser eliminada do mundo jurídico”, justificou.
Segundo Moro, “embargos de declaração não alteram julgados, com o que as
condenações não são passíveis de alteração na segunda instância.”
Resistência
O ex-presidente estava na sede do Instituto Lula
quando soube da decisão. Rumou para o Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo, transformado num búnquer petista. Estavam lá reunidos a ex-presidente
Dilma Rousseff, o deputado Paulo Pimenta (SP), o senador Lindbergh Farias (RJ),
o ex-prefeito de São Bernardo Luiz Marinho, os governadores Camilo Santana
(Ceará) e Wellington Dias (Piauí), Guilherme Boulos, líder do MTST e candidato
a presidente do PSol, e Wagner Santana, presidente do sindicato. Lula chegou
por volta das 19h à sede do sindicato. A senadora Gleisi Hoffmann (SC),
presidente do PT, falou em nome do partido: “Consideramos uma prisão política.
É uma prisão que vai expor o Brasil ao mundo. Viraremos uma republiqueta de
bananas.”
A notícia da ordem de prisão teve realmente
repercussão mundial, isso animou os militantes e dirigentes petistas. A
primeira reação da cúpula foi não aceitar a prisão. O próprio presidente Lula,
na linha de confrontação com Moro, manifestou a intenção de não se apresentar
em Curitiba. A predisposição de Lula é aguardar a execução da prisão pela
Polícia Federal em São Bernardo. Liderada pela CUT, uma grande concentração
está sendo convocada pelas centrais sindicais para as 10h de hoje, na sede do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo. Os sindicalistas querem
fazer um cordão de isolamento e impedir a prisão de Lula.
Resistir à prisão não costuma ser uma boa ideia,
mesmo quando o gesto é revestido de uma narrativa política. Todas as vezes em
que resolveu afrontar a Justiça, desde os depoimentos perante o juiz Sérgio
Moro, politizando o julgamento, Lula atrapalhou a própria defesa e deu com os
burros n’água. Apenas reforça o senso comum de que se considera um cidadão acima
das leis e das instituições. Lula está inelegível em razão da Lei da Ficha
Limpa, mas insiste na candidatura a presidente da República. Essa reação,
porém, é previsível. Há um certo desespero na cúpula petista com o desfecho da
estratégia equivocada que adotou no plano eleitoral. A legenda contava com a
possibilidade de fazer a pré-campanha com Lula em caravana pelo país, agora
terá que antecipar a escolha de um candidato que o substitua na urna
eletrônica.
Dia
do Damista - 9 de maio
Todo damista brasileiro nasceu no dia 9 de maio !
Esta é uma forma de homenagem sincera, simples e
delicada ao Mestre Geraldino Izidoro, que também nasceu no dia 9 de maio.
Há quem diga que o Dia do Damista não é dividido em
horas, minutos ou segundos, mas que o Dia do Damista é dividido em pequenas
saudades.
Saudades da mesa em que Júlio Mindelo fazia suas
belas análises. Daquelas planilhas do Waldemar Bakumenko. Da agitação do
Miranda da Bahia. Daquela elegância dos finais do Fabelo Chaves. Da Defesa
Leningrado que o Reginaldo Cruz trouxe da Paraíba. Saudades do Américo Gaet,
quase que imbatível em Brasília. Do Nilton Stock com sua simpatia, trazida de
Porto Alegre.
Enfim, saudades de todos os que já se foram, mas
que, por força do encantamento do jogo de damas, ainda continuam junto de nós.
A Confederação Brasileira do Jogo de Damas sente que
contribuiu para que estes jogadores do passado fossem o espelho e a alma dos
damistas que aí estão, com suas personalidades próprias, com seus conceitos
aprimorados, com suas técnicas evolutivas.
E a lembrança deste crescimento todo é o presente
que a Confederação oferece ao mundo damístico brasileiro no dia 9 de maio, dia
de Izidoro e de todos nós.
Texto de Protásio Bueno.
