quinta-feira, 12 de maio de 2016

Rachas, Rachaduras, Agregações e Reatamentos




7 Agredir, bater, ferir, causando fenda ou racha: "Em coisas de dignidade sou uma fera! Rachava-o!" (Eça de Queirós, ap Morais).




Fernando Collor vota SIM pelo impeachment de Dilma - 11/05/2016

Publicado em 11 de mai de 2016
Votação no senado. Fernando Collor decide votar a favor do impeachment de Dilma.Collor relembra impeachment de 1992 e faz críticas a Dilma. Votação da instauração do impeachment de Dilma no Senado. Votação do impeachment no Senado. votação pela TV Senado. Senado vota abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Fernando Collor de Mello. discurso de Collor. Discurso Histórico de FERNANDO COLLOR no impeachment de DILMA ROUSSEFF. discurso de fernando collor. Discurso Histórico de fernando collor Brazil in Crisis

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Roda Viva 1989 - Ulysses Guimarães no centro do Roda Viva

                
25/04/2016 13h16
São Paulo
Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (25) que o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff está sendo conduzido por uma “quadrilha legislativa”. Lula participa de encontro promovido pela Aliança Progressista, uma rede internacional de partidos e organizações de esquerda. Com a voz rouca, o discurso do ex-presidente foi lido pelo diretor do Instituto Lula, Luiz Dulci.
“Uma aliança oportunista entre a grande imprensa, os partidos de oposição e uma verdadeira quadrilha legislativa, que implantou a agenda do caos”, disse Lula em discurso lido por Dulci. Do lado de fora do hotel onde ocorre o seminário, manifestantes favoráveis ao impeachment trocam provocações com grupos que apoiam o governo.
Após Dulci ter lido o discurso, o ex-presidente falou alguns minutos de improviso.  Segundo Lula, os deputados federais não analisaram com equilíbrio os argumentos sobre o impedimento da presidenta, e resolveu pela abertura do processo de forma sumária. “Ali não houve uma mínima análise de argumentos e provas. Houve um pelotão de fuzilamento, comandado pelo que há de mais repugnante no universo político”, criticou o ex-presidente.
“Essa operação foi comandada pelo presidente da Câmara dos Deputados, réu em dois processos por corrupção, investigado em quatro inquéritos e apanhado em flagrante ao mentir sobre suas contas secretas na Suíça”, disse em referência a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, de acordo com Lula, aceitou a tramitação do processo de impeachment como vingança. “Quando os deputados do PT se recusaram a acobertá-lo no Conselho de Ética, o presidente da Câmara abriu o procedimento do impeachment”.
Uma das razões da ação para a saída de Dilma é, segundo Lula, abafar as investigações e o combate à corrupção no país. “Os golpistas querem voltar ao poder para controlar, justamente a polícia. Intimidar o Ministério Público e a Justiça, como fizeram no passado. Para restabelecer o reino da impunidade que sempre os preservou”.
Saiba Mais
O agravamento da crise política, que criou o cenário propício ao impedimento da presidenta, foi uma estratégia dos opositores ao governo, disse o ex-presidente. “Enquanto o governo se esforçava para equilibrar as contas públicas, cortando na própria carne, a oposição trabalhava para agravar a crise. Foram 18 meses de sabotagem no Legislativo, com a cumplicidade dos grandes meios de comunicação, que difundem o pessimismo e a incerteza 24h por dia”, disse.
Falando de improviso, o ex-presidente comparou o processo atual contra Dilma ao golpe que instaurou a ditadura militar no país. “Tirar a Dilma do jeito que eles querem tirar é a maior ilegalidade desde a revolução de 1964, no golpe militar”, comparou.
Os argumentos usados atualmente são, de acordo com Lula, semelhantes aos proferidos para derrubar governos e instaurar os regimes nazista e fascista na Alemanha e na Itália, respectivamente, na primeira metade do século 20. “O argumento é sempre o mesmo: acabar com a corrupção. Foi assim que Hitler cresceu, foi assim que Mussolini cresceu, é assim que a direita cresce em todos os países da América Latina”.
Para Lula, internacionalmente há o agravamento de crises políticas e econômicas, que afetam, em especial, os países latino-americanos. “Depois da crise de 1929, nunca tivemos uma situação como essa. Nós temos o mundo rico fracassado, o Brics [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] vivendo problemas sérios e a América Latina retrocedendo, não apenas do ponto de vista econômico, a do ponto de vista da democracia”.
Presidente do PT
No mesmo evento, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse que o vice-presidente Michel Temer prepara plano contra os direitos civis e sociais, caso assuma a Presidência da República. “Traidor de sua colega de chapa, contra a qual conspira abertamente, Temer já anunciou um programa antipopular, de supressão de direitos civis e sociais, de privatizações e de entrega do patrimônio nacional a grupos estrangeiros”, disse em discurso no seminário.
O presidente do PT voltou a dizer que não existem os indícios necessários para que Dilma Rousseff seja processada por crime de responsabilidade. “Ocorre que a lei maior brasileira exige, para que o impedimento se processe, a existência de crime de responsabilidade cometido pela presidenta. Como todos sabem, porém, a presidenta Dilma não cometeu crime algum. Não pesa contra ela qualquer denúncia de corrupção ou de recebimento de propina”, acrescentou.
Edição: Carolina Pimentel





25/04/2016 15:54 







PSDB deve indicar nomes para o governo de Temer, diz FHC

Fábio Zanini, Natuza Nery – Folha de S. Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende a entrada do PSDB num eventual governo Michel Temer, com indicação de cargos. Segundo ele, o partido tem "responsabilidade política" e não pode se recusar a participar.

O partido está rachado: FHC coloca-se ao lado do senador José Serra, cotado para o governo, na defesa de indicação de ministros. Do outro lado está o governador Geraldo Alckmin, que advoga apenas apoio congressual. O partido tomará uma decisão no próximo dia 3.

Apesar de defender o impeachment, FHC diz que a presidente Dilma não é "criminosa" e afirma que "é bom" que o PT se mantenha como força política. Otimista, diz que sua confiança de que Temer fará uma boa gestão atinge 7, numa escala de 0 a 10. "Mas sou realista também. [Temer] É o que tem".

*
Folha - O PSDB deve ter cargos em um governo Temer?

Fernando Henrique Cardoso - Não se pode colocar o carro adiante dos bois. Temer não é presidente ainda. Sendo presidente, tem que dizer o que quer. Na situação atual, tem que pensar no país. Tem que ver qual é o núcleo fundamental do governo, decidir quais são as áreas e qual o programa.

Esse programa do Temer, "Uma Ponte para o Futuro", tem corte liberal. O PSDB se sente confortável com ele?

É mais liberal. Mas depende de que venha outro da área social. Tem que ver como eles vão equilibrar isso aí. O PSDB tem responsabilidade política pelo que está acontecendo, porque apoiou o impeachment. Então não pode simplesmente dizer não entro [no governo]. Eu sou propenso a entrar desde que as condições sejam explicitadas. Entrar como partido, indicando nomes, porque a situação do Brasil é mais grave do que aparece.

Não é ruim ser sócio minoritário de um governo que não é seu, numa situação de crise?

A política é um jogo arriscado. Quem está nessa tem de estar sempre preparado para sair do governo. Se não for por um certo caminho, você não tem razão para continuar. Não pode, por exemplo, interferir na Lava Jato.

O senhor tem medo que algum acordão aconteça?

Não acredito que haja condição de acontecer.

Mas acha que vão tentar?

Que vão tentar, vão. Não por ser governo do PMDB, é porque abrange tanta gente que certamente vão tentar. O PSDB deve estar disposto a dizer: "nessa eu não entro".

É possível entrar num governo que promete corte de gastos, desvinculação orçamentária, talvez reduzir Bolsa Família?

Não se trata de cortar, se trata de dar um sentido mais realista e eficiente aos programas. Todos os programas do Brasil padecem da falta de avaliação. Isso não é ser de esquerda nem de direita, isso é ser racional. O governo, queira ou não, não tem mais de onde tirar dinheiro. Eu nem vou discutir aumento de imposto, porque vai haver.

É inevitável?

Inevitável. Basta olhar as contas. Se depender de mim, o PSDB apoiaria [aumento]. Depende de qual, né?

CPMF?

Não sei. CPMF é muito regressivo, eu fiz e depois defendi a queda dele. Precisa ver. Se eu fosse o presidente colocaria no Ministério da Fazenda alguém que entendesse de duas coisas: política fiscal e Congresso.

O sr. colocaria o Serra?

O Serra é um que poderia. Mas tem vários que podem.

Henrique Meirelles?

O Meirelles é mais política monetária do que fiscal. Nós não temos problema cambial neste momento. O Armínio também entende [da área fiscal], o Pedro Parente, tem várias pessoas.

Até que ponto pode atrapalhar o fato de Temer não ter a legitimidade de ter sido eleito como cabeça de chapa?

Isso é um fato. Ele tem a legitimidade democrática, porque teve tantos votos quanto a Dilma, embora muitas pessoas não saibam. Agora, como é que ele pode ter legitimidade, ser aceito? É pela realização, é pelo que fizer. Depende, em grande medida, da capacidade que tem em aglutinar.

O senhor se referiu a Dilma como uma mulher honesta.

Sempre.

Parece justo o impeachment de uma mulher honesta?

A Dilma não é criminosa. O processo é político. Com base jurídica, mas é político. Quando você perde a capacidade de agregar e de dar direção ao país, fica numa posição frágil. Infelizmente, o governo da presidente Dilma se desmilinguiu. Ela cometeu crime de responsabilidade fiscal e contra lei orçamentária, são ações concretas.

O sr. foi uma espécie de primeiro-ministro de Itamar. Temer deveria ter um também?

Se o Temer souber falar com o país, não precisa de primeiro-ministro nenhum.

Não parece ser o perfil dele...

As pessoas têm de usar a ocasião e mudar.

Se o Temer fizer uma gestão satisfatória, pode disputar a reeleição em 2018?

Se o povo quiser, não há o quer fazer. É bom para o PSDB? Não, o PSDB quer ir direto para o governo, mas se Temer for bom, e o Brasil quiser isso...

Como o sr. vê o futuro do PT?

O PT tem enraizamento, portanto ele vai permanecer. E é bom que permaneça. Erradicar o PT, criminalizar o PT não tem o meu apoio.

Numa escala de 0 a 10, qual o grau de confiança de que o governo Temer vai funcionar?

Sete.

Quanto otimismo, hein?

Eu sou otimista, pelo Brasil. Se não acreditarmos nas coisas, você não muda nada. E sou realista ao mesmo tempo. É o que tem. Não é minha escolha. A situação é essa.




25/04/2016 15:54


“Revolução de 1964”
“Valorizamos a democracia agora”

Tratou com displicência um golpe de estado chamando-o acriticamente de revolução.

Desconsiderou o valor da democracia quando havia ditadura e quando também já não havia.

Chegou ao poder despreparado e arrogantemente.

Dele se afasta vendo-o escapar como se dele nunca tivesse apossado.

