sábado, 29 de outubro de 2016

Caleidoscópio da razão

Do tesouro de Bresa
                    

“Malba Tahan é um mistério complexo e, como tal, desafia interpretações que correm o risco de serem redutoras diante da grandeza de sua obra e da singularidade de sua investigação”. Regina Machado


Houve outrora, na Babilônia, um pobre e modesto alfaiate chamado Enedim, homem inteligente e trabalhador, que não perdia a esperança de vir a ser riquíssimo.
Como e onde, no entanto, encontrar um tesouro fabuloso e tornar-se, assim, rico e poderoso?
Um dia, parou na porta de sua humilde casa um velho mercador da Fenícia, que vendia uma infinidade de objetos extravagantes.
Por curiosidade, Enedim começou a examinar as bugigangas oferecidas, quando descobriu, entre elas, uma espécie de livro de muitas folhas, onde se viam caracteres estranhos e desconhecidos.
Era uma preciosidade aquele livro, afirmava o mercador, e custava apenas três dinares.
Era muito dinheiro para o pobre alfaiate, razão pela qual o mercador concordou em vender-lhe o livro por apenas dois dinares.
Logo que ficou sozinho, Enedim tratou de examinar, sem demora, o bem que havia adquirido.
E qual não foi sua surpresa quando conseguiu decifrar, na primeira página, a seguinte legenda:
"O segredo do tesouro de Bresa."
Que tesouro seria esse?
Enedim recordava vagamente de já ter ouvido qualquer referência a ele, mas não se lembrava onde, nem quando.
Mais adiante decifrou:
"O tesouro de Bresa, enterrado pelo gênio do mesmo nome entre as montanhas do Harbatol, foi ali esquecido, e ali se acha ainda, até que algum homem esforçado venha encontrá-lo."
Muito interessado, o esforçado tecelão dispôs-se a decifrar todas as páginas daquele livro, para apoderar-se de tão fabuloso tesouro.
Mas, as primeiras páginas eram escritas em caracteres de vários povos, o que fez com que Enedim estudasse os hieróglifos egípcios, a língua dos gregos, os dialetos persas e o idioma dos judeus.
Em função disso, ao final de três anos Enedim deixava a profissão de alfaiate e passava a ser o intérprete do rei, pois não havia na região ninguém que soubesse tantos idiomas estrangeiros.
Passou a ganhar muito mais e a viver em uma confortável casa.
Continuando a ler o livro, encontrou várias páginas cheias de cálculos, números e figuras.
Para entender o que lia, estudou matemática com os calculistas da cidade e, em pouco tempo, tornou-se grande conhecedor das transformações aritméticas.
Graças aos novos conhecimentos, calculou, desenhou e construiu uma grande ponte sobre o rio Eufrates, o que fez com que o rei o nomeasse prefeito.
Ainda por força da leitura do livro, Enedim estudou profundamente as leis e princípios religiosos de seu país, sendo nomeado primeiro-ministro daquele reino, em decorrência de seu vasto conhecimento.
Passou a viver em suntuoso palácio e recebia visitas dos príncipes mais ricos e poderosos do mundo.
Graças ao seu trabalho e ao seu conhecimento, o reino progrediu rapidamente, trazendo riquezas e alegria para todo seu povo.
No entanto, ainda não conhecia o segredo de Bresa, apesar de ter lido e relido todas as páginas do livro.
Certa vez, então, teve a oportunidade de questionar um venerando sacerdote a respeito daquele mistério, que sorrindo esclareceu:
- O tesouro de Bresa já está em seu poder, pois graças ao livro você adquiriu grande saber, que lhe proporcionou os invejáveis bens que possui. Afinal, Bresa significa "saber"...
Com estudo e trabalho pode o homem conquistar tesouros inimagináveis. O tesouro de Bresa é o saber, que qualquer homem esforçado pode alcançar, por meio dos bons livros, que possibilitam "tesouros encantados" àqueles que se dedicam aos estudos com amor e tenacidade.
Enviada por: Edeli Arnaldi