Estreia
em 58 na copa com a 11 e a conquistou por todos
Garrincha,
80 anos: 7 histórias incríveis da Alegria do Povo
Por: Equipe Trivela
28 de outubro de 2013 às 8:00
Nesta segunda-feira, faz 80 anos que nasceu, no
interior do Rio de Janeiro, o homem que transformava um pequeno guardanapo em
um latifúndio, como escreveu Armando Nogueira. Mané Garrincha desafiou uma
legião de marcadores e transformou todos em Joões. Desafiou a deformidade do
seu corpo e se eternizou como o Anjo das Pernas Tortas. Desafiou o álcool e
perdeu. Morreu de cirrose, cinquenta anos depois de sair da barriga da mãe.
O que ficou para a história foram milhares de
dribles, centenas de gols e uma dupla com Pelé que nunca perdeu uma partida
pela seleção brasileira. O melhor jogador da Copa do Mundo de 1962 também era
conhecido pela ingenuidade que contrastava com a extrema inteligência dentro de
campo. Ele, porém, não era tão inocente quanto se pensava. As histórias que o
retratam como um bobo tapado contém doses de exagero e de misticismo. Acontece
com toda lenda.
Nos 80 anos do nascimento do mulherengo que tinha
medo de agulha e que foi apelidado por caçar passarinhos, reunimos sete
histórias deliciosas para lembrarmos que Garrincha não foi apenas o maior
camisa sete da história, mas também um dos personagens mais interessantes que o
futebol já viu.
“Didi,
fala com ele para não fazer isso”
Desde o primeiro treino no Botafogo, em 1953, Nílton
Santos sofria com Garrincha. Todos já ouviram detalhes de como o novato
ponta-direita humilhou o experiente lateral esquerdo na primeira vez que se
encontraram. Aliás, como o gol de Pelé na Javari, milhões de pessoas garantem
que estavam em General Severiano assistindo. Na biografia que Ruy Castro
escreveu sobre Mané, consta outra história em que a Enciclopédia do Futebol
teve problemas pelo infortúnio de ter que enfrentar o colega de pernas tortas.
Nílton Santos tinha 33 anos na época da Copa do
Mundo de 1958, mas essa era apenas a desculpa que Mendonça Falcão, presidente
da Federação Paulista de Futebol, usava para tentar barrá-lo e colocar Oreco,
do Corinthians, como titular. Bairrista e quase analfabeto, Falcão também tinha
problemas pessoais com Nílton, que viu a sua vaga no time de Vicente Feola
ameaçada. Por isso, resolveu treinar a sério contra Garrincha.
O problema é que querer parar Mané nunca bastou. Era
necessária uma conjunção de fatores extraordinários. Nílton Santos achou que
tivesse pegado o jeito de marcar Garrincha. Manteve o pé de apoio no gramado e
aguardou o amigo tomar a iniciativa. Não funcionou, claro. Levou um, dois,
três, quatro dribles e não aguentou mais. Precisou apelar.
“Didi, fala com ele para não fazer mais isso!”,
implorou, praticamente. Didi, outro craque do Botafogo, foi tentar argumentar
com Garrincha. “Poxa, Mané, não faz isso. O Nílton é do Botafogo e teu chapa”.
O jogador percebeu que poderia prejudicar o companheiro e tentou maneirar. O
problema é que Garrincha era instintivo. Não conseguia se segurar. E mais uma
vez transformou um dos maiores laterais do futebol brasileiro em um João
qualquer. Nílton Santos, então, partiu para a violência e deu alguns socos na
barriga de Mané, que reclamou após o treino.
“O que deu em você? Olha a minha barriga. Está toda
vermelha”.
“Ou você
sossega ou eu não jogo essa Copa do Mundo. Os homens estão querendo me botar na
cerca. Vamos com calma”, pediu Nílton Santos, que garantiu a posição de titular
em dois amistosos contra a Bulgária, no Maracanã e no Pacaembu, mas nunca
descobriu a melhor forma de marcar Garrincha.
