terça-feira, 17 de novembro de 2015

MARIANA PARIS SENTIMENTOS DO MUNDO



Temos o sentimento do mundo
Não importa se imundo
Eu e Raymundo
Raiamos o mundo!

Mariana pleonasmo de Maria
Ou metáfora de Itabira
Uma ilustração de família
Ou mina de lama a escorrer pro mar
Uma imagem dinâmica na tela do lar!

Mais que dói

Corrói na incerta mira!

Tão certeira quanto incerta artilharia
Em Paris ecoando pelo o mundo
Despertando sentimentos estranhos
De pavor
Coragem
Covardia
Resistência!
Rancor
E dor!






Do UOL, no Rio*

10/11/201510h43

"Segundo o biólogo André Ruschi, diretor da escola Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi, em Aracruz (ES), a onda de lama que desce pelo rio Doce atingirá, no total, uma área de cerca de 10 mil quilômetros quadrados no litoral capixaba - área equivalente a mais de seis vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
Haverá impacto, afirmou o especialista, em três unidades de conservação marinhas: Comboios, Área de Proteção Ambiental Costa das Algas e Refúgio da Vida Silvestre de Santa Cruz, que somam aproximadamente 200 mil hectares no mar."

Desastre em Mariana (MG) custará até R$ 14bilhões, dizem técnicos

 



Relator de Código da Mineração sugere que Samarco provisione valores neste ano; empresa faz acordos com Ministério Público



Divisa de Minas e Espírito Santo. Lama chega e motiva fim da captação de água



GABRIELA BILÓ/ESTADÃO>
Guiando um barco com motor de popa, o pescador Eli da Silva Soares, o Paco, de 38 anos, percorre com cautela parte da região afetada e tem olhos aguçados para apontar de longe peixes que agora flutuam mortos na superfície do rio


16 de novembro de 2015 - 18:43

Em pronunciamento a deputados e senadores, presidente francês quer mudar Constituição para agir contra o terrorismo

POR AGÊNCIA BRASIL

Em pronunciamento no Parlamento, presidente francês pede mudança na Constituição para combater El

MÊME PAS PEUR (Sem Medo)

Parisienses de todas as idades prestam homenagens aos mortos nos atentados da última sexta em vários pontos da cidade


 “esse amanhecer
mais noite que a noite.”


Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.


“Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.”


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


O dia vai raiar
Pra gente se inventar de novo”

 

 

Tempo de Pipa

Cícero



Quando você vem ou não?
O que você quer de mim?
Deixo por aí
O que você tem?
De onde você é?
Pode me esquecer
Se você quiser
Ou se deixar chover
Se você vier

Eu vou te acompanhar de fitas
Te ajudo a decorar os dias
Te empresto minha neblina
Vamos nos espalhar sem linhas
Ver o mundo girar de cima
No tempo da preguiça
preguiça

Mas tudo bem
O dia vai raiar
Pra gente se inventar de novo
Mas tudo bem
O dia vai raiar
Pra gente se inventar de novo

O que você é, enfim?
Onde você tem paixão?
Segue por aí
Eu não sou ninguém de mais
E você também não é
É só rodopiar
Em busca do que é belo e vulgar
É só rodopiar
Em busca do que é belo e vulgar

Vamos onde ventar, menina
Foi bom te encontrar la em cima
Odeio despedidas

Mas tudo bem
O dia vai raiar
Pra gente se inventar de novo
Mas tudo bem
O dia vai raiar
Pra gente se inventar de novo

E o mundo vai nascer de novo

E o mundo vai nascer de novo



Detalhe da Assunção da Virgem, seu painel mais conhecido, na Igreja de São Francisco de Ouro Preto.







A igreja era grande e pobre. Os altares, humildes.
Havia poucas flores. Eram flores de horta.
Sob a luz fraca, na sombra esculpida
(quais as imagens e quais os fiéis?)
ficávamos.

Do padre cansado o murmúrio de reza
subia às tábuas do forro,
batia no púlpito seco,
entranhava-se na onda, minúscula e forte, de incenso,
perdia-se.
Não, não se perdia...
Desatava-se do coro a música deliciosa
(que esperas ouvir à hora da morte, ou depois da morte, nas campinas do ar)
e dessa música surgiam meninas – a alvura mesma –
cantando.

De seu peso terrestre a nave libertada,
como do tempo atroz imunes nossas almas,
flutuávamos
no canto matinal, sobre a treva do vale.


“E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!”




Carlos Drummond de Andrade
 
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e    comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!



Igreja de São Francisco de Mariana





‘E o poeta Murilo Mendes teve medo na guerra, em um verso eterno:’
 -“Bombardear Paris é destelhar a casa de meu pai.”


