segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O felino salta, a ave alça vôo.

O Leopardo e o Drama de Angélica na Pátria Alfabetizadora de Adultos em Construção


O Leopardo








Por Jorge Magalhães



O gato, felino animal caçador, espreita com seus grandes olhos amarelos de assassino, o pardal que bica o chão. O gato pardo, oculta-se entre as folhas rasteiras. De repente, o felino salta. Porém, mais esperto, a ave alça vôo, escapando-lhe das garras ferinas. Decepcionado, o felino mia para o céu, maldizendo a natureza por não ter-lhe dado asas.
(Do livro “Punhal de Dois Gumes”, Edições Uirá, 1994)
Antonio Peres Pacheco
Enviado por Antonio Peres Pacheco em 01/02/2008
Código do texto: T842079



EDGAR ALLAN POE – FICÇÃO COMPLETA – CONTOS DE TERROR, MISTÉRIO E MORTE

“(...) Para a muito estranha embora muito familiar narrativa que estou a escrever, não espero nem solicito crédito. Louco, em verdade, seria eu para esperá-lo, num caso em que meus próprios sentidos rejeitam seu próprio testemunho. Contudo, louco não sou e com toda a certeza não estou sonhando. Mas amanhã morrerei e hoje quero aliviar minha alma. Meu imediato propósito é apresentar ao mundo, plena, sucintamente e sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Pelas suas conseqüências, estes acontecimentos, me aterrorizam, me torturaram e me aniquilaram. Entretanto, não tentarei explicá-los. Para mim, apenas se apresentam cheios de horror. Para muitos, parecerão menos terríveis do que grotescos. Mais tarde, talvez, alguma inteligência se encontre que reduza meu fantasma a um lugar comum, alguma inteligência mais calma, mais lógica, menos excitável do que a minha e que perceberá nas circunstâncias que pormenorizo com terror apenas a vulgar sucessão de causas e efeitos, bastante naturais. (...)”




“Horário eleitoral de Dilma na TV esconde símbolos do PT

Terça-feira, 14 de setembro de 2010

 

Programas deixam de lado a estrela, a cor vermelha e depoimentos de lideranças do partido.
Por Ranier Bragon, Marcio Falcão e Flávia Foreque

 

A estratégia é comandada pelo marqueteiro João Santana, o mesmo da campanha de Lula à reeleição, em 2006, quando já reduziu referência ao PT por conta do mensalão.





Por Patrícia



"(...) A situação de Dom Fabrizio fica ainda mais delicada quando seu sobrinho Tancredi (que lutou A FAVOR da Revolução) decide que quer casar-se com a filha de um dos burgueses ricos da cidade, Angélica.



 Ao arranjar o casamento, Dom Fabrizio percebe que o pai da noiva dará ao casal um dote impressionante e muito acima do que ele poderia sonhar.


A humilhação é palpável.

Mas não deixa de ser uma manobra inteligente – casar seu sobrinho com a filha de um dos burgueses mais ricos da região pode garantir uma sobrevida à aristocracia de Salinas. (...)"



“O LEOPARDO, OU A ÉTICA DA COMPAIXÃO

Luiz Carlos Bresser Pereira



“(...) Como toda obra de arte, há muitas formas de interpretar O Leopardo. A mais óbvia é pensá-la, no plano político, como a análise de um episódio histórico: o da transição do poder, na Sicília, da aristocracia proprietária de terras para a burguesia liberal, e a cooptação desta por aquela. Mas talvez seu segredo esteja no plano ético: em apresentar um personagem excepcional, o príncipe de Salina, que nos faz pensar no sentido da vida, que nos obriga a distinguir os homens e mulheres diferenciados dos comuns, sem cairmos no risco do super-homem, mas pensando no conceito de compaixão. Examinarei em seguida estes dois aspectos. (...)”



Política, literatura e cinema em Lampedusa e Visconti”

Rosemary Segurado* Rodrigo Estramanho de Almeida**

Resumo: Este artigo tem por objetivo estabelecer uma compreensão acerca da temática da política a partir de uma obra literária, no caso o romance O Leopardo (1954) de Giuseppe Tomasi de Lampedusa e de um filme adaptado desta mesma obra, o homônimo O Leopardo (1963) de Luchino Visconti.

 Abstract: This article aims to establish an understanding about the theme of politics as a literary work, for the novel The Leopard (1954) by Giuseppe Tomasi de Lampedusa and a film adaptation of that work, titled The Leopard (1963) by Luchino Visconti.