Mané
humilhou na Copa e ainda foi leal
A partida mais célebre de Garrincha foi logo sua estreia na Copa de 1958. O
Brasil corria o risco de ser eliminado pela União Soviética e Vicente Feola
apostou no camisa 11 entre os titulares. Era a criatividade do ponta direita
contra o cientificismo que era atribuído aos soviéticos. Antes do apito
inicial, o técnico ordenou a Didi: “Lembre, o primeiro passe vai para Mané”. E,
segundo Nelson Rodrigues, “a desintegração da defesa começou exatamente no
primeiro momento em que Garrincha tocou a bola”.
Idealizador da Liga dos Campeões, o jornalista
Gabriel Hanot definiu o início daquele jogo como ‘os três melhores minutos da
história do futebol’. Neste curto intervalo, Garrincha e Pelé acertaram a trave
de Lev Yashin, enquanto Didi lançou Vavá para abrir o placar.
Naquele dia, Mané eternizava o ‘joão’, o marcador
que sabia muito bem o que ele faria, mas não se cansava de ser driblado. Boris
Kuznetzov, o lateral esquerdo da seleção soviética, foi quem mais sofreu com
aquele trançar infinito de pernas tortas.
Com 30 segundos de jogo, Kuznetzov já tinha sido
ludibriado por Garrincha algumas vezes e ido ao chão – pouco antes de receber
reforço de outros dois companheiros na marcação, igualmente enganados pela
ginga. E a cena dos soviéticos tropeçando nas próprias pernas seria constante.
Em uma delas, Mané colocou o pé sobre a bola e estendeu a mão para o defensor
se levantar. Bastou o adversário ficar em pé novamente para que ele voltasse a
correr. Uma humilhação gigantesca, tratada pelo craque como um lance de pelada.
Teve
aquela vez que Garrincha criou o grito de olé
Sabe quando a torcida começa a gritar “olé” ao ver
um time muito superior ao adversário? A primeira vez que isso aconteceu foi em
1957, no México. Graças a Garrincha. João Saldanha, técnico do Botafogo na
época, conta em seu livro Histórias do Futebol que Mané estava impossível em um
amistoso contra o River Plate, no Estádio Universitário, parte da excursão do
time carioca ao país. Quem mais sofria era Vairo.
“Toda vez que Mané parava na frente de Vairo, os
espectadores mantinham-se no mais profundo silêncio. Quando Mané dava aquele
seu famoso drible e deixava Vairo no chão, um coro de cem mil pessoas
exclamava: ‘Ô ô ô ô ô ô-lê!'”, escreveu Saldanha. “Foi ali, naquele dia, que
surgiu a gíria do ‘olé’. As agências telegráficas enviaram longas mensagens
sobre o acontecimento e deram grande destaque ao ‘olé’. As notícias
repercutiram bastante no Rio e a torcida carioca consagrou o ‘olé'”.
O jogo terminou empatado, mas Vairo não terminou o
jogo. O técnico José Maria Minella, do River Plate, foi piedoso e substituiu o
jogador, que saiu de campo dando risada. “Não tem o que fazer. Impossível”,
disse, antes de acrescentar para o seu suplente. “Boa sorte, amigo. Antes,
porém, te aconselho a escrever algo para sua mãe”.
Como escreveu Saldanha – tão craque com as palavras
quanto Garrincha com a bola – é apropriado que Mané tenha inspirado esse grito.
“Garrincha é o próprio ‘olé’ Dentro e fora de campo, jamais vi alguém tão
desconcertante, tão driblador. É impossível adivinhar o lado por onde Mané vai
sair da enrascada. Foi a coisa mais justa do mundo que Garrincha tivesse sido o
inspirador do ‘olé'”.
Para
onde foi o Mané?
O Botafogo tinha dois amistosos em El Salvador.
Contra a seleção local e contra o Independiente. O último jogo foi antecipado
em um dia e, na véspera, um jogador não estava no hotel. João Saldanha,
técnico, não sabia onde estava Mané Garrincha. Pegou um táxi, acompanhado do
roupeiro Aloísio Birruma e do dirigente Renato Estelita e saiu pelas ruas para
procurar o craque desaparecido.