Sebastião Nery
RIO – Em Paris, desde a primeira vez, em 1955, eu pensava em Gilberto Amado, sergipano de Estância e universal como todo gênio: – “Uma rua de Paris é um rio que vem da Grécia”. Para mim, o rio correu até minha Jaguaquara, na Bahia.
O sábio Paulo Rónai também lembrou Hemingway sobre Paris: – “Se tens a sorte de ter vivido em Paris quando moço, por onde quer que andes o resto de tua vida ela estará contigo porque é uma festa móvel”.
E o poeta Murilo Mendes teve medo na guerra, em um verso eterno: -“Bombardear Paris é destelhar a casa de meu pai.”
O TERROR
Cada um vê Paris com os olhos de sua alma. Meu gordo e saudoso amigo Antonio Carlos Vilaça falava dela como da primeira escola: – “Paris foi importante para minha geração, uma geração que lia autores franceses. Em Paris pensávamos, éramos”.
São 60 anos. Minha Paris é uma história de 60 anos. De 1955 quando lá estive pela primeira vez até a semana passada, quando mais uma vez deixei Paris depois de mais um mês lá, como faço todo ano. Eu enrolava minha saudade e a canalha terrorista enrolava suas bombas assassinas.
Não consigo imaginar destruída a cidade onde mais sonhei, mais aprendi, mais amei, mais cresci, mais vivi.

A bondade nos tempos de guerra

 

O que solda afetivamente essas duas localidades é o rádio. Em Zollverein, os órfãos Werner e Jutta ouvem um programa transmitido de Saint-Malo, adquirindo um sentimento francês pela música e por aulas de ciência. Pela primeira vez na nossa história houve a possibilidade de eventos distantes serem vivenciados contemporaneamente. Um exemplo nacional é o do poeta mineiro Murilo Mendes, que presenciou o avanço dos alemães por meio do rádio, o que mostra o grau de globalização empreendido por esta invenção: “No ato de bombardear Paris destelhavam a casa de meu pai”, diz o poeta em “Fragmentos de Paris”. A casa de seu pai ficava em Juiz de Fora, mas estava colada à capital francesa, fazendo parte dela.






MARIE-LAURE VIVE EM PARIS, PERTO DO MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL, ONDE SEU PAI É O CHAVEIRO RESPONSÁVEL POR CUIDAR DE MILHARES DE FECHADURAS.


Quando a menina fica cega, aos seis anos, o pai constrói uma maquete em miniatura do bairro onde moram para que ela seja capaz de memorizar os caminhos. Na ocupação nazista em Paris, pai e filha fogem para a cidade de Saint-Malo e levam consigo o que talvez seja o mais valioso tesouro do museu.
Em uma região de minas na Alemanha, o órfão Werner cresce com a irmã mais nova, encantado pelo rádio que certo dia encontram em uma pilha de lixo. Com a prática, acaba se tornando especialista no aparelho, talento que lhe vale uma vaga em uma escola nazista e, logo depois, uma missão especial: descobrir a fonte das transmissões de rádio responsáveis pela chegada dos Aliados na Normandia. Cada vez mais consciente dos custos humanos de seu trabalho, o rapaz é enviado então para Saint-Malo, onde seu caminho cruza o de Marie-Laure, enquanto ambos tentam sobreviver à Segunda Guerra Mundial.
Uma história arrebatadora contada de forma fascinante. Com incrível habilidade para combinar lirismo e uma observação atenta dos horrores da guerra, o premiado autor Anthony Doerr constrói, emToda luz que não podemos ver, um tocante romance sobre o que há além do mundo visível.


Sentimento do Mundo - Análise da obra de Carlos Drummond de Andrade



"Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.

 

— Ó vida futura! nós te criaremos

 

 

Carlos Drummond de Andrade declamando seu poema "MUNDO GRANDE"






Os homens célebres visitam a cidade.
Obrigatoriamente exaltam a paisagem.
Alguns se arriscam no Mangue,
outros se limitam ao Pão de Açúcar,
mas somente Georges Duhamel
passou a manhã inteira no meu quintal.
Ou antes, no quintal vizinho do meu quintal.
Sentado na pedra, espiando os mamoeiros,
conversava com eminente neurologista.

Houve uma hora em que ele se levantou
(em meio a erudita dissertação científica).
Ia, talvez, confiar a mensagem da Europa
aos corações cativos da jovem América...
Mas apontou apenas para a vertical
e pediu ce cocasse fruit jaune.



“O presente é tão grande, não nos afastemos

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”

 

 

Mãos Dadas

Carlos Drummond de Andrade

 

Não serei o poeta de um mundo caduco

Também não cantarei o mundo futuro

Estou preso à vida e olho meus companheiros

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças

Entre eles, considero a enorme realidade

O presente é tão grande, não nos afastemos

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

 

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história

Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela

Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida

Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes

A vida presente





A contemporaneidade de “Elegia 1938”, de CarlosDrummond de Andrade

 

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.

 

Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

 

“Elegia 1938”, de Carlos Drummond de Andrade:
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.


parir 
pa.rir

 
(lat parere)

 

 vtd e vint 1 Dar à luz, expelir do útero (falando-se de fêmea vivípara, inclusive a mulher, em relação ao ser que conceber);

 

desemprenhar, desprenhar: "Nem bem seis meses passaram e a Mãe do Mato pariu um filho encarnado" (Mário de Andrade).

 

 "O seu touro gera, e não falha; pare a sua vaca, e não aborta" (Livro de Jó, 21, 10 - tradução de J. F. de Almeida).

 

 

 vt 2 Arremessar expelir: Flechas e pedras paria a catapulta.

 

 

 vtd 3 Causar, produzir: Muitos males pare o ócio.













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