Geração de 45

Enfim essa geração de 1945 pegou em “45” e não foi de brincadeira.
A geração de 1945 foi concebida ainda sob uma ditadura. Viu a luz no alvorecer da democracia no Brasil.
Em 1954 tinha menos de dez anos, mas deve ter vaga lembrança do suicídio de um presidente eleito constitucionalmente.
Em 1961, com dezesseis, já deve lembrar da renúncia de um presidente constitucionalmente eleito.
Em 1964, com dezenove, acompanhou pelas ondas do rádio e, se mais abonada pelas redes de TV, à derrubada inconstitucional de um presidente constitucional.
Em 1968, com vinte e três, foi fechado com o fechamento de um regime já fechado, com o tolhimento das liberdades democráticas e do estado democrático de direito.

Foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta segunda-feira (25) do seminário da Aliança Progressista, organização que reúne partidos e movimentos de todo o mundo. Itália, Israel, Argentina, Nepal e Alemanha foram alguns dos países que enviaram representantes ao encontro, realizado em São Paulo. 
O discurso de Lula teve de ser lido por Luiz Dulci, diretor do Instituto Lula, para poupar a voz do ex-presidente. Mas Lula decidiu falar ao microfone  e comentou a crise política brasileira e a tentativa de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. 
Lula agradeceu "aos democratas e progressistas de todos os países que, nesta hora difícil, estão solidários com o povo brasileiro e com a presidenta Dilma Rousseff". "O que está em jogo em nosso país é mais do que o mandato legítimo da presidenta Dilma Rousseff. É o voto soberano de 54 milhões de mulheres e homens, que a escolheram livremente para governar o país", explicou. 
A ruptura democrática em nosso país é uma ameaça não só ao Brasil, mas aos nossos vizinhos: "O que está em jogo é o risco de interromper um processo histórico, que passou pela conquista da democracia e nos levou a avanços extraordinários do ponto de vista social, político e econômico. Um processo histórico que levou à eleição de governos democráticos e populares na ampla maioria dos países da América Latina". 
Segundo o ex-presidente, tais conquistas permitiram melhorar a vida das populações desses países: "No Brasil e na América Latina o processo democrático abriu caminho para a conquista da cidadania e da dignidade por milhões de pessoas que viviam em condições desumanas". 
"O que está em jogo nesse momento é a continuidade do processo democrático no Brasil e em toda a região". disse. 
Comentando o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, Lula afirmou que "no Brasil, a oposição, derrotada nas urnas pela quarta vez consecutiva, optou pela estratégia golpista para voltar ao poder." Os que se opõem ao governo querem implantar "por caminhos autoritários, a agenda neoliberal derrotada nas urnas; a agenda de desconstrução das conquistas sociais e de entrega do patrimônio nacional", afirmou Lula. 
Formou-se "uma aliança oportunista entre a grande imprensa, os partidos de oposição e uma verdadeira quadrilha legislativa, que implantou a agenda do caos", disse. Tal aliança "foi comandada pelo presidente da Câmara dos Deputados, réu em dois processos por corrupção, investigado em quatro inquéritos e apanhado em flagrante ao mentir sobre suas contas escondidas no exterior", afirmou aos líderes estrangeiros presentes no seminário. 
"Não havia e não há, absolutamente, nem fatos nem sustentação jurídica" para o impeachment da presidenta. "Foi um gesto claro de vingança, ao qual se juntaram, sem nenhum pudor, os chefes da oposição derrotada nas urnas", disse o ex-presidente. 
Segundo Lula, "a elite brasileira não suporta 28 anos de democracia". "Não suporta a perspectiva de um partido progressista continuar governando o Brasil".  Sobre a imprensa, afirmou: "Não é possível aceitar que um canal de TV governe o país, que meia dúzia de jornais e revistas diga quem é bom e quem é ruim", disse. Para o ex-presidente, "a imprensa estrangeira está dando uma lição de moral na imprensa brasileira". 
Apesar da crise, o ex-presidente reafirmou sua disposição de resistir ao golpe: "Estou convencido de que esse é um momento de muita luta. Nós só queremos uma coisa: respeitem o voto popular. E se querem ganhar as eleições, esperem por 2018'.
Lula terminou com um recado: "Se alguém está cansado de democracia, é bom avisar, porque nós do PT começamos a gostar dela e não vamos parar". 
Ouça o discurso:


Discurso de Lula no seminário da Aliança Progressista Áudio Completo






25 de abril de 2016 - 13h51




Confira a íntegra do discurso de Lula lido por Dulci no evento:
Companheiros e companheiras,

Quero começar saudando os 42 anos, completados hoje, da Revolução dos Cravos, quando o povo de Portugal libertou-se da ditadura.

O “25 de Abril” tornou-se uma referência para os democratas e os progressistas em todo o mundo, especialmente na América Latina e no Brasil.

Num momento em que vivíamos debaixo da opressão e da tirania, a Revolução dos Cravos nos encheu de esperança.

A vitória do povo português reforçou nossa crença de que sempre vale a pena lutar pela democracia, por um mundo mais justo e por uma sociedade mais igualitária.

Estas são as causas que nos unem e nos levam a lutar sempre, por maiores que sejam os obstáculos. A essas causas dedicamos nossa vida.

É uma honra para o Brasil sediar este encontro da Aliança Progressistas, que congrega partidos e movimentos todas as partes do mundo.

Agradeço de coração aos democratas e progressistas de todos os países que, nesta hora difícil, estão solidários com o povo brasileiro e com a presidenta Dilma Rousseff.

O que está em jogo em nosso país é mais do que o mandato legítimo da presidenta Dilma Rousseff.

É o voto soberano de 54 milhões de mulheres e homens, que a escolheram livremente para governar o país.

O que está em jogo é o risco de interromper um processo histórico, que passou pela conquista da democracia e nos levou a avanços extraordinários do ponto de vista social, político e econômico.

Um processo histórico que levou à eleição de governos democráticos e populares na ampla maioria dos países da América Latina.

E que resultou na melhoria das condições de vida dos trabalhadores e da população mais humilde em quase todos os países dessa região, com mais de 600 milhões de habitantes.

No Brasil e na América Latina o processo democrático abriu caminho para a conquista da cidadania e da dignidade por milhões de pessoas que viviam em condições desumanas.

O que aconteceu em nossa região, neste início do Século 21, foi uma revolução pacífica, comandada pelo voto popular, como nunca antes ocorreu.

Para falar apenas do Brasil, que desde 2003 é governado pelo PT e pelos partidos aliados,

basta lembrar que nesse período tiramos o País do vergonhoso Mapa da Fome.

Libertamos mais de 36 milhões de pessoas da extrema pobreza, criamos mais de 20 milhões de empregos formais e praticamente dobramos o valor real do salário mínimo.

Abrimos as portas da universidade para quase 4 milhões de filhos das famílias mais humildes, da juventude negra das periferias e também dos indígenas.

Reduzimos as diferenças entre os que tinham tudo e os que nada tinham.

Pela via democrática, em pouco mais de uma década de governos progressistas, conseguimos tornar mais justa e equilibrada a América Latina.

Contribuímos para tornar o mundo menos faminto, menos miserável, menos desigual.

Avançando no rumo da liberdade e da justiça, nossa região tornou-se menos vulnerável aos apelos do ódio, da violência política, do terrorismo.

Hoje a América Latina é uma região sem guerras, sem ódio religioso ou étnico. Essa é nossa grande contribuição para o mundo.

O Brasil e a América Latina tornaram-se atores globais, apoiando as causas mais importantes para o planeta: por uma nova ordem econômica, pela proteção e valorização do meio ambiente, pelo multilateralismo, a redução do perigo nuclear, o reconhecimento dos direitos das mulheres e o fim de todas as discriminações.

Contribuímos ativamente na luta pela paz, articulada com a luta pelo desenvolvimento sustentável em escala global.

O que está em jogo nesse momento é a continuidade do processo democrático no Brasil e em toda a região.

Companheiras e companheiros,

É fato que, além dos impactos da crise internacional sobre a nossa economia, a população do Brasil sofre com falhas do governo que precisam ser corrigidas.

É fato que as pessoas estão insatisfeitas e querem retomar o caminho do crescimento.

Mas também é verdade que, no Brasil, a oposição, derrotada nas urnas pela quarta vez consecutiva, optou pela estratégia golpista para voltar ao poder.

Para implantar, por caminhos autoritários, a agenda neoliberal derrotada nas urnas; a agenda de desconstrução das conquistas sociais e de entrega do patrimônio nacional.

Enquanto o governo se esforçava para equilibrar as contas públicas, cortando na própria carne, a oposição trabalhava para agravar a crise.

Foram 18 meses de sabotagem no Legislativo, com a cumplicidade dos grandes meios de comunicação, que difundem o pessimismo e a incerteza 24 horas por dia.

Uma aliança oportunista entre a grande imprensa, os partidos de oposição e uma verdadeira quadrilha legislativa, que implantou a agenda do caos.

Esta operação foi comandada pelo presidente da Câmara dos Deputados, réu em dois processos por corrupção, investigado em quatro inquéritos e apanhado em flagrante ao mentir sobre suas contas escondidas no exterior.

No dia 2 de dezembro do ano passado, quando os deputados do PT se recusaram a acobertá-lo no Conselho de Ética, o presidente da Câmara abriu o procedimento de impeachment.

Não havia e não há, absolutamente, nem fatos nem sustentação jurídica para esse processo.

Foi um gesto claro de vingança, ao qual se juntaram, sem nenhum pudor, os chefes da oposição derrotada nas urnas.

A marcha dos golpistas se acelerou quando a presidenta Dilma me convocou para colaborar com a recuperação do país, assumindo o Ministério da Casa Civil, no dia 16 de março.

Partidos da oposição foram aos tribunais para impedir que a presidenta exercesse esta prerrogativa.

Criaram mais incerteza e instabilidade no horizonte.

Fizeram isso porque não se importam com o país, apenas com seu projeto de poder.

Companheiros e companheiras,

A sociedade brasileira está reagindo com vigor ao golpe do impeachment.

Não são apenas os militantes do PT e nossos aliados.

É a consciência democrática que se manifesta nas ruas e nas redes sociais, num amplo movimento de repúdio à quebra da ordem democrática.

É um movimento crescente de indignação, que abarca inclusive os que não votaram em Dilma e os que têm críticas ao governo, mas não aceitam o ódio, a intolerância e nem as mentiras do golpismo.

Não aceitam mais as mentiras e a cobertura parcial, facciosa e partidarizada dos grandes meios de comunicação.

Não aceitam a manipulação de procedimentos judiciais, que visam criminalizar o PT e acobertar os chefes da oposição.

O Brasil é maior do que a mentira e a manipulação.

Companheiras e companheiros,

O combate à corrupção e à impunidade é essencial ao processo democrático.

E a sociedade brasileira sabe que nenhum outro governo fez mais do que o nosso para combater esses males em nosso País.

Foram os governos do PT que tomaram a iniciativa de propor, no Congresso, as leis de combate ao crime organizado, à lavagem de dinheiro, ao tráfico de influência, à corrupção empresarial.

Foram os governos do PT que reconheceram, na prática, a autonomia do Ministério Público e fortaleceram a Polícia Federal, livrando estas instituições do mandonismo político.

E fomos nós que criamos um sistema de Transparência que informa, em tempo real, absolutamente todos os pagamentos do governo federal a pessoas e empresas. Um sistema de Transparência considerado o melhor do mundo.

O povo brasileiro sabe que, sem o PT, não teria sido possível levar os ricos e poderosos ao banco dos réus, como jamais aconteceu no país.

E os golpistas querem voltar ao poder para controlar de novo a Polícia, intimidar o Ministério Público e a Justiça, como fizeram no passado.