Rodaram, rodaram e rodaram e nada de encontrar Mané.
Aloísio viu um cartaz pendurado em um poste que anunciava um “Gran concurso de
Bolero” naquela mesma noite. Era difícil imaginar Garrincha participando de um
concurso de dança, mas, como as opções estavam se esgotando, a delegação do
Botafogo foi para La Caverna ver se ele estava lá.
E não é que estava?. O público tomava conta da
pista, extasiado com os movimentos de uma dupla singular: uma garota baixa, de
um metro e meio, usando um vestido verde e um lenço amarelo e vermelho e o
maior ponta direita da história. Renato não quis saber de nada. Invadiu a pista
e mandou Mané entrar no táxi, deixando a pequena dançarina aturdida, sem saber
o que estava acontecendo.
Por que diabos Mané Garrincha estava em um concurso
de dança? A explicação, reproduzida no livro Histórias do Futebol, escrito por
Saldanha, é simples: “O senhor (Renato) não me mandou ir representar a gente na
Escola Brasil? Lá só tinha velha e ninguém quis ir. Eu fui e me chateei a tarde
toda. Depois, fui ao cinema e voltei ao hotel. A garota me convidou para o
concurso. Era dia livre e eu fui. Eu ia ganhar vinte dólares no concurso. Ainda
tinha uma taça. A garota é o fino na dança e o papai aqui é o maior. O senhor
estragou tudo”.
Todos entenderam que Mané não viu o aviso de que o
jogo havia sido antecipado e não houve punição, mas Garrincha tinha outra
preocupação: não queria que os companheiros tirassem sarro. Não deu muito
certo. No café da manhã do dia seguinte, Édson chamou o colega de pernas tortas
de “Cinderela” porque ele “tinha saído à meia-noite antes do baile acabar”.
E que fim levou a garota? Bom, ela apareceu no hotel
e fez um escândalo até que Renato Estelita aceitasse pagar os vinte dólares, já
que ela tinha certeza que seria campeã do concurso. Ao ver o chefe tirar a
carteira do bolso, Mané emendou: “Seu Renato, também tenho direito a vinte
dólares. Eu também ia ganhar o prêmio. O senhor viu como o pessoal aplaudia,
né?”. Garrincha não ganhou os vinte dólares.
Tio
Patinhas contra a rapa
Amigo de Garrincha, o jornalista Sandro Moreyra foi
um dos principais encarregados de listar os folclores do craque. Uma das
anedotas mais célebres aconteceu em um jogo da Seleção. No intervalo, o técnico
Vicente Feola foi orientar seus comandados. E se dirigiu ao ponta:
– Você, Mané, vai avançar mais pelo canto. Daí…
Quem disse que ele prestara atenção? Garrincha
estava encostando em um canto, lendo um gibi. Foi a deixa para que Feola
esbravejasse:
– Bem, então você faça o que quiser
O ponta foi fiel às ordens e fez o que quis para os
brasileiros saírem com a vitória.
Comendo
o prato errado
Durante uma excursão à Europa, a Seleção precisou fazer
escala em Paris. E, entre um voo e outro, os jogadores acabaram almoçando no
próprio restaurante do aeroporto. Dentista da equipe, Mário Trigo foi ajudar os
jogadores com o cardápio em francês. Mas Garrincha recusou qualquer
intervenção:
– Doutor, deixa que eu mesmo peço.
– Como é que você vai pedir, se não conhece a
língua?
– Deixa, doutor. É simples. Só preciso apontar o
dedo para o prato que quiser.
Enquanto todos almoçavam, Garrincha esperava. E o
impaciente Mané reclamou da demora da comida ao doutor, que foi verificar com
os garçons o que tinha acontecido. Desfez-se o mistério. O que ele tinha
pedido?