As relações entre arte e política possibilitam a ampliação das dimensões de pensamento sobre um conjunto de fenômenos sociais. O debate em torno destas tem se mostrado fecundo para a expansão do objeto da política. Para melhor compreendermos a dinâmica política de uma época, a arte oferece, por meio de expressões estéticas, um conjunto de indícios a respeito da plêiade de questões da realidade social, econômica e política.




 Alvarenga e Ranchinho - O Drama da Angélica em 4 Atos


"Cá jaz Angélica
Moça hiperbólica
Beleza Helênica
Morreu de cólica!"





Ouve meu cântico quase sem ritmo
Que a voz de um tísico magro esquelético
Poesia épica em forma esdrúxula
Feita sem métrica com rima rápida

Amei Angélica mulher anêmica
De cores pálidas e gestos tímidos
Era maligna e tinha ímpetos
De fazer cócegas no meu esôfago

Em noite frígida fomos ao Lírico
Ouvir o músico pianista célebre
Soprava o zéfiro ventinho úmido
Então Angélica ficou asmática

Fomos ao médico de muita clínica
Com muita prática e preço módico
Depois do inquérito descobre o clínico
O mal atávico mal sifilítico

Mandou-me célere comprar noz vômica
E ácido cítrico para o seu fígado
O farmacêutico mocinho estúpido
Errou na fórmula fez despropósito

Não tendo escrúpulo deu-me sem rótulo
Ácido fênico e ácido prússico
Corri mui lépido mais de um quilômetro
Num bonde elétrico de força múltipla

O dia cálido deixou-me tépido
Achei Angélica já toda trêmula
A terapêutica dose alopática
Lhe dei em xícara de ferro ágate

Tomou num fôlego triste e bucólica
Esta estrambólica droga fatídica
Caiu no esôfago deixou-a lívida
Dando-lhe cólica e morte trágica

O pai de Angélica chefe do tráfego
Homem carnívoro ficou perplexo
Por ser estrábico usava óculos
Um vidro côncavo o outro convexo

Morreu Angélica de um modo lúgubre
Moléstia crônica levou-a ao túmulo

Foi feita a autópsia todos os médicos
Foram unânimes no diagnóstico
Fiz-lhe um sarcófago assaz artístico
Todo de mármore da cor do ébano

E sobre o túmulo uma estatística
Coisa metódica como Os Lusíadas
E numa lápide paralelepípedo
Pus esse dístico terno e simbólico

"Cá jaz Angélica
Moça hiperbólica
Beleza Helênica

Morreu de cólica!"


Sonho e Utopia: uma reflexão sobre o texto literário no processo de escolarização básica de adultos”

Elisiani Vitória Tiepolo
Dissertação apresentada como requisito parcial à  obtenção do grau de Mestre em Literatura, Curso de  Pós­Graduação, Setor de Ciências Humanas, Letras  e Artes, Universidade Federal do Paraná. 
Orientador: Prof. Dra. Marta Morais Costa
1996

Essa  literatura oral,  produzida pelas  classes  populares,  contém embriões  da literatura escrita, ou como bem traduziu Cecília Meireles, “o gosto de contar é idêntico ao  gosto de escrever ­ e os primeiros narradores são os antepassados anônimos de todos os escritores. O gosto de ouvir é como o gosto de ler. Assim, as bibliotecas, antes de serem  estas  infinitas  estantes,  com vozes  presas  dentro dos  livros, foram vivas  e humanas,  rumorosas, com gestos, canções, danças entremeadas às narrativas”42 .