Para restabelecer o reino da impunidade que sempre os preservou.

Mas não é isso o que quer a sociedade brasileira.

Companheiros e companheiras,

Em todo o mundo há vozes responsáveis alertando para os riscos de um golpe de Estado no Brasil.

O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcenas, presidentes e lideres políticos de toda a região já se manifestaram corajosamente.

Nos Estados Unidos, o candidato Bernie Sanders alertou que seu país não pode continuar incentivando golpes e desestabilização de governos populares na América Latina.

A opinião pública mundial percebeu a injustiça e a inconsistência das alegações contra Dilma Rousseff.

Percebeu que o processo de impeachment é comandado por políticos corruptos, aliados a uma oposição que não se conforma com o resultado das urnas.

As ameaças à democracia no Brasil e na América Latina dizem respeito a toda a comunidade mundial.

Dizem respeito à luta entre civilização e barbárie.

A sociedade brasileira saberá reagir ao esbulho da Constituição e ao golpe contra a democracia, como sempre fez ao longo da historia.

Somos calejados nessa luta.

Minha geração viveu durante 21 anos debaixo de uma ditadura militar.

Foram duas décadas debaixo do terror de estado e da censura, num regime de exceção dirigido contra os trabalhadores, os patriotas e os democratas.

Soubemos resistir e organizar um novo sindicalismo, combativo e independente; soubemos organizar movimentos sociais no campo e nas cidades; articular campanhas de massa pela anistia e pelo retorno ao estado de direito.

Em 1984, ficamos frustrados quando o Congresso rejeitou a emenda das eleições diretas, contrariando o maior movimento de massas de nossa a história.

Mas não desistimos da luta e conseguimos aprovar, em 1988, uma Constituição democrática, que garantiu e ampliou direitos sociais, coletivos e individuais.

Esta Constituição abriu o caminho para as grandes conquistas da sociedade, especialmente nos últimos 13 anos de governo do PT.

É esta Constituição que está sendo rasgada pelos golpistas de hoje, alguns dos quais ostentam hipocritamente o título de constitucionalistas.

Companheiras e companheiros,

Desde o fim da ditadura, o Brasil teve seis presidentes civis em oito mandatos. Todos os presidentes – inclusive eu – enfrentamos, em graus diferentes, crises econômicas e momentos de desaprovação popular.

Mas o que ocorre agora é uma farsa, que envergonha o Brasil aos olhos do mundo.

A presidenta Dilma não cometeu crime de responsabilidade. Não cometeu crime algum.

Mas seu direito de defesa foi reduzido a mera formalidade.

Por mais sólidos e consistentes, os argumentos dos seus advogados não foram levados em conta pela aliança golpista no Congresso.

Não foram levados em conta pela imprensa, que tenta manipular a opinião pública.

A sentença estava decretada desde o início do processo.

E o mundo assistiu ao deprimente espetáculo na sessão da Câmara dos Deputados que votou a abertura do impeachment.

Corruptos notórios clamando contra a corrupção. Oportunistas exercitando o cinismo e a hipocrisia, e alguns até defendendo a tortura e a ditadura.

Ali não houve a mínima análise de argumentos e provas. Houve um pelotão de fuzilamento, comandado pelo que há de mais repugnante no universo da política.

Companheiros e companheiras,

O que acontece hoje no Brasil, é muito grave e ameaçador para os que acreditam na paz, na democracia e no diálogo entre os povos.

Os governos progressistas da América Latina sofrem ataques sistemáticos da plutocracia e da imprensa conservadora dentro e fora de nossos países.

Governos progressistas são acossados por novas formas de golpe, disfarçadas de intervenções legislativas ou judiciárias, acobertadas por operações de propaganda opressiva nos grandes meios de comunicação.

E sempre com a cumplicidade de poderosos interesses econômicos, que pretendem retomar aespoliação das riquezas naturais e o controle do imenso mercado de consumo da América Latina.

É hora de perguntar se vamos permitir um retorno ao passado, ao tempos da Guerra Fria, em que o mundo se dividia entre dominados e dominadores.

Se vamos restaurar a velha ordem das ditaduras e de regimes servis a determiados interesses econômicos.

Se vamos ativar novamente a bomba-relógio da fome, da espoliação e da injustiça.

Estas são as questões que se colocam para a comunidade mundial neste momento.

Por isso, peço a todos que levem a seus países a mensagem de que a sociedade brasileira vai resistir ao golpe do impeachment.

A sociedade brasileira não reconhecerá um governo que não venha da única fonte legítima: o voto popular.

A superação dessa crise passa necessariamente pela manutenção do processo democrático.

Só assim poderemos retomar o caminho do desenvolvimento com inclusão social; da busca permanente pela justiça e pela igualdade.

Em benefício do Brasil, da América Latina e de toda a comunidade mundial.

Muito obrigado.

Do Portal Vermelho, Dayane Santos




Paulo Whitaker/ Reuters
Lula: "O que está em jogo em nosso país é mais do que o mandato legítimo da presidenta. É o voto soberano de 54 milhões de mulheres e homens"

Da AFP
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira que o Brasil "resistirá ao golpe doimpeachment" contra a presidente Dilma Rousseff e "não reconhecerá" um governo que não emane do "voto popular".
Ao participar do seminário da Aliança Progressista, organização que reúne partidos e movimentos de todo o mundo, Lula agradeceu "aos democratas e progressistas de todos os países que, nesta hora difícil, estão solidários com o povo brasileiro e com a presidenta Dilma Rousseff".
"O que está em jogo em nosso país é mais do que o mandato legítimo da presidenta Dilma Rousseff. É o voto soberano de 54 milhões de mulheres e homens, que a escolheram livremente para governar o país".
A ruptura democrática em nosso país é uma ameaça não só ao Brasil, mas aos nossos vizinhos: "O que está em jogo é o risco de interromper um processo histórico, que passou pela conquista da democracia e nos levou a avanços extraordinários do ponto de vista social, político e econômico. Um processo histórico que levou à eleição de governos democráticos e populares na ampla maioria dos países da América Latina".
Segundo o ex-presidente, tais conquistas permitiram melhorar a vida das populações desses países: "no Brasil e na América Latina o processo democrático abriu caminho para a conquista da cidadania e da dignidade por milhões de pessoas que viviam em condições desumanas".
"O que está em jogo nesse momento é a continuidade do processo democrático no Brasil e em toda a região". disse o ex-presidente.
Lula afirmou que "no Brasil, a oposição, derrotada nas urnas pela quarta vez consecutiva, optou pela estratégia golpista para voltar ao poder."
Os que se opõem ao governo querem implantar "por caminhos autoritários, a agenda neoliberal derrotada nas urnas; a agenda de desconstrução das conquistas sociais e de entrega do patrimônio nacional".
Formou-se "uma aliança oportunista entre a grande imprensa, os partidos de oposição e uma verdadeira quadrilha legislativa, que implantou a agenda do caos".
Tal aliança é "comandada pelo presidente da Câmara dos Deputados, réu em dois processos por corrupção, investigado em quatro inquéritos e apanhado em flagrante ao mentir sobre suas contas escondidas no exterior", afirmou Lula.
"Não havia e não há, absolutamente, nem fatos nem sustentação jurídica" para o impeachment da presidenta. "Foi um gesto claro de vingança, ao qual se juntaram, sem nenhum pudor, os chefes da oposição derrotada nas urnas".
Segundo Lula, "a elite brasileira não suporta 28 anos de democracia". "Não suporta a perspectiva de um partido progressista continuar governando o Brasil".
Ao falar da imprensa, Lula afirmou não ser possível "aceitar que um canal de TV governe o país, que meia dúzia de jornais e revistas diga quem é bom e quem é ruim".
Para o ex-presidente, "a imprensa estrangeira está dando uma lição de moral na imprensa brasileira".
Apesar da crise, o ex-presidente reafirmou sua disposição de resistir ao golpe: "Estou convencido de que esse é um momento de muita luta. Nós só queremos uma coisa: respeitem o voto popular. E se querem ganhar as eleições, esperem por 2018'.
Lula terminou com um recado: "Se alguém está cansado de democracia, é bom avisar, porque nós do PT começamos a gostar dela e não vamos parar".


25/04/2016 13h16
São Paulo
Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (25) que o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff está sendo conduzido por uma “quadrilha legislativa”. Lula participa de encontro promovido pela Aliança Progressista, uma rede internacional de partidos e organizações de esquerda. Com a voz rouca, o discurso do ex-presidente foi lido pelo diretor do Instituto Lula, Luiz Dulci.
“Uma aliança oportunista entre a grande imprensa, os partidos de oposição e uma verdadeira quadrilha legislativa, que implantou a agenda do caos”, disse Lula em discurso lido por Dulci. Do lado de fora do hotel onde ocorre o seminário, manifestantes favoráveis ao impeachment trocam provocações com grupos que apoiam o governo.
Após Dulci ter lido o discurso, o ex-presidente falou alguns minutos de improviso.  Segundo Lula, os deputados federais não analisaram com equilíbrio os argumentos sobre o impedimento da presidenta, e resolveu pela abertura do processo de forma sumária. “Ali não houve uma mínima análise de argumentos e provas. Houve um pelotão de fuzilamento, comandado pelo que há de mais repugnante no universo político”, criticou o ex-presidente.
“Essa operação foi comandada pelo presidente da Câmara dos Deputados, réu em dois processos por corrupção, investigado em quatro inquéritos e apanhado em flagrante ao mentir sobre suas contas secretas na Suíça”, disse em referência a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, de acordo com Lula, aceitou a tramitação do processo deimpeachment como vingança. “Quando os deputados do PT se recusaram a acobertá-lo no Conselho de Ética, o presidente da Câmara abriu o procedimento do impeachment”.
Uma das razões da ação para a saída de Dilma é, segundo Lula, abafar as investigações e o combate à corrupção no país. “Os golpistas querem voltar ao poder para controlar, justamente a polícia. Intimidar o Ministério Público e a Justiça, como fizeram no passado. Para restabelecer o reino da impunidade que sempre os preservou”.
Saiba Mais
O agravamento da crise política, que criou o cenário propício ao impedimento da presidenta, foi uma estratégia dos opositores ao governo, disse o ex-presidente. “Enquanto o governo se esforçava para equilibrar as contas públicas, cortando na própria carne, a oposição trabalhava para agravar a crise. Foram 18 meses de sabotagem no Legislativo, com a cumplicidade dos grandes meios de comunicação, que difundem o pessimismo e a incerteza 24h por dia”, disse.
Falando de improviso, o ex-presidente comparou o processo atual contra Dilma ao golpe que instaurou a ditadura militar no país. “Tirar a Dilma do jeito que eles querem tirar é a maior ilegalidade desde a revolução de 1964, no golpe militar”, comparou.
Os argumentos usados atualmente são, de acordo com Lula, semelhantes aos proferidos para derrubar governos e instaurar os regimes nazista e fascista na Alemanha e na Itália, respectivamente, na primeira metade do século 20. “O argumento é sempre o mesmo: acabar com a corrupção. Foi assim que Hitler cresceu, foi assim que Mussolini cresceu, é assim que a direita cresce em todos os países da América Latina”.
Para Lula, internacionalmente há o agravamento de crises políticas e econômicas, que afetam, em especial, os países latino-americanos. “Depois da crise de 1929, nunca tivemos uma situação como essa. Nós temos o mundo rico fracassado, o Brics [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] vivendo problemas sérios e a América Latina retrocedendo, não apenas do ponto de vista econômico, a do ponto de vista da democracia”.
Presidente do PT
No mesmo evento, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse que o vice-presidente Michel Temer prepara plano contra os direitos civis e sociais, caso assuma a Presidência da República. “Traidor de sua colega de chapa, contra a qual conspira abertamente, Temer já anunciou um programa antipopular, de supressão de direitos civis e sociais, de privatizações e de entrega do patrimônio nacional a grupos estrangeiros”, disse em discurso no seminário.
O presidente do PT voltou a dizer que não existem os indícios necessários para que Dilma Rousseff seja processada por crime de responsabilidade. “Ocorre que a lei maior brasileira exige, para que o impedimento se processe, a existência de crime de responsabilidade cometido pela presidenta. Como todos sabem, porém, a presidenta Dilma não cometeu crime algum. Não pesa contra ela qualquer denúncia de corrupção ou de recebimento de propina”, acrescentou.
Edição: Carolina Pimentel






Roda Viva 1989 - Ulysses Guimarães no centro do Roda Viva

Enviado em 28 de out de 2010
Roda Viva 1989 - Ulysses Guimarães no centro do Roda Viva, última entrevista do ano, programa especial exibido pela Tv Cultura

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Roda Viva | Romero Jucá | 25/05/2016

Transmitido ao vivo há 11 horas
O senador, que também é o presidente em exercício do PMDB, falará sobre um eventual governo de Michel Temer, o processo de impeachment de Dilma Rousseff no Senado e outros assuntos referentes à crise política brasileira.

