quarta-feira, 13 de setembro de 2017

De JF a J&F

 Os Poderes de J & F

Conjugando o passado de ir

Eu fu Tu fu Ele fu Nois fumu Vois foru Eles furu

JF& J&F
Eu fu fu Tu fu Ele fu Nós fumo Vós vai Eles furam

As que existem e sobrevivem no papel

Ventania
Reflexos
Aterrissage

Biografia
Biografia

Antologia

Pedro Nava


Ventania

        Pro Mário


O vento veio maluco lá do alto do Bonfim
e veio chorando da tristura do cemitério.


Zuniu na praça do mercado
assuviou as mulatas avenida do comércio
e mexeu na saia delas.
Arrancou folha das árvores
poeira sungou do chão
depois virou
                 soprou
                           correu
                                      danou
e entrou feito uma carga na avenida Afonso Pena,


O obelisco cortou ele pelo meio
mas ele foi avuando
e os fios da C.E.V.U. como cordas de viola
vibraram dum som longo
que cobriu Belo Horizonte feito um lamento.


O vento passou desmandado no Cruzeiro
saiu pro campo dobrou a mata
mas de repente
sua disparada pára na parede Serra do Curral
e o bicho stopa mas sapeca no morro um sopapo
que estrala que nem ginipapo
que mão raivosa
chispasse num muro curo..


Co-nhe-ceu papudo?


1926
In: Revista Verde, Cataguases, ano 1, n.3

Reflexos

Poça

Pedra

               Tibloung
                  blong

       A água espelho rachado
       salpica pingos que
       são pedras
                       preciosas
       que são vidro
       são aço
       são água

            Pingo
                    pingou
       a floculação de bolhas subiu
       a superfície espelho estalou
                    bolas
                            borbulhando

                    CONCÊNTRICOS

                               anel
                            os anéis
                          mais anéis
       amassando                    alongando

       uma paisagem que se desloca
                                                    centrífuga
                                         tremida
                                    sa-cu-di-da

                     Brilhos
                               prata
                                      coriscos
                                                   riscos
                                                            prismas

       Telhados moles aplastam-se misturando-se
       às janelas molambos em
       oscilações tombos
                                   b a m b o s
       rolando
       no reflexo imprevisto

                     Onda
                             margem
                                         schlapp
                                                     plap
                                                            plaff

                     O círculo
                         abre
                     afasta-se
                         fecha
                                   vai
                         vem
                     com preguiça
                  mo - le - men - te

       Os telhados bêbados
                                      tentaculisam cumieiras
                                                                        as chaminés
                                                                  virguladas
                                      são serpentes
       que se imobilizam
                                    devagar
                                                  devagar

                                      O polvo de ouro recolhe os braços
                                                        desemaranha-os
                                                      e como uma pasta
                                                           resume-se
                                                              bola
                                                         SOL

       Janelas

                                      parando

                      parando

       paradas

       pregadas

       no espelho achatado das águas pesadas.

Aterrissage


Um risco nos íngremes
e queda vertical de reticência de sóis.


Brilhos mica,
facetas duras,
multiplicando a paisagem
como os olhos simultâneos de um inseto


Tropicão, trambolhão
                      salto
                        pulo
                         rodopio
e a bola, espirala, resvala, rebola,
                        encarola,
                       desenrola


e de novo
reta como uma bola,


           rola...


ROLA
e voa e vai varando vertiginosa o vácuo vago
e assoviiiia fino no espaço oco...


UMA PEDRA ROLOU PELA ENCOSTA DA MONTANHA.


In: Pasta 72: Arquivo de Mário de Andrade. Instituto de Estudos Brasileiros - IEB/USP


Biografia


Natural de Juiz de Fora. Nasceu em 5 de Junho de 1903. Fez os estudos secundários no Internato do Colégio Pedro II, e em seguida cursou a Faculdade de Medicina, colando grau em 1927. Como Joaquim Cardoso, sempre manifestou gosto e talento para a pintura e para a poesia, mas só em raras ocasiões publicou, em revistas literárias, algumas de suas produções. Fez parte do grupo mineiro que, em 1924, lançou, em Belo Horizonte A Revista, primeiro órgão do movimento modernista no Estado de Minas Gerais. Faleceu no Rio de Janeiro, em 13 de Maio de 1984.