42 MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 49.

O  tom  satírico da canção é conseguido, basicamente, pela seleção vocabular,  determinada pela escolha de somente palavras  proparoxítonas  para o final de todos  os  versos. Disso decorre a justaposição de palavras  aparentemente desconexas  mas  que assumem um novo significado no interior da canção, como por exemplo nos versos “Era maligna/E tinha ímpetos/ De fazer cócegas/ No meu esôfago”;  ou  em “noite frígida”,  numa apropriação propositadamente indevida de uma palavra que sonoramente remete a idéia de frio; ou ainda em “bonde elétrico/ De força múltipla” e em “homem carnívoro”.  Além  disso, a utilização de determinados  arcaísmos  (“Fomos  ao lírico...Soprava o  zéfiro...mui lépido...a terapêutica...assaz artístico”) se conjuga muito bem com a história narrada, muito semelhante a dos  folhetins românticos: “É a voz de um tísico/ Magro e esquelético...Amei Angélica/ Mulher anêmica/ De cores pálidas...E gestos tímidos”. Outro  aspecto que merece destaque é a utilização de determinados  termos  ou referenciais  próprios de uma cultura dita erudita que são parodiados pelos compositores e desta forma  ridicularizados:  “mal atávico...triste, bucólica...droga fatídica...Coisa metódica/ Como os  Lusíadas...Pus este dístico...Beleza helênica”. Outro recurso interessante é a utilização das  palavras  “perplexo”,  que pode ser lida [perpléquiço] e “convexa”, pode ser lida [convéquiça], e consideradas, portanto, como proparoxítonas. E, não podemos deixar de nos divertir também, no final da canção, com o cacófato “Cá jaz Angélica”. Temos, ainda,  um trecho metapoético que merece ser ressaltado: “Ouve meu  cântico/ Quase sem  ritmo...Poesia épica/ Em forma esdrúxula/ Feita sem métrica/ Com rima rápida”. Se não  podemos verificar a falta de ritmo e métrica na canção (todas as 4 estrofes de 24 versos  são compostas por tetrassílabos, quebrados apenas pela palavra “paralelepípedo”) é certo  que o tom épico e a falta de preocupação com as rimas são corretamente indicadas, se bem que compensados pelo ritmo e pelo acento proparoxítono. Então, é possível verificar que a canção de Alvarenga e Ranchinho é fruto de uma precisa elaboração poética que tem como eixo a utilização paródica de palavras proparoxítonas. E parece também correto  afirmar que mesmo que os  alunos  desconheçam a teoria que denomina esse fato ­ ou  seja,  mesmo que não sejam capazes  de nomear esse  grupo de palavras  como  proparoxítonas  ­ é possível a qualquer um deles  perceber a recorrência da acentuação sempre numa mesma sílaba e, conseqüentemente, perceber o ritmo da canção;  e, ainda,  perceber que palavras  um  tanto quanto antigas  aparecem para contar uma história que também parece antiga;  ou que palavras  tão difíceis  estejam contando a história de uma  moça tão pura e singela, de nome tão incomum que morreu de cólica (ou  de dor de barriga, como diriam alguns); e que “Cá jaz Angélica” soa esquisito e parece o nome de uma fruta bastante conhecida pelos nordestinos ­ cajá. Enfim, não será à ­toa o riso dos  ouvistes, sejam eles  analfabetos ou não. A utilização de palavras proparoxítonas também  foi o principal recurso utilizado por Chico Buarque, em sua canção Construção, porém  com efeitos bem distintos:
                                                
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único 
E atravessou a rua com seu passo tímido 
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas 
Tijolo por tijolo num desenho mágico 
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado 
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago 
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um pássaro 
E se acabou no chão feito um pacote flácido 
Agonizou no meio do passeio público 
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último 
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo 
E atravessou a rua com seu passo bêbado 
Subiu a construção como se fosse sólido 
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo por tijolo num desenho lógico 
Seus olhos embotados de cimento e tráfego 
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo 
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo 
E tropeçou no ar como se fosse sábado 
E se acabou no chão feito um pacote tímido 
Agonizou no meio do passeio náufrago 
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico 
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas 
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro 
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado 
Morreu na contramão atrapalhando o sábado 44


44 HOLLANDA, Chico Buarque de. Chico Buarque, letra e música. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.




Mesmo que os alunos não conheçam a canção de Chico Buarque o procedimento  estético utilizado por ele pode soar-­lhes  conhecido se esta canção for apresentada logo  após  de Alvarenga e Ranchinho.  Obviamente desconhecerão este nível de elaboração  textual. Afinal, a canção de Chico Buarque é uma construção na qual os mesmo termos  vão sendo recolocados  e adquirem novos sentidos  nesse  processo. Além de sugerir que esta comparação seja feita com os alunos, gostaria de ressaltar a ironia presente no fato de que enquanto a canção de Chico Buarque é considerada antológica na música popular brasileira (é motivo, inclusive, de muitas análises literárias) outras construções igualmente criativas  e bem elaboradas ­ como O Drama de Angélica ­ deixam de sê-­lo exatamente porque provêm da cultura popular. 



Chico Buarque – Construção







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