– Não o servimos porque ele indicou que quer comer o
dono do restaurante, Monsieur Jean Paul.
O radinho da discórdia
Uma história de Garrincha que possui várias versões
fala sobre a compra de um rádio na Copa de 1958. Segundo o dentista Mario
Trigo, o massagista Mario Américo foi quem passou a perna em Mané. O jogador
estava maravilhado com um radinho de pilha adquirido na Suécia, quando o
massagista resolveu pregar a peça:
– Esse rádio não funcionará no Brasil, ele só fala
sueco! Façamos o seguinte: você pagou 180 coroas, te dou 90 para diminuir seu
prejuízo.
Garrincha caiu na lábia e foi reclamar com Trigo,
com quem tinha ido à loja fazer a compra. O dentista desfez a confusão ao pegar
180 coroas com Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação, e trazer outro
aparelho. Bom para o Mané, contente com o rádio poliglota.
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'Os
3 minutos mais incríveis da história do futebol' - Brasil x URSS, Copa 1958
'Os
3 minutos mais incríveis da história do futebol' - Brasil x URSS, Copa 1958
Publicado em 8 de mai de 2011
"A descoberta de Garrincha" (Nelson
Rodrigues) - "E eis que pela primeira vez, um “seu” Manuel é o personagem
da semana. Com esse nome cordial e alegre de anedota ele tomou conta da cidade,
do Brasil e, mais do que isso, da Europa. Creiam, amigos: o jogo Brasil x
Rússia acabou nos três minutos iniciais . Insisto: nos três minutos já o seu
Manuel, já o Garrincha, tinha derrotado a colossal Rússia, com a Sibéria e tudo
o mais. E notem: bastava ao Brasil um empate. Mas o meu personagem não acredita
em empate e disparou pelo campo adversário, como um tiro. Foi driblando um,
driblando outro e consta, inclusive, que, na sua penetração fantástica, driblou
até as barbas de Rasputin. Amigos, a desintegração da defesa russa começou
exatamente na primeira vez em que Garrincha tocou na bola. Eu imagino o espanto
imenso dos russos diante deste garoto de pernas tortas, que vinha subverter
todas as concepções do futebol europeu. Como marcar o imarcável? Na sua
imaginação impotente, o adversário olhava Garrincha, as pernas tortas e
concluía: “Isso não existe!”. E eu, como os russos, já me inclino a acreditar
que de fato domingo Garrincha não existiu. Foi para o público internacional uma
experiência inédita. Realmente, jamais se viu, num jogo de tamanha
responsabilidade, um time, ou melhor, um jogador começar a partida com um
baile. Repito: baile sim, sim, baile! E o que dramatiza o fato é que foi baile
não contra um perna-de-pau, mas contra o time poderosíssimo da Rússia. Só um
Garrincha poderia fazer isso. Porque Garrincha não acredita em ninguém e só
acredita em si mesmo. Se tivesse jogado contra a Inglaterra, ele não teria dado
a menor pelota para a rainha Vitória, o Lord Nelson e a tradição naval do
adversário. Absolutamente. Para ele, Pau Grande, que é a terra onde nasceu,
vale mais que toda comunidade britânica. Com esse estado de alma, plantou-se na
sua ponta para enfrentar os russos. Os outros brasileiros poderiam tremer. Ele
não e jamais. Perante a platéia internacional, era quase um menino. Tinha essa
humilhante sanidade mental do garoto que caça cambaxirra com espingarda de
chumbo e que, em Pau Grande, na sua cordialidade indiscriminada, cumprimenta
até cachorro. Antes de começar o jogo, o seu marcador havia de olhá-lo e
comentar para si mesmo, em russo: “Esse não dá para saída!”. E , com dois
minutos e meio, tínhamos enfiado na Rússia duas bolas na trave e um gol. Aqui,
e em toda a extensão do território nacional, começávamos a desconfiar que é
bom, é gostoso ser brasileiro. Está claro que não estou subestimando o peito
dos outros jogadores brasileiros. Deus me livre. Por exemplo, cada gol de Vavá
era um hino nacional. Na defesa, Bellini chutava até a bola. E quando, no
segundo tempo, Garrincha resolveu caprichar no baile, foi um carnaval sublime.