Bancada:
• José Alberto Bombig - editor de política do jornal o Estado de S.Paulo
• Natuza Nery - editora da coluna painel do jornal Folha de S. Paulo
• Silvio Navarro - editor de Brasil do site da revista Veja
• Maria Cristina Fernandes - colunista do jornal Valor Econômico
• Murilo Ramos - colunista da revista Época




No aniversário de 99 anos do nascimento de 
Ulysses Guimarães, o vice-presidente Michel Temer homenageia um dos principais responsáveis pela redemocratização do País. — em Gabinete da Vice Presidência da República.


Vice-presidente Michel Temer homenageia Ulysses Guimarães


PEDRO VENCESLAU E VALMAR HUPSEL FILHO - O ESTADO DE S.PAULO
20 Julho 2014 | 02h 02 - Atualizado: 20 Julho 2014 | 09h 47
Peemedebista tentou criar em 1992, ano de sua morte, legenda parlamentarista
Eram 16 horas do dia 8 de outubro de 1992, uma quinta-feira, quando o jurista Miguel Reale Júnior foi avisado por sua secretária que o deputado Ulysses Guimarães estava na linha. Atendeu de pronto pensando que se tratava de uma conversa de rotina, mas foi surpreendido com o que ouviu. "Reale, vou lhe contar uma coisa absolutamente sigilosa. Guarde o mais absoluto sigilo até terça-feira por volta do meio-dia. Estou indo para Angra dos Reis na casa do (ex-ministro) Renato Archer. Mas na próxima terça-feira, às nove da manhã, tenho encontro com o (presidente) Itamar (Franco). Vou lá dizer que estou saindo do PMDB."
A notícia veio seguida de uma recomendação. "Espero levar comigo 60 deputados. Comunique isso para o Fernando (Henrique Cardoso) e (Mário) Covas. Diga que pretendo constituir um grande partido parlamentarista, que não seja o PMDB nem o PSDB."



Ulysses Guimarães e Reale Júnior se encontram em Brasília: "informação absolutamente sigilosa"

Antes que o amigo e aliado assimilasse o que acabara de ouvir, o deputado fez uma última observação. "O Itamar é muito sensível. Se ele souber que algum dos outros souberam antes, ele vai criar problema. Mas quero que os outros saibam logo. Então, lá pelo meio-dia, já terei conversado com o presidente e você poderá falar com eles."
Por 22 anos, Reale Júnior tratou esse diálogo com discrição e só o revelou a poucos amigos em conversas reservadas. A morte trágica de Ulysses em 12 de outubro daquele mesmo ano, num acidente de helicóptero quando voltava de Angra, relegou o movimento para o escaninho da história.
A determinação de Ulysses tinha potencial para alterar significativamente o quadro partidário brasileiro daquele momento, avalia o jurista. "A tragédia foi de tal grandeza que esse fato se perdeu. Compreenda a excitação dele (Ulysses) de querer voltar de Angra mesmo contrariando o piloto, que não queria voar por causa do tempo. Ele tinha uma reunião no dia seguinte às 9h em Brasília e precisava pegar o avião às 7h." 
O deputado decidira deixar o partido do qual era um dos maiores símbolos em um momento de ebulição política. Naqueles dias de outubro, ele e Reale Júnior estavam imersos na formatação jurídica da frente que defenderia o regime parlamentarista no plebiscito que seria realizado no ano seguinte. Nos meses anteriores, Reale Júnior fora o principal responsável por redigir a petição do impeachment de Fernando Collor de Mello. Ulysses foi um dos primeiros a ler o texto.
Isolamento. Apesar de ter sido um dos maiores símbolos da campanha por eleições diretas e ter presidido a Assembleia Constituinte, Ulysses vivia um momento delicado de sua carreira política. Derrotado na eleição presidencial de 1989, perdera também o comando do PMDB para Orestes Quércia. Isso depois de ver seus antigos aliados deixarem a legenda em 1988 para formar uma nova sigla, o PSDB.
"O potencial do novo partido pensado por Ulysses era imenso. Além do fortalecimento extraordinário da Frente Parlamentarista, haveria uma grande surpresa nacional. Só o fato dele sair (do PMDB) seria um fato estrondoso", diz Reale Júnior.
O jurista, que naquela altura já havia deixado o PMDB para entrar no PSDB, conta que a ideia era que da união do grupo de Ulysses com os tucanos surgisse uma nova legenda. "Não sabemos qual seria a reação do Fernando (Henrique Cardoso), do Mário (Covas) e do (José) Serra a essa proposta. Mas eles provavelmente iriam aceitar. Havia identidade entre eles, além de uma simpatia pessoal muito grande."
Questionado pelo Estado, o ex-governador José Serra confirmou a tese de Reale Júnior. "Eu estava muito aberto a isso. O PSDB nasceu como um partido parlamentarista. O Ulysses tinha um tamanho tal, que podia se justificar a criação de um nova força que unisse a gente", disse o tucano, atual candidato ao Senado. A proposta, de fato, tinha grande potencial. Ulysses levaria com ele dirigentes peemedebistas de sua área de influência no Rio Grande do Sul e em Estados do Norte e Nordeste, o que enfraqueceria o partido comandado por Quércia na época.
Reale evita falar sobre a virtual lista de peemedebistas que estariam na contabilidade de Ulysses. Mas se arrisca a citar alguns nomes: Genebaldo Correia, da Bahia, Ibsen Pinheiro e Pedro Simon, do Rio Grande do Sul, e Cid Carvalho, do Maranhão. O senador Pedro Simon disse ao Estado que nunca soube do movimento de Ulysses. A ideia, segundo Reale, era justamente essa: evitar que a história se espalhasse por Brasília e contaminasse o projeto. Mas a confiança da debandada era total. Questionado se aceitaria o convite, Simon sinaliza que sim. "Eu aceitaria o parlamentarismo de corpo e alma. O PMDB do Rio Grande do Sul estava fechado com o Ulysses", diz o senador de 84 anos, crítico dos rumos de sua legenda e que, recentemente, anunciou que não vai disputar novo mandato.
Com a morte de Ulysses, o comando da Frente Parlamentarista passou para o paranaense José Richa, que não tinha o mesmo carisma do "Senhor Diretas". Apoiado por Luiz Inácio Lula da Silva, Paulo Maluf e Leonel Brizola, todos pré-candidatos ao Palácio do Planalto, a frente presidencialista bateu na tecla de que só aquele regime permitiria que o povo realizasse o sonho de votar para presidente. Venceram o plebiscito com ampla margem. Enquanto PT e PSDB se revezaram no poder, o PMDB beneficiou-se de sua capilaridade e tornou-se a maior e mais influente sigla brasileira. Quase sempre dando apoio aos governos. 
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FHC: "O mais significativo das demonstrações, como as de ontem, é a persistência do sentimento popular de que o governo, embora legal, é ilegítimo. Falta-lhe a base moral, que foi corroída pelas falcatruas do lulopetismo. Com a metáfora do boneco vestido de presidiário, a Presidente, mesmo que pessoalmente possa se salvaguardar, sofre contaminação dos malfeitos de seu patrono e vai perdendo condições de governar.
A esta altura, os conchavos de cúpula só aumentam a reação popular negativa e não devolvem legitimidade ao governo, isto é, a aceitação de seu direito de mandar, de conduzir. Se a própria Presidente não for capaz do gesto de grandeza (renúncia ou a voz franca de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional), assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de Lavajato. Até que algum líder com forca moral diga, como o fez Ulysses Guimarães, com a Constituição na mão, ao Collor: você pensa que é presidente, mas já não é mais".





Sobre a consulta
Audiovisual
Identificação
Classificação: TN foto 0869
Série: foto - Fotografias
Tipo: foto (Iconografia)
Título: Tancredo Neves, José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Ulysses Guimarães entre outros durante comício na Praça da Sé por ocasião da campanha eleitoral para presidência da República.
Data de produção: 07 dez. 1984 (Data certa)
Quantidade de documentos: 21
Descrição física: 21 fotos p&b e cor; 9 x 13 cm a 20 x 25,5 cm.
Cidade
Estado
Pais
São Paulo
SAO PAULO
Brasil
Arquivo:
Tancredo Neves (TN)   Saiba mais
Autoridades:
Agência Folhas (Estúdio/Agência)
Agil Fotojornalismo (Estúdio/Agência)
Estado de São Paulo, O (Estúdio/Agência)
Oswaldo Palermo (Fotógrafo)
Rubens Fernandes Silva (Fotógrafo)
Rosa Gauditano (Fotógrafo)
Milton Guran (Fotógrafo)
Fernando Pereira (Fotógrafo)
Dettimar, U. (Fotógrafo)
Jornal do Brasil (Estúdio/Agência)
Manchete (Estúdio/Agência)
João Bittar (Fotógrafo)
Orlando Brito (Fotógrafo)
Piccino, Antônio Carlos (Fotógrafo)
Carlos Fenerich (Fotógrafo)
Resumo:
Foto 1 - Oswaldo Palermo/O Estado de São Paulo. Fotos 2, 10 e 19 possuem dedicatória no verso. Fotos 3, 4 e 21 - Rubens Fernandes Júnior. Foto 5 - Agência Folhas. Foto 6 - Rosa Gauditano/Agência Folhas. Fotos 7 e 9 - Orlando Brito. Foto 8 - Carlos Fenerich. Fotos 11 e 13 - João Bitar/Agência Folhas. Foto 11 possui duplicata. Fotos 12 e 14 possuem duplicatas e crédito de Milton Guran/Agil Fotojornalismo. Foto 15 - Manchete. Fotos 16 e 20 - U. Dettmar/Agência Folhas. Foto 17 - Antônio Carlos Piccino/O Globo. Foto 18 - Fernando Pereira/Jornal do Brasil.
Notas:
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História
11 de junho de 2012