      Antologia de Manuel Bandeira


Parte II

O Modernismo

Pedro Nava
O defunto

O defunto


   Quando morto estiver meu corpo,
   Evitem os inúteis disfarces,
   Os disfarces com que os vivos,
   Só por piedade consigo,
   Procuram apagar no Morto
   O grande castigo da Morte.


   Não quero caixão de verniz
   Nem os ramalhetes distintos,
   Os superfinos candelabros
   E as discretas decorações.


  Quero a morte com mau-gosto!


   Dêem-me coroas de pano.
   Dêem-me as flores de roxo pano,
   Angustiosas flores de pano,
  Enormes coroas maciças,
   Como enormes salva-vidas,
   Com fitas negras pendentes.


   E descubram bem minha cara:
   Que a vejam bem os amigos.
   Que não a esqueçam os amigos.
   Que ela ponha nos seus espíritos
   A incerteza, o pavor, o pasmo.
 E a cada um leve bem nítida
   A idéia da própria morte.


   Descubram bem esta cara!


  Descubram bem estas mãos.
   Não se esqueçam destas mãos!
   Meus amigos, olhem as mãos!
   Onde andaram, que fizeram,
   Em que sexos demoraram
   Seus sabidos quirodáctilos?


   Foram nelas esboçados
   Todos os gestos malditos:
   Até os furtos fracassados
    E interrompidos assassinatos.


   — Meus amigos! olhem as mãos
   Que mentiram às vossas mãos...
   Não se esqueçam! Elas fugiram
   Da suprema purificação
   Dos possíveis suicídios.


   — Meus amigos, olhem as mãos!
   As minhas e as vossas mãos!


   Descubram bem minhas mãos!


   Descubram todo o meu corpo.
   Exibam todo o meu corpo,
   E até mesmo do meu corpo
   As partes excomungadas,
   As sujas partes sem perdão.


   — Meus amigos, olhem as partes...
   Fujam das partes,
   Das punitivas, malditas partes ...


   E, eu quero a morte nua e crua,
   Terrífica e habitual,
   Com o seu velório habitual.


   — Ah! o seu velório habitual!


   Não me envolvam em lençol:
   A franciscana humildade
   Bem sabeis que não se casa
   Com meu amor da Carne,
   Com meu apego ao Mundo.


   E quero ir de casimira:
   De jaquetão com debrum,
   Calça listrada, plastron...
   E os mais altos colarinhos.


   Dêem-me um terno de Ministro
   Ou roupa nova de noivo ...
   E assim Solene e sinistro,
   Quero ser um tal defunto,
   Um morto tão acabado,
   Tão aflitivo e pungente,
   Que sua lembrança envenene
   O que resta aos amigos
   De vida sem minha vida.


   — Meus, amigos, lembrem de mim.
   Se não de mim, deste morto,
   Deste pobre terrível morto

   Que vai se deitar para sempre
   Calçando sapatos novos!
   Que se vai como se vão


   Os penetras escorraçados,
   As prostitutas recusadas,
   Os amantes despedidos,
   Como os que saem enxotados
   E tornariam sem brio
   A qualquer gesto de chamada.


   Meus amigos, tenham pena,
   Senão do morto, ao menos
   Dos dois sapatos do morto!
   Dos seus incríveis, patéticos
   Sapatos pretos de verniz.
  Olhem bem estes sapatos,
   E olhai os vossos também.