A coisa virou show de Grande Otelo. E tem razão um amigo, que, ouvindo o rádio,
ao meu lado, sopra-me :”Isso que o Garrincha esta fazendo é pior que xingar a
mãe!”. Calculo que, a essa altura, as cinzas do czar haviam de estar
humilhadíssimas. O marcador do “seu Manuel” já não era um, eram três. E, então,
começou a se ouvir, aqui no Brasil, na praça da Bandeira, a gargalhada cósmica tremenda
do público sueco. Cada vez que Garrincha passava por um, o público vinha
abaixo. Mas não creiam que ele fizesse isso por mal. De modo algum. Garrincha
estava ali com a mesma boa fé inefável com que, em Pau Grande, vai chumbando as
cambaxirras, os pardais. Via nos russos a inocência dos passarinhos desterrados
de Pau Grande. Calculo que, lá pelas tantas, os russos, na sua raiva obtusa e
inofensiva, haviam de imaginar que o único meio de destruir Garrincha era
caçá-lo a puladas. De fato, domingo, só a pauladas e talvez nem isso, amigos,
talvez nem assim." NELSON RODRIGUES (Manchete Esportiva, 21/6/1958) Brasil
2 x 0 União Soviética, 15/6/1958, em Gotemburgo (Suécia). A URSS era apontada
como o grande fantasma da Copa por seu "futebol científico". https://www.facebook.com/botafogofotos
RARIDADE: Curta o
Facebook de fotos históricas do Botafogo, constantemente atualizado
Um
gênio no jogo de damas chamado Sokov
Lélio Sarcedo
Publicado em 13 de fev de 2015
Vasily Alexandrovich Sokov, um dos maiores gênios do
jogo de damas de toda a história. Nasceu em 1912 e faleceu em 1944, na frente
de batalha da ex-União Soviética contra os alemães na Segunda Guerra Mundial.
Sokov foi campeão da ex-União Soviética, morava em Leningrado, e foi um dos
responsáveis pelo grande avanço técnico do jogo de damas. Era um jogador muito
criativo. Jogava em função de fazer combinações complexas. E contra
combinações. Neste vídeo abordo duas posições ocorridas em duas partidas
jogadas por Sokov. A primeira contra Lerner, onde Sokov vence com uma magnífica
idéia de prisão. E a segunda contra Kazanski, onde Sokov vence com uma contra
combinação de um tema clássico. Um tema, a propósito, muito trabalho No
Treinamento de Cálculo. Sokov mostra nessas duas contra combinações todo seu
poder de análise e cálculo. Sokov, sem dúvidas, sempre terá seu nome cravado na
lista dos melhores do mundo na história do jogo de damas. Sokov, além de um
grande jogador, também foi um grande compositor. Criou inúmeros finais
clássicos e inúmeras posições combinativas de uma qualidade impressionante.http://youtu.be/xUb3FZ_59U4
Bakumenko,
Sábio e "Malandro"no jogo de damas
Lélio Sarcedo
Publicado em 2 de jan de 2015
Mexendo nas minhas coisas neste final de ano
encontrei uma foto de Bakumenko, de 1968. E aí lembrei-me de uma partida que
Bakumenko jogou contra Romanov, em 1931, onde ele mostra todo o seu lado sábio
e "malandro" ! Ele faz um lance sutil e engana o Grande Mestre
Romanov e ganha com uma contra-combinação muito bonita. Bakumenko veio para o
Brasil após a Segunda Guerra Mundial e viveu em São Paulo até 1968, quando faleceu.
Bakumenko foi um dos maiores jogadores de toda a história da União Soviética,
onde foi campeão em 1927. Veja mais no www.lelio.com.br.http://youtu.be/8KTXiSHqREw
Plínio Marcos Nas Quebradas do Mundaaréu - Trailer