Pelos registros da nossa história recente, surpreende que o PMDB tenha resistido a tantas pressões de governos ditatoriais, divisões internas, esvaziamento, crescimento, novas divisões e se mantenha como a legenda de maior base no território nacional. É possível explicar.
Sofrida, com maus e bons momentos, a história do PMDB é a história do Brasil que continuou pulsando a partir de 1964. Se manteve em movimento, com contradições, abrigou vários tipos de ideologias e tendências políticas, instigou, gestou outros partidos, mas se manteve no centro das discussões durante, na queda e após o regime militar. Hoje, para contar um pouco da história do PMDB é preciso não só falar da história do Brasil, mas de praticamente de todos os partidos, à sua esquerda, ou à sua direita.
Oficialmente o PMDB, que nasceu do MDB, teve sua fundação em 24 de março de 1966, com o registro na Justiça Eleitoral. Era um dos resultados da extinção dos partidos imposta pelo AI-2 e a instalação do bipartidarismo logo em seguida. Uma tentativa de imitar a bipolaridade norte-americana, democratas versus republicanos. A diferença, que se evidenciou antes mesmo do registro do MDB, é que o papel destinado pelos militares à oposição se resumia a isto: o de opositor, mas inofensivo ao poder. E muito menos que ambicionasse ao poder.
O PRINCÍPIO
Na verdade, o Movimento Democrático Brasileiro constitui-se informalmente em 4 de dezembro de 1965, como oposição a Arena. Quem o batizou foi Tancredo Neves. Venceu ali a primeira queda de braço com o “prosador da arcadas” do Largo de São Francisco, deputado Ulysses Guimarães, um pessedista que preferia o termo Ação a Movimento. Nesse mesmo ano, quando ocorreram eleições diretas para governador em o­nze estados, os militares já haviam demonstrado quais eram os limites da oposição evitando, através de “oportunas” mudanças nas regras do jogo, que dois oposicionistas – Hélio de Almeida, ex-ministro de Goulart, e Sebastião Pais de Almeida, ex-ministro de JK – disputassem os governos da Guanabara e de Minas Gerais. Eram francos favoritos. JK e Goulart estavam no exílio. Permitiram Negrão de Lima, ligado ao PSP de Adhemar de Barros, e Israel Pinheiro, pessedista próximo a JK. Dois oposicionistas pouco ortodoxos que rapidamente aderiram ao poder central. Mesmo assim, essas duas vitórias provocaram sobressaltos nos meios militares que desaguariam no AI-2. Além de obrigar o País ao bipartidarismo, tornaram as eleições indiretas nos o­nze estados restantes. De qualquer maneira, o então presidente Castelo Branco garantiu a posse dos eleitos, o que lhe valeu um desgaste definitivo entre os colegas de caserna. Ele não faria o sucessor. 
CAUTELA
Rever a história é abrir baús que, vistos fora do ambiente político e social da época, podem conter momentos estranhos. Para um partido com o tamanho e a história do PMDB não é diferente. Na eleição indireta do general Garrastazu Médici, sempre lembrado como o mais duro do regime militar, o partido se dividiu em quatro. Alguns apostavam nos bons propósitos expressos por Médici antes da eleição. No MDB tínhamos os “duros”, que simplesmente não queriam comparecer ao Colégio Eleitoral em protesto aberto; os “moles”, que não queriam apenas comparecer, mas votar em Médici, como um “voto de confiança”; e dois grupos apelidados de “pastosos”. Os integrantes do primeiro grupo queriam comparecer e votar em candidato próprio. Seria um protesto, mas legitimaria o Colégio Eleitoral. O segundo grupo pregava o comparecimento sem votar em ninguém. Foi o majoritário.
Entre os que procuravam evitar o confronto mais duro que, diziam na época, resultaria em mais atos institucionais e mais repressão naquele cinzento final da década de 60, duas figuras marcariam de forma definitiva os futuros passos do MDB: Ulysses Guimarães e Franco Montoro. Ulysses já pregava o restabelecimento das prerrogativas do Congresso, as eleições diretas, inclusive para presidente, mas pedia atenção ao “aceno de liberalização do Presidente Médici e cooperação para que seu desejo de redemocratização se realize”. Montoro dizia: “A oposição que estamos fazendo é a mesma de sempre e ela se pauta pelo realismo político. A experiência demonstra que, toda vez que a oposição quis queimar etapas, tanto antes como depois de 1964, ela nada conseguiu e as conseqüências sempre representaram um retrocesso político”. Entre os duros destacava-se o deputado Caruso da Rocha que considerava impossível o partido renunciar ou mesmo adiar bandeiras de seu programa como a anistia, o habeas corpus , a justiça civil para os civis e as eleições diretas. Bandeiras que permearam todo o caminho do partido.
OPOSIÇÃO NECESSÁRIA
O primeiro presidente do MDB foi um general, o senador pelo Acre, Oscar Passos. Como a Arena era o braço auxiliar de um regime que prometia longos anos no poder, alterando as regras do jogo a nível nacional e local, não foi fácil para o MDB conseguir a adesão, mesmo que momentânea, de 120 deputados e 20 senadores necessários para registrar a legenda. Era comentário de bastidores na época que o próprio presidente Castelo Branco havia convencido alguns senadores a se integrarem ao MDB para possibilitar o seu registro. O novo sistema precisava de um partido de oposição para não caracterizar a ditadura de partido único.
As representações do MDB nas assembleias legislativas dos estados sofriam pressões do poder central disseminado nas administrações estaduais. Com uma economia centralizada no Estado e regras eleitorais mutantes, a Arena dominava a cena política. A partir de dezembro de 1968, mês e ano do AI 5, que teve como pretexto o discurso do medebista Márcio Moreira Alves, o partido passa a ser mais combativo. Mas a agitação estudantil e a luta armada, empurram boa parte do eleitorado oposicionista para o voto nulo, como forma de protesto contra o regime, contra o próprio AI-5, que fez vítimas no MDB. Com as eleições transformadas em indiretas após 1966, o MDB só conseguiria eleger seu primeiro governador em 1970: Chagas Freitas, no Rio de Janeiro. Chagas acabou no MDB mais por falta de espaço na Arena, tomada pelos lacerdistas (que sonhavam fazer do seu líder ministro da Educação), do que por vocação oposicionista. A ideia da convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, que só vingaria no distante ano de 1985, nasceu em 1971 num seminário do partido em Recife. Brotou ali também a ideia de uma anticandidatura para dar projeção ao partido. Ela vingou, mas desuniu e deixou descontentes.
1974: O GRANDE SALTO
A década de 70 marcaria o grande salto do MDB. Além da linha mais combativa que abria espaço para lideranças populares, outros fatores contribuíram de forma significativa para o crescimento do MDB: a crise do petróleo provocou o fim do milagre econômico e o esfacelamento da luta armada. O MDB assumiu definitivamente o papel de escoadouro das insatisfações em todos os níveis. Torna-se uma frente oposicionista. O timoneiro desta arrancada foi Ulysses Guimarães. O Grupo Autêntico do MDB, que já vinha amadurecendo a ideia no início de 70, resolveu lançar Ulysses como anticandidato na passagem do governo Garrastazu Médici para Ernesto Geisel. Em companhia de Barbosa Lima Sobrinho, o vice, Ulysses percorre as capitais do País com a pregação das idéias oposicionistas. Ganha espaço na mídia interna e alcança grande repercussão no exterior, o que mais irrita os militares. A semente estava lançada, mas Ulysses foi além do combinando com os autênticos. A ideia era que renunciasse no dia da eleição. Ele resolveu ir até o fim, o que deu legitimidade ao Colégio Eleitoral e à eleição do general Ernesto Geisel.
Apesar do clima de chumbo da época – que obrigou Ulysses a enfrentar literalmente os cachorros da polícia baiana do governador Roberto Santos em visita a Salvador – os autênticos tinham lá o seu humor. Como o adversário era um militar, ou os militares, resolveram montar também a sua hierarquia de caserna. No grupo cada um tinha uma patente: Fernando Lyra era o “cabo Lyra”, Alceu Collares o “sargento”, Alencar Furtado o “coronel”, Marcos Freire o “almirante”, Chico Pinto o “marechal”. Nem todos gostavam dessa brincadeira, mas era o “nosso exército”, lembra Chico Pinto.
SUSTO E REAÇÃO MILITAR
Ironicamente, o anti-candidato Ulysses Guimarães em campanha só não foi ao Rio de Janeiro, barrado por Chagas Freitas, governador eleito pelo próprio MDB. Nenhuma surpresa. Chagas já havia impedido o acesso de candidatos do grupo “autêntico” do MDB no horário de TV do partido. Entre os autênticos que orbitavam em torno de Ulysses contra os “moderados” de Tancredo Neves, destacavam-se ainda Mário Covas, Franco Montoro, Lysâneas Maciel.
No Senado, que se mostrara um terreno estéril para o partido na sua fundação, também deu seu salto significativo neste ano de 1974. Passou de quatro senadores em 1966, três em 1970 para 16 em 1974. E mais: elegeu neste ano 44 por cento dos deputados federais e a maioria de deputados estaduais em seis assembleias legislativas, o que lhe garantia a eleição indireta dos governadores destes estados.
O governo militar tomou um susto. As regras para existência de uma oposição sem opção de poder estavam sendo derrubadas. E novo susto nas capitais com as eleições municipais de 1976, com novo avanço emedebista. O eleitorado era cada vez mais urbano e, na medida do possível para a época, melhor informado e mais independente. A reação dos militares foi o pacote de abril de 1977 baixado pelo presidente Ernesto Geisel, que destinou um terço das cadeiras do Senado para os “biônicos”, indicados pelo governo central e eleitos pelas assembleias legislativas, manteve as eleições indiretas para os governos estaduais e ofereceu ao País a Lei Falcão.
No horário da propaganda eleitoral o País passou a assistir o desfilar de retratos dos candidatos com apenas um fundo musical. Não se sabia a que vinham ou propunham. Com tanto esforço “revolucionário”, a Arena, em 1978, manteve a maioria na Câmara (55%) e no Senado (62%). O MDB perde poucos deputados. Mas o governo perde um aliando que história ao trocar a Arena pelo MDB na reforma partidária: Teotônio Vilela, o “menestrel das Alagoas”. Não surpreendeu ninguém. Ele já votava com a oposição em todas as matérias no Senado. Mas seria com ele no MDB, visitando os presídios, percorrendo o País, que a luta a favor da anistia e dos presos políticos ganharia um novo patamar nas pressões populares pela abertura.
A CANDIDATURA DO GENERAL
O jogo virava lenta e persistentemente. De 1970 a 1974, o MDB havia dobrado sua representação na Câmara: de 87 para 165 deputados. No pleito seguinte cresceu para 189. As eleições estavam se transformando em verdadeiros plebiscitos. Embalado pelo sucesso eleitoral e pelas movimentações nas ruas, o MDB resolve dar sua cartada mais ousada e concorrer com candidatura própria à Presidência da República dentro do Colégio Eleitoral. Como se evidenciavam algumas divisões entre os militares, o partido foi buscar no general Euler Bentes o seu candidato, que faria dobradinha com o senador Paulo Brossard, do Rio Grande do Sul, jurista respeitado pela oratória.
Na V Convenção Extraordinária do MDB, o líder do partido na Câmara, deputado Tancredo Neves saudou o general: “O MDB a partir de hoje é uma legião de homens livres sob o seu comando. Aponte o caminho e nós o seguiremos”. Ele não indica caminho algum e sua candidatura murcha. O general Figueiredo, candidato do regime, é eleito. Na posse, ele faz um apelo à conciliação nacional.
Reeleito líder na Câmara, Tancredo reagiu com simpatia: “O MDB, visceralmente democrático, não pode ser insensível ao apelo do general Figueiredo”. Evidentemente provocou desabafos dos autênticos.“Ninguém mais se ilude com essas promessas feitas por Costa e Silva, Médici, Geisel e agora o general Figueiredo”, rebateu o deputado Jarbas Vasconcelos.
DO MDB PARA O PMDB
Em vez de conciliação e diante do quadro eleitoral com a oposição avançando ano a ano, o sucessor do general Geisel, também se valeu da alternativa de baixar nova reforma política. E com o artifício adicional de exigir o termo partido à frente das siglas, com o claro objetivo de matar a força da legenda MDB.
A abertura lenta e gradual, o caldeirão político alimentado pela crise econômica e a pressão política promoveram o retorno dos exilados. Recrudesceram também as pressões sociais com um sindicalismo cada vez mais atuante, pulsando principalmente no ABC paulista.
A estratégia de manter o poder, ou de promover a abertura lenta e gradual, levaria o Governo central a argumentar que a democracia que se avizinhava não suportaria as duas amarras políticas do bipartidarismo, a Arena de um lado, que também possuía os seus rebeldes de ocasião, e o MDB, com os autênticos, de vários matizes, e os moderados, normalmente circulando em torno de Tancredo Neves. Mas desenhava-se sobretudo a estratégia de abrir espaço para grande trunfo civil do governo na época: Petrônio Portella – piauiense com bom trânsito em todas as correntes – alçado ao Ministério da Justiça. Promoveu-se a reforma política através do Congresso extinguindo o bipartidarismo. Os núcleos do MDB, transformado em PMDB, e Arena, com o nome de PDS, foram mantidos. Mas a mudança que mais agitou os meios políticos foi a criação de um novo partido o PP, com Tancredo Neves à frente – o que esvaziava o PMDB e apresentava uma saída possível para o regime. Ele deveria abrigar a provável candidatura Petrônio Portella, alternativa civil do regime.