         Pedro Nava - O defunto


A cidade que existe e sobrevive no papel
Nos seis livros que escreveu como memorialista, Pedro Nava deixou marcado no papel um amplo painel da sociedade brasileira e também a ligação com sua terra natal, Juiz de Fora, a partir de suas experiências e das histórias que ouviu nas primeiras décadas de vida. Tantos são os relatos que é possível, através deles, traçar […]


Por Carime Elmor
04/06/2017 às 07:00hs - Atualizada 03/06/2017 às 15:09hs


Ilma Salgado uniu trechos de Nava a textos seus para traçar a história de Juiz de Fora em obra para presentear a cidade em seu aniversário (Foto: Fernando Priamo)

Nos seis livros que escreveu como memorialista, Pedro Nava deixou marcado no papel um amplo painel da sociedade brasileira e também a ligação com sua terra natal, Juiz de Fora, a partir de suas experiências e das histórias que ouviu nas primeiras décadas de vida. Tantos são os relatos que é possível, através deles, traçar um panorama histórico, político, urbanístico, cultural, social, religioso e de costumes. É o que fez a escritora, professora e pesquisadora Ilma Salgado. Com outros cinco livros dedicados ao escritor morto em 1984, aos 80 anos, Ilma lança “Juiz de Fora apresentada por Pedro Nava”, em que reúne trechos de obras do próprio Nava, além de citações a outros autores locais, para recriar uma cidade que não existe mais, mas que foi tão próxima do escritor, que completaria 114 anos do seu nascimento nesta segunda-feira (5).
De acordo com Ilma, o livro pode ser considerado “uma edição ampliada e melhorada” do trabalho que lançou de forma independente em 2003, por ocasião do centenário de nascimento de Pedro Nava. Na ocasião, foram apenas cem exemplares impressos. “Fui amadurecendo durante os anos a ideia de fazer uma edição maior, incluindo alguns aspectos e tirando outros. Retomei o projeto em 2012 e modifiquei o que era preciso até conseguir a aprovação pela Lei Murilo Mendes no ano passado”, explica Ilma, destacando que isso facilitou para que a publicação saísse de forma tão rápida. “É também um presente que quis dar para Juiz de Fora em seu aniversário.”
Ilma pinçou histórias e memórias de três livros de Nava: “Baú de Ossos” (1972), “Balão Cativo” (1973) e “Galo-das-Trevas” (1981), entremeadas por textos da própria escritora, ajudando a reforçar o contexto histórico-político-social-econômico da prosa de Pedro Nava, além de citações aos trabalhos de pesquisadores como Riolando Azzi, Vanda Arantes do Vale (que também escreve a orelha do livro), Luiz Antonio Valle Arantes, entre outros.
“O próprio Nava dizia que o memorialista é o híbrido anfíbio de historiador e ficcionista. A partir dessa afirmação, adicionei aos textos dele informações da historiografia tradicional de notórios historiadores da cidade. O Pedro atuava como espectador e ator dessa história, muito do que ele apresenta são histórias de varanda que ouvia da família”, diz Ilma Salgado, que adiciona ao trabalho fotos antigas da cidade, em especial de lugares onde Pedro Nava morou e frequentou ou que cita em suas memórias.
Pelas curvas do tempo
Ao misturar a memória histórica, afetiva e os registros oficiais, Ilma preferiu não seguir uma linha cronológica rígida, ainda que os escritos de Nava consigam abranger um período que vai de 1840 a 1940. “Juiz de Fora apresentada por Pedro Nava” é dividida por tópicos, entre eles “Saúde”, “Os primórdios”, “Henrique Halfeld”, “As elites e a política”, misturando história e ficção em passagens tanto pitorescas quanto reveladoras.
Em “Os primórdios”, por exemplo, fala-se do Caminho Novo, da polêmica sobre o verdadeiro fundador da cidade e da importância de Henrique Halfeld, que ganha um capítulo só para si – afinal, ele foi casado com a avó de Pedro Nava, que após ficar viúva casou-se com aquele que se tornou o avô do escritor. “O Pedro, inclusive, foi quem salvou os documentos do Henrique Halfeld, que seriam jogados no lixo. Ele dizia que sem essa papelada não haveria o ‘Baú de Ossos'”, destaca.
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Outro tópico, “As etnias”, ajuda a explicar as diferenças socioeconômicas que temos até hoje e mostra o quanto o racismo e o ranço escravocrata continuam entranhados em nossa cultura. Além de falar da imigração alemã e italiana, Pedro Nava selecionou trechos de suas memórias em que retrata o tratamento cruel que sua avó, Inhá Luísa, dispensava às empregadas negras, semelhante ao do período da escravidão. Quanto às religiões, ele cita a forte influência que Dom Antônio Ferreira Viçoso, bispo de Mariana, tinha sobre Juiz de Fora quando a cidade pertencia à sua diocese.
A mágoa que ficou e a cidade ‘barulhenta’
Nem todas as lembranças, porém, são positivas. Em seu livro, Ilma resgata a mágoa velada que Pedro Nava – já utilizando em seus livros o heterônimo Egon Barros da Cunha – nutria por não ter conseguido emprego como médico na Santa Casa. “Nessa época, a cidade já tinha sua diocese, e ele descobriu que precisaria ter as graças da Igreja para ser contratado. Mesmo sendo integrante da Sociedade de Medicina e Cirurgia e filho de médico (José Pedro da Silva Nava, que teve atuação destacada na cidade), ele voltou para Belo Horizonte.”
Também merecem destaque no livro os logradouros, talvez a parte física-visual que mais se modificou com o passar dos anos. Ilma reúne histórias e observações feitas por Pedro Nava a respeito de diversas vias, entre as quais a Rua Direita (atual Avenida Barão do Rio Branco), local em que nasceu e que antigamente tinha início no Largo do Riachuelo. Um exemplo das observações feitas por ele é em relação à Rua Halfeld (antiga Rua Califórnia, projetada em 1856). “Para ele, a Halfeld era a linha divisória da cidade. Do lado esquerdo ficava a população mais liberal, enquanto o outro lado era marcado pelos conservadores.” História pitoresca, se pensarmos nas diferenças entre a agitação do Centro nos dias atuais e a JF pacata do século XIX, é a que Pedro Nava relata a respeito da decisão de sua avó de deixar a Rua Direita devido à instalação de duas linhas de bondes puxadas por tração animal, que a incomodavam devido à “barulhada”. A solução? Mudar-se para a esquina da Rua Imperatriz (atual Marechal Deodoro) com a Santo Antônio.