Profª Drª Juraci Conceição de Faria
Instituto Malba Tahan/FE-Unicamp
INTRODUÇÃO
O universo literário de Malba Tahan é um verdadeiro caleidoscópio e, como tal, a cada movimento de análise e compreensão de suas obras, uma infinidade de desenhos regulares vão sendo definidos e multiplicados entre os espelhos da trajetória histórica do professor de matemática, escritor e conferencista Júlio César de Mello e Souza (1895-1974). Buscando trazer à luz a interdisciplinaridade presente nas histórias infantis da coleção Malba Tahan Conta Histórias, publicadas pela Editora Brasil-América Ltda em 1968, redirecionamos nosso olhar para uma questão central de nossas pesquisas: em plena década de 60, seria a intenção de Malba Tahan contrapor-se ao momento educacional brasileiro, fortemente marcado pela disciplinaridade, e explorar distintas esferas do saber em suas histórias destinadas ao público infantil? Tendo como fundamento teórico a prática educativa interdisciplinar de Ivani Fazenda, este artigo tem a intenção de apresentar uma breve história da vida do autor, contextualizar a literatura infantil de Malba Tahan, analisar o diálogo interdisciplinar presente nos seis volumes desta coleção (A Girafa Castigada; O Rabi, o Cocheiro e os Anjos de Deus; A Pequenina Luz Azul; Os Sonhos do Lenhador; O Tesouro de Bresa e A História da Onça que queria acordar cedo) e, quem sabe, apresentar algumas considerações para a prática de leitura e escrita das crianças do nosso tempo.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do ponto de vista interdisciplinar, as histórias infantis de Malba Tahan podem ser comparadas a um caleidoscópio. Sabemos que a palavra caleidoscópio vem do grego (Kalos quer dizer beleza, eidos significa forma e skopien é olhar), ou seja, um objeto ótico que nos faz ver belas formas. E as seis histórias presentes na Coleção Malba Tahan Conta Histórias revelam que o universo literário deste autor é um verdadeiro caleidoscópio e, como tal, a cada movimento de análise e compreensão de suas obras, uma infinidade de desenhos regulares vão sendo definidos e multiplicados entre os espelhos da prática educativa de quem as vê, de como as vê, de para quem elas serão lidas, contadas ou musicadas.
Diante da beleza desta obra, há uma infinidade de formas das histórias infantis de Malba Tahan serem utilizadas em sala de aula. Como num caleidoscópio, as histórias giram, se organizam e se reorganizam ao toque sensível das mãos do educador que nelas podem encontrar belas estratégias de ensinar não só a leitura e a escrita como também valores éticos indispensáveis à sociedade do nosso tempo: verdade, justiça, sinceridade, fidelidade, amizade, entre outros.
 É tempo de ver que o trabalho em sala de aula se revitaliza quando propiciamos em nossas ações educativas o diálogo entre as disciplinas. A literatura infantil de Malba Tahan é apenas uma proposta: um caleidoscópio de histórias, um caleidoscópio de conhecimentos, um verdadeiro caleidoscópio interdisciplinar. A reedição desta coleção poderia subsidiar práticas efetivas e instigantes de saberes para as crianças do nosso tempo.
A guisa de conclusão, outros olhares poderiam ter sido explicitados, entretanto apóio-me em Regina Machado (1997: 52) para instigar outras leituras e outras análises possíveis da Coleção Malba Tahan Conta Histórias: “Malba Tahan é um mistério complexo e, como tal, desafia interpretações que correm o risco de serem redutoras diante da grandeza de sua obra e da singularidade de sua investigação”.


O olhar de Barbosa





"O recado que deixo aos jovens é que eles procurem estudar. Se ele estudar hoje, ele vai saber como viver amanhã. É o que acontece com nós negros. Eu não sou contra o futebol, o samba, a cachaça, a capoeira. Mas não se pode deixar que este rótulo se sobreponha a um livro debaixo do braço. Para o amanhã, é necessário que o cidadão tenha a sua bagagem de estudos. Eu acho que a juventude vai ser o nosso futuro do desenvolvimento do país." Ivan Barbosa





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