Em torno desses três, orbitariam dois outros partidos criados para abrigar os trabalhistas, que mal se continham dentro do MDB com o retorno de Leonel Brizola – do histórico PTB, depois repartido em PDT – e os sindicalistas do Sul e Sudeste liderados pelos líderes sindicais do ABC paulista, o PT. Como se esperava, outros partidos que possuíam alguma história antes do regime militar como PSD, UDN e PDC, preferiram ficar sob o guarda chuva do PMDB ou PDS.
O PP se aglutinou rapidamente em torno de 90 deputados, quase retirando a maioria do PDS. Mas a morte de Petrônio Portella fez o partido refluir para menos de 70 deputados. O PMDB também perdeu quase metade de sua bancada, mesmo acomodando uma tendência social democrata que ganhou força com a volta dos exilados. Esta tendência resultaria em 1988 no PSDB.
Com a morte de Petrônio, o governo João Baptista Figueiredo tratou de proteger o PDS. As novas normas eleitorais traziam o voto vinculado e a proibição de coligações para evitar que o partido de sustentação do governo perdesse a maioria. Com isto o PP se inviabilizou. Parte retornou ao ninho peemedebista. Em 1982 o PMDB ganharia nove estados elegendo, entre outros, Tancredo Neves, em Minas Gerais, Franco Montoro, em São Paulo, e José Richa, no Paraná. Como o PDS perdeu sua maioria absoluta na Câmara, o governo tratou de rachar o PTB de Leonel Brizola, entregando a sigla a Ivete Vargas, que se coligou à maioria governista e garantiu oxigênio ao governo. Evidentemente ganhou cargos.
ALIANÇA TANCREDO/SARNEY
O afloramento de novas tendências e ambições em todos os partidos não excluiu o PDS. A sua facção liberal, que reunia, entre outros, o próprio presidente do partido José Sarney, o senador Marco Maciel e o vice-presidente Aureliano Chaves, queria evitar a convenção partidária que indicaria o candidato do partido no Colégio Eleitoral na sucessão de Figueiredo. Procuravam evitar Paulo Maluf. Ele não era nem mesmo o candidato do próprio Figueiredo. Vencido, este grupo criou a Frente Liberal que, junto com o PMDB, resultaria na Aliança Democrática e na candidatura de Tancredo Neves e José Sarney. Embora tivessem candidatos indiretos, as oposições reunidas em torno do PMDB pediam as urnas. A campanha das Diretas Já iniciada com base na emenda do deputado Dante de Oliveira incendiou o país. Comícios com milhares e milhares de pessoas embalavam o ressurgimento das manifestações públicas e fortaleciam a luta pelo retorno da democracia brasileira.
Embora as ruas fossem tomadas pelas pregações de eleições diretas, foi uma interpretação jurídica do Supremo Tribunal Federal que jogou a última pá de cal no regime militar e o seu possível sucedâneo civil. O STF interpretou que a lei da fidelidade partidária vigente à época não se aplicava no Colégio Eleitoral. Resultado: Tancredo e Sarney venceram Maluf e Flávio Marcílio com uma diferença de 300 votos, 55 deles do próprio PDS e outros 113 da Frente Liberal, futuro PFL. Mas o país ficou em suspenso com a doença de morte do presidente eleito. O temor de que a redemocratização fosse frustrada após a luta de anos.
Mas após a morte de Tancredo, assumiu José Sarney, agora no PMDB. De quebra o PMDB possuía ainda as presidências da Câmara e do Senado. Mesmo dividido, o partido havia chegado ao poder.
PRONTO PARA A CONSTITUINTE
Mesmo perdendo políticos para os partidos de esquerda, que em 1985 saíram da clandestinidade, do berço peemedebista (PCB, PC do B e PSB), o PMDB agigantou-se. Se em 1985 amargou a derrota de Fernando Henrique Cardoso para Jânio Quadros na Prefeitura de São Paulo. Mas um ano depois, empurrado em boa dose pelo sucesso inicial do Plano Cruzado, venceu fácil as eleições de 1986. Elegeu 22 dos 23 governadores de estado. Com 260 deputados federais e 44 senadores, o PMDB tornou-se hegemônico no Congresso para fincar a sua grande bandeira: a Assembléia Nacional Constituinte, que foi comandada por Ulysses Guimarães.
Contudo, as divisões internas foram inevitáveis. Divisões que se agravam muito quando o partido apoiou mandato de cinco anos para o presidente Sarney. A principal vertente estava aglutinada em torno do Movimento de Unidade Progressista – MPU – que em 1988 resultaria no PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), com 10,7 % na Assembléia Nacional Constituinte.
O fracasso do Plano Cruzado e a perda desta ala a esquerda, levou o PMDB a sofrer um esvaziamento em 1989. Das 75 prefeituras nas maiores cidades brasileiras ficou com apenas 20. E, em meio a profusão de partidos que se habilitaram para disputar a sucessão de José Sarney, viu surgirem dois candidatos que iriam para o segundo turno com a estratégia quase única de bater no governo: Fernando Collor e Luiz Ignácio Lula da Silva.
O candidato do partido e seu maior líder, Ulysses Guimarães, desgastado pelo intenso trabalho de não permitir que o governo desse uma guinada a direita e pelos inevitáveis respingos de uma inflação avassaladora, ficou em sétimo lugar com menos de 5 % dos votos. Collor venceu as eleições com um egresso do PMDB ao lado, o senador Itamar Franco, então no PRN.
NO PODER COM ITAMAR
Sem base parlamentar e envolvido em inúmeros casos de corrupção, o mandato de Collor foi encurtado rapidamente. Com o impeachement de Collor, o PMDB ganha algum espaço no poder através de Itamar. No entanto, a sua sucessão é que movimenta o partido. Uma enquete interna mostra que a cúpula prefere como candidato à sucessão de Itamar Franco o governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto (35 %). Mas surgem várias candidaturas internas, com destaque para Orestes Quércia e José Sarney. A cúpula quer Britto. Sarney é que tem as preferências nas pesquisas de opinião pública, vindo logo a seguir do primeiro colocado, Lula, do PT. No entanto, quem domina a convenção é Orestes Quércia. Ele ganha a indicação. Sarney ainda ensaiaria uma candidatura fora do PMDB, através do pequeno PSC. A decisão é tardia. Já não havia prazo para uma nova filiação partidária.
A SURPRESA DO REAL
Mas o quadro sucessório sofre um solavanco com a chegada do Real. Outro ex-peemedebista e um dos fundadores do tucanato, ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, consegue atrair para si os benefícios eleitorais da nova moeda, que havia atingido de morte a hiperinflação, que batia recordes históricos. Ele ganha no primeiro turno com mais de 50% dos votos válidos.Com 103 deputados, 23 senadores e 9 governadores, o PMDB continua um partido de peso suficiente para ajudar muito ou atrapalhar muito. Assim, embora a aliança que elegeu Fernando Henrique fosse constituída basicamente pelo PSDB, PFL e PTB, o PMDB ocupa um espaço importante, mesmo que mantenha um certo distanciamento e inicialmente oscile entre apoio e oposição. A melhor prova da divisão seria dada logo no ano seguinte com a eleição de Paes de Andrade para a Presidência do partido por 76 a 75 votos. Seu adversário era Alberto Goldman, um deputado próximo a Fernando Henrique Cardoso.
A ESPERA DE 2002
Na eleição presidencial de 1998, uma ala do partido resolve apoiar a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. Como de outras vezes, esta decisão provoca enormes desagrados em algumas áreas, particularmente nos setores que apostavam em possíveis candidatos os dois ex-presidentes Itamar Franco e José Sarney. Ao final de mais de seis meses de discussão, o partido não apoia a reeleição mas também não lança candidato. Fernando Henrique Cardoso é reeleito. As divisões dentro do partido levam a substituição de Paes de Andrade pelo senador Jader Barbalho na Presidência do partido. Mas é na Presidência da Câmara dos Deputados que o partido tirará seus melhores frutos. Por dois mandatos consecutivos foi eleito o deputado Michel Temer, um jurista e professor universitário que chegou à política pelas mãos e administração do ex-governador de São Paulo, Franco Montoro. Depois da primeira eleição apertada, quando substituiu o deputado Luís Eduardo Magalhães na Presidência da Câmara, Temer foi praticamente aclamado na reeleição. Além de desengavetar e dar novos impulsos a projetos como o código civil, a reforma tributária e a limitação das medidas provisórias, foi com ele que os trabalhos da Câmara dos Deputados tornaram-se transparentes para toda a nação. Nas suas duas gestões – entre 1997 e 2001 – a casa revolucionou sua comunicação social com TV, rádio, agência de notícias, jornal e redes de acesso a todos os trabalhos dos deputados, das comissões e do plenário através da Internet. Hoje esta malha de informação permite ao eleitor acompanhar passo a passo os trabalhos do Legislativo.
No Senado, Jader assumiu com um discurso a favor de mobilizar o Congresso para garantir a estabilidade da moeda apoiando ainda o governo em dois pontos prioritários: a conclusão da reforma da previdência e a reforma tributária. O reflexo desta aproximação com o Governo rebate diretamente dentro do Congresso. PMDB e PSDB se unem afastando momentaneamente o PFL: o senador Jader Barbalho é eleito Presidente do Senado e o deputado Aécio Neves, do PSDB, Presidente da Câmara. Envolvido numa série de acusações que poderiam levá-lo a um processo de cassação por quebra do decoro parlamentar, Jader renuncia, mas o partido mantém o posto de presidente do Senado e do Congresso com o senador Ramez Tebet (MS). Michel Temer deixa a Presidência da Câmara com o nome cotado para vários postos. Mas o primeiro passo ele dá dentro do partido: é eleito seu novo Presidente. Neste posto cabe ao deputado o gerenciamento de mais uma fermentação dentro do PMDB diante das opções de alianças ou de candidato próprio à Presidência da República.
Nomes lançados na pré-temporada eleitoral, o senador Pedro Simon (RS) e o governador de Minas, Itamar Franco, não conseguem que as ruas ecoem suas candidaturas. Os índices de Itamar e Simon nas pesquisas de intenção de votos resvalaram no traço da indiferença popular.
Sem uma candidatura própria aglutinadora, o partido passou a avaliar outras alternativas. Diante da inanição eleitoral de seus pretensos candidatos, morreu a tese da candidatura própria a presidente.A partir de então, Temer reúne em torno de si as principais lideranças peemedebistas para definir o rumo do PMDB na disputa presidencial. Esse grupo era composto dos líderes do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima, no Senado, Renan Calheiros, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, o secretário-geral do PMDB, João Henrique, e o presidente do Senado, Ramez Tebet, entre outros.
A primeira providência de Temer foi dar um norte nas discussões. O PMDB lançou um programa de governo com todas as propostas a serem implementadas para mudar o país. Depois de um trabalho de ampla discussão, o PMDB lançou o documento “Tirando o atraso, combater as desigualdades já”.
Esse texto base se tornou o suporte para a discussão eleitoral do PMDB. Nele está o princípio que o partido passou a cobrar de qualquer eventual aliado: investimento sério e continuado do próximo governo para reverter o cenário de injustiças sociais cultivado durante 500 anos no Brasil. É um programa de governo com um norte para o país. Ao mesmo tempo, deu norte ao PMDB. O projeto encontra eco na sociedade. O PMDB passa a ser cortejado por várias outras legendas. Mas é na candidatura do senador José Serra, do PSDB de São Paulo, que as sementes do programa peemedebista começam a dar frutos. O candidato adota o mesmo discurso, adota a mesma plataforma e o mesmo tom na defesa da área social. Os laços se estreitam, afinal Serra é um velho peemedebista que esteve ao lado de Ulysses Guimarães, Franco Montoro e Mário Covas na luta pela redemocratização.
Em 15 de junho de 2002, o partido ratifica em Convenção Nacional a decisão de se coligar com o PSDB para disputar a Presidência da República. O PMDB se projeta de novo rumo ao poder central do país. E não como um coadjuvante, mas como um parceiro, como um igual. E para demonstrar todo o compromisso com o resgate social, indica a deputa federal Rita Camata (ES) para ser a candidata a vice de Serra. Rita é uma parlamentar com história na luta pelas crianças, pelas mulheres e pelos menos favorecidos da sociedade brasileira.
Entre os peemedebistas, a tese da coligação ganhou ampla acolhida: dos 622 votos, 433 aprovaram a união com o PSDB. A candidatura do senador Roberto Requião conseguiu 218 votos. O PMDB rumou para as eleições defendendo o combate às desigualdades sociais do país. Durante o processo eleitoral, a divisão do partido se manifestou, com alguns peemedebistas apoiando o petista Luiz Inácio Lula da Silva, que foi eleito presidente ao fim da disputa pelo cargo mais importante do país.
Um desses peemedebistas que apoiou Lula foi o senador José Sarney (AP), que acabou eleito, em 2003, presidente do Senado Federal. Na liderança da bancada da Câmara dos Deputados despontou Eunício Oliveira, um dos parlamentares cearenses mais votados em 2002. No Senado, o alagoano Renan Calheiros foi mantido no comando da bancada.
ACOMPANHE O PMDB