Cadeira e máquina de escrever de Pedro Nava estão na Biblioteca Comunitária Pedro Nava (Foto: Marcelo Ribeiro)

Para Ilma Salgado, o livro consegue mostrar a admiração que Pedro Nava tinha por sua terra natal, apesar da mágoa aparentemente jamais curada por não ter conseguido o emprego na Santa Casa. “Há no final do livro uma entrevista concedida por ele em 1980 que é possível ver o amor que tinha por Juiz de Fora, mas nada meloso, romântico. Falava das qualidades, mas reconhecia seus defeitos”, aponta. “Acredito que ele sempre teve essa capacidade de mostrar a trajetória de sua terra com uma visão histórico-literária, e é preciso que as pessoas saibam que havia uma pessoa preocupada com nossa história”, acrescenta Ilma, que já doou o livro para mais de cem escolas da cidade.
Memorabilia
A famosa “cadeira fantasma” e a máquina de escrever que pertenceram a Pedro Nava aguardam o final das reformas da Biblioteca Comunitária Pedro Nava, no Monte Castelo, para voltarem à visitação pública. Segundo o presidente da Associação de Moradores do Monte Castelo, Marcelo Oliveira Palomino, isso deve acontecer em agosto. “Vamos realizar alguns eventos para arrecadar fundos para terminas as obras, e aí todos poderão visitar o memorial que construímos para o Pedro Nava”, diz Marcelo.

http://tribunademinas.com.br/noticias/cultura/04-06-2017/a-cidade-que-existe-e-sobrevive-no-papel.html





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