Brado Retumbante

PAULO MARKUN
MDB e Arena
golpe militar de 1964 não acabou imediatamente com os partidos políticos existentes, muito embora o primeiro dos Atos Institucionais tenha sido acompanhado por uma lista de cassações que levou vários políticos ao exílio. Nos primeiros momentos, o regime militar buscou apresentar-se como uma espécie de freio de arrumação destinado a repor o país no rumo da democracia.
As eleições estaduais de 1975 foram realizadas quase normalmente em 11 Estados. Quase: os militares simplesmente barraram o caminho de dois oposicionistas - Hélio de Almeida, ex-ministro de João Goulart e Sebastião Pais de Almeida, ex-ministro deJuscelino Kubitschek – até os governos da Guanabara e de Minas Gerais. Ambos eram francos favoritos, embora JK e Goulart estivessem no exílio. Os candidatos foram substituídos por Negrão de Lima, ligado ao PSP de Adhemar de Barros, e Israel Pinheiro, pessedista próximo a JK, dois oposicionistas mais confiáveis. Mas a vitória de ambos desagradou os militares e veio o AI-2, que extinguiu os partidos existentes e transformou as eleições em indiretas. O ato, de 27 de outubro de 1966, também dava a Castelo Branco o direito decretar estado de sítio, dispensar funcionários públicos, cassar mandatos e suspender direitos políticos.
O regime sonhava implantar no Brasil a bipolaridade norte-americana, de democratas versus republicanos. No dia 20 de novembro, o ato complementar número 4 estabeleceu um sistema bipartidário compulsório. Na visão do então ministro da Justiça, Juracy Magalhães, era fórmula ideal para se conseguir uma maioria parlamentar sólida e estável. As novas organizações partidárias deveriam ser constituídas em 45 dias, desde que obtivessem o apoio de um terço dos 360 deputados e dos 63 senadores.
Não houve problemas para organizar os governistas, que criaram a Aliança Renovadora Nacional. Os oposicionistas, entre os quais Ulysses GuimarãesFranco MontoroTancredo Neves e Pedro Simon, tiveram de batalhar para que surgisse oMovimento Democrático Brasileiro. Do lado da oposição, foi muito mais difícil. Parlamentares até então filiados ao PSDPTB e alguns pequenos partidos que tinham escapado das primeiras degolas conseguiram, a muito custo, alcançar o número mínimo de senadores. Num primeiro momento, 23 comprometeram-se a integrar a oposição, mas com o tempo, completou-se a lista de deputados, enquanto os senadores confirmados se reduziram para 19.
Afinal, 120 deputados e 20 senadores concordaram em entrar no futuro partido, que nem esse nome podia ter. Era comentário de bastidores na época que o próprio presidente Castelo Branco havia convencido alguns senadores a se integrarem ao MDB para possibilitar o seu registro. Para o governo militar ainda envergonhado de abandonar os últimos resquícios de democracia, era importante ter um partido de oposição para não caracterizar a ditadura de partido único.
Na hora do batismo, Tancredo Neves levou a melhor, ao propor o termo Movimento – Ulysses Guimarães preferia Ação. E o Movimento Democrático Brasileiro constitui-se informalmente em 4 de dezembro de 1965, como oposição a Arena. A maior parte dos fundadores (cerca de 65% dos parlamentares), eram ex-integrantes do PTB, como Pedro Simon. O segundo contingente mais importante (cerca de 30% dos fundadores) eram políticos do PSD, como Tancredo Neves e Ulysses Guimarães. Uma pequena fração do partido, cerca de 5% dos fundadores, era de antigos membros da UDN, o partido político dos golpistas. E havia representantes de partidos menores, como Franco Montoro, do PDC.
O primeiro presidente do MDB foi um general, o senador pelo Acre, Oscar Passos. Filho do comerciante português Fortunato José Fernandes Passos e Ricardina Almeida Passos, estudou o primário e o ginasial no Ginásio Anchieta na capital gaúcha e depois partiu para o Rio de Janeiro onde ingressou na Escola Militar do Realengo e lecionou na Escola de Aperfeiçoamento do Estado-Maior. Na patente de capitão foi escolhido governador do então Território Federal do Acre pelo presidenteGetúlio Vargas com mandato de 30 de agosto de 1941 a 22 de agosto de 1942. Presidente do Banco Nacional da Borracha entre 1942/1943, optou por permanecer no Acre e lá iniciou sua carreira política ao ser eleito deputado federal pelo PTB em 1950, 1954 e 1958 e senador em 1962.
Em fevereiro de 1966, os emedebistas conseguiram retardar a eleição da mesa da Camara dos Deputados e se declararam em obstrução permanente. Era apenas um gesto simbólico, já que a Arena tinha maioria para aprovar o que o governo quisesse. O deputado Vieira de Mello, líder da oposição disse que a atitude era um protesto contra a "imposição da vontade totalitária do governo".
A Arena não tinha em Brasília os 205 deputados exigidos pelo regimento, para a votação e foi preciso convocar nova sessão.
O manifesto divulgado pelo MDB dizia que “a bancada governista, que encarna, na Camara dos Deputados, a vontade totalitária oriunda do Poder Executivo, rompeu compromisso assumido com a oposição, violentando princípios constitucionais e normas parlamentares, ao negar-lhe condições para participação e fiscalização dos trabalhos da casa.(...) “A bancada oposicionista, desde o primeiro momento, pautou sua conduta à luz da mais rigorosa ética, mantendo-se fiel aos entendimentos realizados. Não criou, não animou dissidências artificialmente formadas, nem com elas se comprometeu, ou delas pretendeu tirar qualquer proveito. Em face do lamentável procedimento da Arena, o Movimento Democrático Brasileiro deliberou, por aclamação unânime, não participar da farsa que constituiria a instalação de um partido único no comando da Câmara dos Deputados, medida preliminar, talvez, para o esvaziamento de qualquer candidatura presidencial não-originária do Palácio do Planalto. E resolveu, outrossim, protestando e reagindo contra este monopólio oligárquico dos instrumentos do poder, negar apoio efetivo ou tácito a qualquer de suas manifestações futuras, sustentando desta forma, firmemente, a bandeira da redemocratização e da plenitude da ordem constitucional em nosso país.
Na primeira eleição após o golpe, foi este o desempenho dos dois partidos, em pleitos marcados por um percentual elevado de votos nulos:
                   ARENA        MDB     NULOS
SENADO 44,7% 34,2% 21,2% CÂMARA 50,5% 28,4% 21% ASSEMBLEIAS 52,2% 29,2% 18,6%
Celia Soibelmann Melhem, autora de Política de Botinas Amarelas: O MDB-PMDB paulista de 1965-1988 assinala que durante um certo tempo, os emedebistas chegaram a imaginar que a organização não conseguiria nem continuar existindo:
“Já após as eleições parlamentares de 1966, apesar de o MDB não ter conseguido candidatos em várias localidades do interior, e mesmo comandando um agrupamento excepcionalmente eclético de políticos – boa parte deles forçados ao oposicionismo pelo golpe de 1964 – e com um partido com grande dificuldade de se estruturar minimamente, Lino de Matos avaliou que possibilidade de obter registro definitivo na Justiça Eleitoral. Creditava os fracassos à postura repressiva do governo, que promovera cassações até as vésperas do pleito para evidenciar a fragilidade da oposição e a inutilidade de votar nela. A soma de 25% de votos brancos e nulos (1.026.738 sufrágios) para senador em 1966, quando se elegeu o arenista Carvalho Pinto, atesta o êxito daquela estratégia dos militares. Além disso, houve 16,8% de abstensões. Nos primeiros momentos do pós-64, a engenharia política da caserna obteve a desejada oposição partidária frágil e descaracterizada, abrindo as urnas apenas para referendar lideranças da Arena, simular um apego à democracia e tranquilizar o Legislativo.”
O MDB só teve uma vitória expressiva no Rio de Janeiro, onde era controlado pelo adesista Chagas Freitas.
A Arena foi criada em grande parte com a participação de políticos da extinta União Democrática Nacional, de parte do PDS e de alguns pequenos partidos. Na primeira fase, que vai até o AI-5, de acordo com a historiadora Lucia Grinber, seus integrantes possuíam um projeto político de fato e orgulhavam-se de representarem o movimento que em 1964 tivera amplo apoio na classe média e nos meios de comunicação.
Aqui e acolá, os políticos da Arena insurgiam-se contra a interferência do regime sobre o cenário político. O presidente do partido, senador Daniel Krieger, chegou a renunciar em protesto contra a falta de peso da Arena nas decisões de governo. Voltou ao cargo a pedido do presidente Costa e Silva, mas logo adiante, na votação do pedido de licença para processar o deputado Marcio Moreira Alves, tentou de várias maneiras evitar o confronto entre os deputados e a determinação do regime de cassar o parlamentar. Krieger e outros 25 senadores mandaram um telegrama de protesto ao presidente, após a edição do AI-5.
O governo cassou emedebistas e arenistas e endureceu tanto o jogo que levou o experiente pessedista Amaral Peixoto a resumir assim o que acontecia:
“A Arena manda no Congresso e o governo manda na Arena.”
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Fernando Henrique Cardoso
FHC: "O mais significativo das demonstrações, como as de ontem, é a persistência do sentimento popular de que o governo, embora legal, é ilegítimo. Falta-lhe a base moral, que foi corroída pelas falcatruas do lulopetismo. Com a metáfora do boneco vestido de presidiário, a Presidente, mesmo que pessoalmente possa se salvaguardar, sofre contaminação dos malfeitos de seu patrono e vai perdendo condições de governar.
A esta altura, os conchavos de cúpula só aumentam a reação popular negativa e não devolvem legitimidade ao governo, isto é, a aceitação de seu direito de mandar, de conduzir. Se a própria Presidente não for capaz do gesto de grandeza (renúncia ou a voz franca de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional), assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de Lavajato. Até que algum líder com forca moral diga, como o fez Ulysses Guimarães, com a Constituição na mão, ao Collor: você pensa que é presidente, mas já não é mais".

Ex-presidente endurece discurso em mensagem e compara petista a Collor; petista Paulo Teixeira (SP) diz que falta grandeza a Fernando Henrique

POR FERNANDA KRAKOVICS E CRISTIANE JUNGBLUT
17/08/2015 13:49 / atualizado 17/08/2015 20:49

O ex-presidente da República Fernando Henrique - Jorge William / Agência O Globo

SÃO PAULO E BRASÍLIA - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso endureceu nesta segunda-feira o tom da crítica contra o governo Dilma Rousseff e o PT. Em mensagem publicada em redes sociais, o ex-presidente disse que persiste o “sentimento popular de que o governo, embora legal, é ilegítimo” e que a base moral do governo teria sido “corroída pelas falcatruas do lulopetismo”.

“Se a própria presidente não for capaz do gesto de grandeza (renúncia ou a voz franca de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional), assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de lavajato”, escreveu o ex-presidente.
Fernando Henrique menciona, no texto, o boneco do ex-presidente Lula vestido de presidiário, exibido nas manifestações em Brasília. Para ele, mesmo que Dilma “pessoalmente possa se salvaguardar”, seu governo “sofre contaminação dos malfeitos e seu patrono”, no caso, Lula, e “vai perdendo condições de governar”.
O ex-presidente diz, ainda, que “os conchavos de cúpula só aumentam a reação popular negativa e não devolvem legitimidade ao governo, isto é, a aceitação de seu direito de mandar, de conduzir”, numa menção à articulação do governo com o presidente do Senado, Renan Calheiros, por uma agenda positiva no Congresso como resposta à crise política.
Para FH, a desarticulação do governo persistirá “até que algum líder com força moral diga (a Dilma), como o fez Ulysses Guimarães, com a Constituição na mão, ao Collor: ‘você pensa que é presidente, mas já não é mais’”.
DEM APOIA FH
Com uma posição sempre mais radical do que o PSDB, o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), disse que concorda com o tom da nova declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que a presidente Dilma Rousseff deve renunciar ou fazer mea-culpa. Para Caiado, Dilma perdeu a "legitimidade" para governar e não tem conseguido dar respostas à crise.
— Estávamos certos: ela não tem legitimidade de se apresentar como presidente da República. Com essa declaração do Fernando Henrique eu concordo. É de alguém que estava na Avenida Paulista ontem — disse Caiado.
O líder do DEM disse que acompanhou a manifestação de domingo na cidade de São Paulo e que a população passou da revolta ao "desassossego com o futuro".
Como o PSDB, o discurso de Caiado é que o número de participantes não é o importante.
— Esse parâmetro é acessório. Houve uma mudança de foco desde a primeira manifestação: há um grau de ansiedade de ordem pessoal — disse Caiado.




PEDRO VENCESLAU E VALMAR HUPSEL FILHO - O ESTADO DE S.PAULO
20 Julho 2014 | 02h 02 - Atualizado: 20 Julho 2014 | 09h 47
Peemedebista tentou criar em 1992, ano de sua morte, legenda parlamentarista
Eram 16 horas do dia 8 de outubro de 1992, uma quinta-feira, quando o jurista Miguel Reale Júnior foi avisado por sua secretária que o deputado Ulysses Guimarães estava na linha. Atendeu de pronto pensando que se tratava de uma conversa de rotina, mas foi surpreendido com o que ouviu. "Reale, vou lhe contar uma coisa absolutamente sigilosa. Guarde o mais absoluto sigilo até terça-feira por volta do meio-dia. Estou indo para Angra dos Reis na casa do (ex-ministro) Renato Archer. Mas na próxima terça-feira, às nove da manhã, tenho encontro com o (presidente) Itamar (Franco). Vou lá dizer que estou saindo do PMDB."
A notícia veio seguida de uma recomendação. "Espero levar comigo 60 deputados. Comunique isso para o Fernando (Henrique Cardoso) e (Mário) Covas. Diga que pretendo constituir um grande partido parlamentarista, que não seja o PMDB nem o PSDB."

Ulysses Guimarães e Reale Júnior se encontram em Brasília: "informação absolutamente sigilosa"

Antes que o amigo e aliado assimilasse o que acabara de ouvir, o deputado fez uma última observação. "O Itamar é muito sensível. Se ele souber que algum dos outros souberam antes, ele vai criar problema. Mas quero que os outros saibam logo. Então, lá pelo meio-dia, já terei conversado com o presidente e você poderá falar com eles."
Por 22 anos, Reale Júnior tratou esse diálogo com discrição e só o revelou a poucos amigos em conversas reservadas. A morte trágica de Ulysses em 12 de outubro daquele mesmo ano, num acidente de helicóptero quando voltava de Angra, relegou o movimento para o escaninho da história.
A determinação de Ulysses tinha potencial para alterar significativamente o quadro partidário brasileiro daquele momento, avalia o jurista. "A tragédia foi de tal grandeza que esse fato se perdeu. Compreenda a excitação dele (Ulysses) de querer voltar de Angra mesmo contrariando o piloto, que não queria voar por causa do tempo. Ele tinha uma reunião no dia seguinte às 9h em Brasília e precisava pegar o avião às 7h." 
O deputado decidira deixar o partido do qual era um dos maiores símbolos em um momento de ebulição política. Naqueles dias de outubro, ele e Reale Júnior estavam imersos na formatação jurídica da frente que defenderia o regime parlamentarista no plebiscito que seria realizado no ano seguinte. Nos meses anteriores, Reale Júnior fora o principal responsável por redigir a petição do impeachment de Fernando Collor de Mello. Ulysses foi um dos primeiros a ler o texto.
Isolamento. Apesar de ter sido um dos maiores símbolos da campanha por eleições diretas e ter presidido a Assembleia Constituinte, Ulysses vivia um momento delicado de sua carreira política. Derrotado na eleição presidencial de 1989, perdera também o comando do PMDB para Orestes Quércia. Isso depois de ver seus antigos aliados deixarem a legenda em 1988 para formar uma nova sigla, o PSDB.
"O potencial do novo partido pensado por Ulysses era imenso. Além do fortalecimento extraordinário da Frente Parlamentarista, haveria uma grande surpresa nacional. Só o fato dele sair (do PMDB) seria um fato estrondoso", diz Reale Júnior.
O jurista, que naquela altura já havia deixado o PMDB para entrar no PSDB, conta que a ideia era que da união do grupo de Ulysses com os tucanos surgisse uma nova legenda. "Não sabemos qual seria a reação do Fernando (Henrique Cardoso), do Mário (Covas) e do (José) Serra a essa proposta. Mas eles provavelmente iriam aceitar. Havia identidade entre eles, além de uma simpatia pessoal muito grande."
Questionado pelo Estado, o ex-governador José Serra confirmou a tese de Reale Júnior. "Eu estava muito aberto a isso. O PSDB nasceu como um partido parlamentarista. O Ulysses tinha um tamanho tal, que podia se justificar a criação de um nova força que unisse a gente", disse o tucano, atual candidato ao Senado. A proposta, de fato, tinha grande potencial. Ulysses levaria com ele dirigentes peemedebistas de sua área de influência no Rio Grande do Sul e em Estados do Norte e Nordeste, o que enfraqueceria o partido comandado por Quércia na época.
Reale evita falar sobre a virtual lista de peemedebistas que estariam na contabilidade de Ulysses. Mas se arrisca a citar alguns nomes: Genebaldo Correia, da Bahia, Ibsen Pinheiro e Pedro Simon, do Rio Grande do Sul, e Cid Carvalho, do Maranhão. O senador Pedro Simon disse ao Estado que nunca soube do movimento de Ulysses. A ideia, segundo Reale, era justamente essa: evitar que a história se espalhasse por Brasília e contaminasse o projeto. Mas a confiança da debandada era total. Questionado se aceitaria o convite, Simon sinaliza que sim. "Eu aceitaria o parlamentarismo de corpo e alma. O PMDB do Rio Grande do Sul estava fechado com o Ulysses", diz o senador de 84 anos, crítico dos rumos de sua legenda e que, recentemente, anunciou que não vai disputar novo mandato.
Com a morte de Ulysses, o comando da Frente Parlamentarista passou para o paranaense José Richa, que não tinha o mesmo carisma do "Senhor Diretas". Apoiado por Luiz Inácio Lula da Silva, Paulo Maluf e Leonel Brizola, todos pré-candidatos ao Palácio do Planalto, a frente presidencialista bateu na tecla de que só aquele regime permitiria que o povo realizasse o sonho de votar para presidente. Venceram o plebiscito com ampla margem. Enquanto PT e PSDB se revezaram no poder, o PMDB beneficiou-se de sua capilaridade e tornou-se a maior e mais influente sigla brasileira. Quase sempre dando apoio aos governos. 

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Reportagem Publicada em 22 de abr de 2016

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